NÍVEIS DE LINGUAGEM - LP I - 3º ANO - 2013

ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO “JULIÃO BERTOLDO DE CASTRO”

DIRETORA: PROFª. JOSIANE ROSA DA CUNHA

DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA

PROFESSOR: MOREIRA

SÉRIE: 3ª TURMA: _____

ALUNO (A): _______________________________________________________

NÍVEIS DE LINGUAGEM

A língua, bem como os níveis da linguagem, pertence a todos os membros de uma comunidade e é uma entidade viva em constante mutação. Novas palavras são criadas ou assimiladas de outras línguas, à medida que surgem novos hábitos, objetos e conhecimentos. Os dicionários vão incorporando esses novos vocábulos (neologismos), quando consagrados pelo uso. Atualmente, os veículos de comunicação audiovisual, especialmente os computadores e a internet, têm sido fonte de incontáveis neologismos — alguns necessários, porque não havia equivalentes em Português; outros dispensáveis, porque duplicam palavras existentes na linguagem. O único critério para sua integração na língua é, porém, o seu emprego constante por um número considerável de usuários.

De fato, quem determina as transformações lingüísticas e os níveis de linguagem é o conjunto de usuários, independentemente de quem sejam eles, estejam escrevendo ou falando, uma vez que tanto a língua escrita quanto a língua oral apresentam variações condicionadas por diversos fatores: regionais, sociais, intelectuais etc.

“O movimento de 1922 não nos deu — nem nos podia dar — uma ‘língua brasileira’, ele incitou os nossos escritores a concederem primazia absoluta aos temas essencialmente brasileiros [...] e a preferirem sempre palavras e construções vivas do português do Brasil a outras, mortas e frias, armazenadas nos dicionários e nos compêndios gramaticais.” (Celso Cunha)

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

Vinha da boca do povo na língua errada do povo

Língua certa do povo

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil

(Manuel Bandeira)

Embora as variações linguísticas e os níveis da linguagem sejam condicionados pelas circunstâncias, tanto a língua falada quanto a língua escrita cumprem sua finalidade, que é a comunicação. A língua escrita obedece a normas gramaticais e será sempre diferente da língua oral, mais espontânea, solta, livre, visto que acompanhada de mímica e entonação, que preenchem importantes papéis significativos. Mais sujeita a falhas, a linguagem empregada coloquialmente difere substancialmente do padrão culto, o que, segundo alguns linguistas, criou no Brasil um abismo quase intransponível para os usuários da língua, pois se expressar em português com clareza e correção é uma das maiores dificuldades dos brasileiros: “No português do Brasil, a distância entre o nível popular e o nível culto ficou tão marcada que, se assim prosseguir, acabará chegando a se parecer com o fenômeno verificado no italiano ou no alemão, por exemplo, com a distância entre um dialeto e outro.” (Evanildo Bechara, Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade?).

Com base nessas considerações, não se deve reger o ensino da língua pelas noções de certo e errado, mas pelos conceitos de adequado e inadequado, que são mais convenientes e exatos, porque refletem o uso da língua nos mais diferentes contextos. Não se espera que um adolescente, reunido a outros em uma lanchonete, assim se expresse: “Vamos ao shopping assistir a um filme”, mas se aceita: “Vamos no shopping assistir um filme”. Não seria adequado a um professor universitário assim se manifestar: “Fazem dez anos que participo de palestras nesta egrégia Universidade, nas quais sempre houveram estudantes interessados”.

Escrever conforme a norma culta — que não representa uma camisa-de-força, mas um tesouro das formas de expressão mais bem cultivadas da língua — é um requisito para qualquer profissional de nível universitário que se pretenda elevar acima da vala comum de sua profissão. O domínio eficiente da língua, em seus variados registros e em suas inesgotáveis possibilidades de variação, é uma das condições para o bom desempenho profissional e social.

