ALGUMAS DÚVIDAS (LÍNGUA PORTUGUESA)
Manter
Do Prof. Luís C. B. S., de Belo Horizonte:
__«Manter que é?»__
Na ace[p]ção corrente, é o mesmo que conservar, ou somente alimentar-se; mas lá para Angola, designa «contrair matrimónio», «iniciar uma relação conjugal», «arranjar marido ou mulher»; e, em termos de gíria, é o mesmo que calmar.
Mas há calão que não soa mal: quando anunciam a Pedro que o tio fanqueiro lhe vai manter o stress, porque depositou muita “cumbu” ou “bunfunfa” na conta, até os olhos se lhe riem!
Pudera!
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Secção
De Eduardo L., de Lisboa:
__«Secção deve ler-se como sessão?» __
Em secção o “e” é aberto, por influencia do primeiro “c” imediato, ouvindo-se os dois “cc”, na pronúncia normal: sé-k-ção, embora a tendência seja para se tornar nulo na pronúncia o primeiro “c”, como já se observa em acção, refracção, intersecção…
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Acto
Coisa da Constância M. S.:
__«Seria pior se o povo escrevesse “acto”, em vez de “ato”, não seria?» __
As CONSOANTES MUDAS: empregam-se em palavras, para abrir a vogal precedente, e nas derivadas. Exs.: acção, acionista, carácter, característica; acto, actual, etc.
N.B.:
O Novo Acordo Ortográfico privilegia, de certo modo, o critério fonético, em desfavor do critério etimológico. É o que sucede com a supressão, do lado lusoafricano, das chamadas consoantes mudas em palavras como “ato” (e não “acto”), “direção” (e não “direcção”), “ótimo” (e não óptimo), etc. Esta supressão, há muito consagrada do lado brasileiro, facilita a aprendizagem e o ensino da ortografia nas escolas (João Malaca Casteleiro e Pedro Dinis correia, O novo acordo ortográfico – O que vai mudar na ortografia do português, Texto, 2009, 4.ª ed., Lisboa, p. 5).
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ONU
Pergunta de um Carioca:
3.º __«Devo pronunciar ÔNU ou ONÚ?» __
No Brasil, só se pronuncia ÔNU; em Portugal, embora geralmente se pronuncie também assim, há gente douta que prefere ONÚ, e justifica-se ou, antes, é esta a pronúncia exa[c]ta.
Observação:
Nem sempre uma instituição é conhecida pela mesma sigla em Portugal e no Brasil. No Brasil, por exemplo, denomina-se OTAN (= Organização do Tratado do Atlântico Norte) o organismo que em Portugal se chama NATO (= North Altantic Treaty Organization), por ter-se aqui vulgarizado a sigla inglesa (Celso Cunha e Luís F. Lindley Cintra, Breve Gramática do Português Contemporâneo (versão abreviada da Nova Gramática do Português Contemporâneo), p. 86.)
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Acento grave
Evandra A. S. Lótus hesitou sobre se seria bem portuguesa a seguinte frase, que se lhe deparou num jornal angolano:
__«A circulação rodoviária em Luanda é bastante critica, devido “a a” degradação das vias e uma sinalização que agora começa a dar sinais de melhorias, o que cria um impacto negativo caracterizado por uma visível falta de serviços públicos de transportes, algo que é generalizado ao longo do tráfego urbano de Luanda.»__
Tem razão em hesitar; e mais razão terá em repudiar aquela frase, como estranha à língua portuguesa e peculiar ao… Em português, escrever-se-ia __« A circulação rodoviária em Luanda é bastante critica, devido à… ».
O acento grave existe justamente para evitar o uso de dois aa. Mas jornalista angolano ainda não sabe disso…
O receio de errar no uso do acento grave, indicador da crase, é tão grande, que jornalista angolano prefere escrever assim: (…) devido a a …(…).
Quando escrevemos à, subentendemos a reunião da preposição a com o artigo a; e como, em ortoépia, dois aa fechados produzem um aberto, deixaram há muito de se escrever separados e representam-se simplesmente por à.
Observações.
1.ª Ao sul do Brasil é vulgar abrirem-se as vogais átonas a, e, o, por isso a minha amiga A. S. P. escreverá a preposição a conforme a pronúncia, e por isso lhe sobrepôs o acento agudo.
2.ª Na escrita culta, a preposição a não tem sinal algum diacrítico, porque a pronúncia normal lhe dá modulação fechada, (â).