PLEONASMO EM ORAÇÃO SUBORDINADA

Quando se fala em pleonasmo, ocorre-nos logo as expressões "subir para cima" e "descer para baixo". É claro que, indo um pouco adiante, chega-se a outras, como "rio fluvial", hemorragia de sangue", "encarar de frente", etc.

Mas ultimamente tenho meditado nesse vício de linguagem e convencido fiquei que tal coisa pode ocorrer também numa oração subordinada.

Lembro-me de um caso acontecido comigo.

Quando morava no Rio de Janeiro, trabalhei alguns anos em várias editoras. Numa delas, meu turno era das 8 h da manhã às 2 h da tarde. Não sendo-me conveniente ir embora àquela hora, pois lá pelas 4 h eu teria aulas de música numa escola próxima, eu recolhia-me para os fundos da empresa (uma casa na Rua Sorocaba, que acabou sendo demolida para dar lugar a um prédio) para dormir um pouco naquele depósito de livros encalhados. Deitava-me sobre um monte de papelão e logo pegava no sono profundo. Mas às vezes acontecia que surgia um serviço urgente, algo para datilografar ou uma revisão de texto, e não havia outro funcionário naquela hora. Aí vinha o meu chefe acordar-me para "dar uma mão" e fazer aquele trabalho extra. Eu sentia-me contrariado por ser tirado de meu sono e dizia assim:

- Não me acorde quando estou dormindo, cara!

O rapaz sorria e respondia:

- Mas eu só posso te acordar quando você tá dormindo. Quando você tá acordado, não posso te acordar.

E a frase ficou-me na cabeça. Não temos aí um pleonasmo?

Veja: "Não me acorde quando estou dormindo". Não teríamos uma redundância na frase "quando estou dormindo"?

Poderíamos procurar outros exemplos, como:

Ele passou mal e vomitou o que havia comido. "o que havia comido" é outra oração subordinada. Seria suficiente dizer:

Ele passou mal e vomitou.

Por enquanto ficamos nisso, mas acho que a questão poderia merecer uma abordagem mais profunda.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 28/03/2014
Reeditado em 28/03/2014
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