1.1. A linguagem popular ou coloquial

É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de linguagem (solecismo - erros de regência e concordância; barbarismo - erros de pronúncia, grafia e flexão; ambigüidade; cacofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular está presente nas mais diversas situações: conversas familiares ou entre amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV (sobretudo os de auditório), novelas, expressão dos estados emocionais etc.

1.2. A linguagem culta ou padrão

É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científicas, noticiários de TV, programas culturais etc.

1.3. Gíria

Segundo Mattoso Câmara Júnior, “estilo literário e gíria são, em verdade, dois pólos da Estilística, pois gíria não é a linguagem popular, como pensam alguns, mas apenas um estilo que se integra à língua popular”. Tanto que nem todas as pessoas que se exprimem através da linguagem popular usam gíria.

A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais “que vivem à margem das classes dominantes: os estudantes, esportistas, prostitutas, ladrões” Eles a usam como arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensagens sejam decodificadas apenas pelo próprio grupo.

Assim a gíria é criada por determinados segmentos da comunidade social que divulgam o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria que circula pode acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário de pequenos grupos ou cair em desuso.

Caracterizada como um vocabulário especial a gíria surge como um signo de grupo, a princípio secreto, domínio exclusivo de uma comunidade social restrita (seja a gíria dos marginais ou da polícia, dos estudantes, ou de outros grupos ou profissões).

(...) Ao vulgarizar-se, porém, para a grande comunidade, assumindo a forma de uma gíria comum, de uso geral e não diferenciado, (...) torna-se difícil precisar o que é de fato vocábulo gírio ou vocábulo popular

(...) É expressa frequentemente sob forma humorística (e não raro obscena, ou ambas as coisas juntas), como ocorre, por exemplo, em certos signos que revelam evidente agressividade, como bicho, forma de chamamento que na década de 1970 substituía amigo, colega, cara; coroa, para pessoa mais idosa, madura; quadrado, em lugar de conservador tradicional, reacionário; mina, para namorada, forma trazida da linguagem marginal da prostituição, onde origina lmente signca mulher rendosa para o malandro, que vive à custa dela etc. (Dino Pretti)

Primeiro, ela pinta como quem não quer nada. Chega na moral, dando uma de Migué, e acaba caindo na boca do povo. Depois essa ratina, vira lero-lero, sai de fininho e some. Mas, às vezes, volta arrebentando, sem o menor aviso. Afinal, qual é a da gíria?

(Cássio Schubsky, Superinteressante).

1.4. Linguagem vulgar

Existe uma linguagem vulgar, segundo Dino Preti, “ligada aos grupos extremamente incultos, aos analfabetos”, aos que têm pouco ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar multiplicam-se estruturas com “nóis vai, ele fica”, “eu di um beijo nela”, “Vamo i no mercado”.

1.5. Linguagem regional

Regionalismos ou falares locais são variações geográficas do uso da língua padrão, quanto às construções gramaticais, empregos de certas palavras e expressões e do ponto de vista fonológico. Há, no Brasil, por exemplo, falares amazônico, nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

1.5.1. Exemplo do falar gaúcho:

Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.

Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.

— O senhor quer que eu deite logo no divã?

— Bom, se o amigo quiser dançar uma marcha, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.

(Luís Fernando Veríssimo, O Analista de Bagé)

1.5.2. Exemplo do falar caipira:

Aos dezoito anos pai Norato deu uma facada num rapaz, num adjutório, e abriu o pé no mundo. Nunca mais ninguém botou os olhos em riba dele, afora o afilhado.

— Padrinho, evim cá chamá o sinhô pra mode i morá mais eu.

— Quá,flo, esse caco de gente num sai daqui mais não.

— Bamo. Buli gente num bole, mais bicho... O sinhô anda perrengado...

(Bernardo Élis, Pai Norato)

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Página de autor: http://www.recantodasletras.com.br/autores/profmoreyra

EXERCÍCIOS SOBRE NÍVEIS DE LINGAGEM

01. Leia o texto abaixo:

Os amigos F.V.S., 17 anos, M.J.S., 18 anos, e J.S., 20 anos, moradores de Bom Jesus, cidade paraibana na divisa com o Ceará, trabalham o dia inteiro nas roças de milho e feijão. “Não ganhamos salário, é ‘de meia’. Metade da produção fica para o dono da terra e metade para a gente.”

(Folha de São Paulo, 1° jun. 2002)

Os jovens conversam com o repórter sobre sua relação de trabalho. Utilizam a expressão “é de meia” e, logo em seguida, explicam o que isso significa. Ao dar a explicação, eles

a) alteram o sentido da expressão.

b) consideram que o repórter talvez não conheça aquele modo de falar.

c) dificultam a comunicação com o repórter.

d) desrespeitam a formação profissional do repórter.

e) N.D.A.

02. Observe:

I. A língua falada é mais solta, livre, espontânea e emotiva, pois reflete contato humano direto.

II. A língua escrita é mais disciplinada, obedece às normas gramaticais impostas pelo padrão culto, dela resultando um texto mais bem elaborado.

III. A linguagem culta, eleita pela comunidade como a de maior prestígio, reflete um índice de cultura a que todos pretendem chegar.

IV. A linguagem popular é usada no cotidiano, não obedece rigidamente às normas gramaticais.

Sobre as afirmações acima:

a) apenas I e II estão corretas.

b) apenas II e III estão corretas.

c) apenas II, III e IV estão corretas.

d) apenas III e IV estão corretas.

e) todas estão corretas.

AÍ, GALERA

Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo ‘estereotipação’? E, no entanto, por que não?

— Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.

— Minha saudação aos aficionados do clube aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.

— Como é?

— Aí, galera.

— Quais são as instruções do técnico?

— Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.

— Ahn?

— É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça.

— Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?

— Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?

— Pode.

— Uma saudação para a minha genitora.

— Como é?

— Alô, mamãe!

— Estou vendo que você é um, um...

— Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?

— Estereoquê?

— Um chato?

— Isso.

(VERISSIMO, Luis Fernando. In: Correio Brasiliense, 12/maio/1998.)

03. O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua oral e língua escrita, assinale a opção que representa também uma inadequação da linguagem usada ao contexto:

a) “O carro bateu e capotô, mas num deu pra vê direito.” (Um pedestre que assistiu ao acidente comenta com o outro que vai passando.)

b) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” (Um jovem que fala para um amigo.)

c) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação.” (Alguém comenta em uma reunião de trabalho.)

d) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de secretária executiva desta conceituada empresa.” (Alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego.)

e) “Porque se a gente não resolve as coisas como têm que ser, a gente corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros.” (Um professor universitário em um congresso internacional.)

04. Em todas as alternativas há marcas de oralidade, isto é, expressões típicas da linguagem falada, exceto:

a) Se você ficar olhando pra ela feito bobo, a manga cai em cima de sua cabeça.

b) “Peraí, mãe. Acho que tô a ponto de desmaiar.”

c) As variações da língua de ordem geográfica são chamadas de regionalismos.

d) “Dizque um chega, logo dão terra pra ele cultivar... É lavoura de café...”

e) “Engraçadinho de uma figa! Como você se chama?”

05. Leia as seguintes falas:

“É bom quando a gente volta da escola, não tem nada de bom passando na TV normal, aí a gente pega e liga a TV a cabo, que tem sempre alguma coisa boa pra ver.” (Sérgio Cleto Jr.)

“Tem um monte de esportes que eu adoro, principalmente futebol e tênis.” (Diego Derenzo)

Sobre as falas acima, pode-se afirmar que:

a) são exemplos do padrão culto da língua.

b) representam o uso da linguagem vulgar, pois refletem a pouca cultura de quem emitiu as mensagens.

c) são construções típicas do português falado, ou seja, da linguagem coloquial.

d) ferem claramente as normas gramaticais, não desempenhando seu papel comunicativo.

e) representam um tipo de linguagem comum em textos literários e poéticos.

06. Leia o texto abaixo:

“A gíria desceu o morro e já ganhou rótulo de linguagem urbana. A gíria é hoje o segundo idioma do brasileiro. Todas as classes sociais a utilizam.” (Karme Rodrigues)

Assinale a alternativa em que não se emprega o fenômeno linguístico tratado no texto.

a) Aladarque Cândido dos Santos, enfermeiro, apresentou-se como voluntário para a missão de paz. Não tinha nada a ver com o pato e morreu em terra estrangeira envergando o uniforme brasileiro.

b) Uma vez um passageiro me viu na cabine, não se conteve e disse: “Como você se parece com a Carolina Ferraz!”

c) Chega de nhenhenhém e blablablá, vamos trabalhar.

d) Há muitos projetos econômicos visando às classes menos favorecidas, mas no final quem dança é o pobre.

e) Cara, se, tipo assim, seu filho escrever como fala, ele tá ferrado.

07. Assinale a alternativa em que não se verifica o uso de linguagem coloquial:

a) “— Que há?

— Abra a porta pra mim entrar.” (Mário de Andrade)

b) “Não quero mais o amor, / Nem mais quero cantar a minha terra. / Me perco neste mundo.” (Augusto Frederico Schmidt)

c) "Quando oiei a terra ardendo / Quá foguera de São João” (Luiz Gonzaga)

d) “— Qué apanhá sordado? / — O quê? / — Qué apanhá? / Pernas e braços na calçada.” (Oswald de Andrade)

e) “Dê-me um cigarro / Diz a gramática / Do professor e do aluno / E do mulato sabido” (Oswald de Andrade)

08. Há exemplo de registro coloquial no seguinte trecho:

a) O verdadeiro autor da peça foi o escritor de discursos presidenciais H. Daryl.

b) Cem mil pessoas morreram quase instantaneamente.

c) A Segunda Guerra acabou, começava a guerra fria.

d) Aconselhado por Jimmy Byrnes (secretário de Estado), o presidente queria mostrar aos soviéticos que não apenas tinha a bomba, mas tinha peito para usá-la.

e) A bordo do navio Augusta, no retorno para os EUA depois de participar da cúpula aliada em Postdam (Alemanha), Truman autorizou o bombardeio.

09. Assinale a única alternativa em que não ocorre o emprego de expressões coloquiais.

a) “Nós, enquanto isso, continuaríamos condenados a dar duro oito horas por dia...”

b) “...após seis meses, todo aposentado sobe pelas paredes e implora para voltar a trabalhar.”

c) “Os americanos, ano após ano, trabalham seis horas a mais em relação ao ano anterior.”

d) A gente achava tudo um horror.

e) Me informaram que o pessoal conseguiu se arranjar.

10. Observe atentamente a conversa seguinte:

Gerente — Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?

Cliente — Estou interessado em financiamento para compra de veículo.

Gerente — Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?

Cliente — Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.

Gerente — Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.

(BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado).

Na representação escrita da conversa telefônica entre a gerente do banco e o cliente, observa-se que a maneira de falar da gerente foi alterada, de repente, devido:

a) à adequação de sua fala à conversa com um amigo, caracterizada pela informalidade.

b) à iniciativa do cliente em se apresentar como funcionário do banco.

c) ao fato de ambos terem nascido em Uberlândia (Minas Gerais).

d) à intimidade forçada pelo cliente ao fornecer seu nome completo.

e) ao seu interesse profissional em financiar o veículo de Júlio.

extraído da internet
Enviado por PROF MOREYRA em 25/02/2013
Reeditado em 08/03/2013
Código do texto: T4158652
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