ERROS COMUNS
Creio que muitas vezes, no momento de escrever a mistura de pessoas vem porque a palavra que rima “se insinua” e o poeta aceita o termo sem pesquisar. Deixo aqui a pergunta: depois de percebido a falha, o erro inconsciente, qual seria o procedimento correto?
O problema de mistura de pessoa tem entre suas causas (se não a principal, uma das mais fortes), a questão de dialetos e do tipo de escolha que o falante faz na hora de escrever seus textos. Porque, convenhamos, a segunda pessoa, principalmente a do singular, é grandemente utilizada nos poemas de forma fixa ( e na minha opinião, a mais poética, se assim posso afirmar), porque é mais econômica. Usar a terceira pessoa, no mais das vezes, pede a explicitação do pronome, para diferenciar a segunda pessoa da terceira.
“Deixaste aquela carta sobre a mesa.”(tu).
“Deixou aquela carta sobre a mesa.” (você ou ele).
O falante que usa habitualmente a segunda pessoa (e isso ocorre em várias regiões de nosso país), que ouve em sua fala quotidiana os verbos conjugados na segunda pessoa, ainda que com os erros que acabam ocorrendo na fala coloquial, acredito, estará menos propenso a cometer tais erros. Acredito também que poderá percebê-los com maior facilidade. Aquele que vive em regiões onde apenas se usa o “você”, (3ª pessoa), mas no momento de utilizar o texto escolhe o “tu” (2ª pessoa), muitas vezes mesmo, por influência das leituras, da produção já existente, precisará de maior atenção para não fazer esse tipo de mistura.
Existem, obviamente, as dificuldades inerentes ao nosso menor conhecimento e ao menor uso de certas formas, como é o caso do imperativo, citado pela Denise. Quando sigo usando o imperativo com alguma freqüência, ocorre que não preciso consultar. Se fico algum tempo sem utilizá-lo, adquiri o hábito de consultar, ainda que seja para conferência.
Nesse tipo de consulta, utilizo a gramática de Napoleão Mendes de Almeida, com um índice organizado por verbetes.
“O imperativo envolve uma ordem ou uma exortação.
A negativa repele o imperativo; o imperativo negativo é feito com o subjuntivo.(...)
Quer dizer que o imperativo, quando negativo, tira-se para todas as pessoas, do presente do subjuntivo.
Quando positivo, o imperativo continua a ser tirado do subjuntivo, com exceção da 2ª pessoa do singular e da 2ª pessoa do plural, formas estas derivadas das correspondentes pessoas do indicativo presente, mediante supressão do “s” final.
As gramáticas costumam oferecer, no imperativo, só as segundas pessoas do positivo, porque só estas duas são especiais, diferentes; é grave engano deduzir daí que só existem essas duas pessoas no imperativo.
Outras formas (supletivas de imperativo) tem às vezes força de imperativo mais suave:
Presente do indicativo: “Levas estas cartas e trazes as estampilhas.” (=leva, traze).
Infinitivo impessoal, tanto para a forma positiva quanto para a negativa: “Anda lá Pablo, na garupa, e deixá-los rir.”( = deixar os = deixa-os) “Passar bem.” (=passe bem), “Não matar” (=não mateis), “À direita, volver.”(=volvei).
Futuro do presente do indicativo: “Não matarás.” (=não mates).” ($415 – p. 227)
A língua (viva), sustenta-se entre duas forças contrárias: uma desagregadora, livre, em busca da facilidade tanto fonética quanto prosódica; outra, que agrega, normativa, com regras, impondo as formas ditas corretas. Uma das funções das normas é impedir a desagregação total, quando então, pelo que nos parece até o momento, ela perderia a função de estabelecer a comunicação. Outra questão de difícil solução são as vertentes interpretativas, porque os grandes conhecedores discutem certas questões dizendo: -Segundo tal gramático o correto é isso, segundo tal outro é aquilo, ou ainda para aquele outro é ..., mas na minha opinião, o correto é isso, por isso e por isso... Nesse ponto fico com a opinião anteriormente enunciada e que vi afirmada categoricamente pelo grande Ziraldo em uma entrevista: -“Se saber gramática, fizesse um escritor, todos os gramáticos seriam grandes escritores, vocês conhecem algum?” (Mas acompanhem a seqüência...) “Eu, quando tenho dúvidas, telefono para o Bechara...”
A segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, (ação passada antes da enunciação), não recebe “s” final: deixaste, perdeste, partiste, puseste.
Particularmente, creio que se configura liberdade, e não um erro, quando uma forma é alterada intencionalmente e quando busca transcrever a fala. Creio que erros não diminuem a qualidade de uma criação, mesmo que sejam por desconhecimento, (mas eu me sentiria inclinada a situar tal tipo de obra como cultura popular). Sou grande apreciadora da Arte Naïf e dos desenhos infantis, mas nem por isso vou dizer que eles incluem a noção de perspectiva...
Participam da dinâmica da linguagem, tanto transgredir quanto seguir a norma.
O USO DA 2ª PESSOA: COMENTÁRIOS
Creio que muitas vezes, no momento de escrever a mistura de pessoas vem porque a palavra que rima “se insinua” e o poeta aceita o termo sem pesquisar. Deixo aqui a pergunta: depois de percebido a falha, o erro inconsciente, qual seria o procedimento correto?
O problema de mistura de pessoa tem entre suas causas (se não a principal, uma das mais fortes), a questão de dialetos e do tipo de escolha que o falante faz na hora de escrever seus textos. Porque, convenhamos, a segunda pessoa, principalmente a do singular, é grandemente utilizada nos poemas de forma fixa ( e na minha opinião, a mais poética, se assim posso afirmar), porque é mais econômica. Usar a terceira pessoa, no mais das vezes, pede a explicitação do pronome, para diferenciar a segunda pessoa da terceira.
“Deixaste aquela carta sobre a mesa.”(tu).
“Deixou aquela carta sobre a mesa.” (você ou ele).
O falante que usa habitualmente a segunda pessoa (e isso ocorre em várias regiões de nosso país), que ouve em sua fala quotidiana os verbos conjugados na segunda pessoa, ainda que com os erros que acabam ocorrendo na fala coloquial, acredito, estará menos propenso a cometer tais erros. Acredito também que poderá percebê-los com maior facilidade. Aquele que vive em regiões onde apenas se usa o “você”, (3ª pessoa), mas no momento de utilizar o texto escolhe o “tu” (2ª pessoa), muitas vezes mesmo, por influência das leituras, da produção já existente, precisará de maior atenção para não fazer esse tipo de mistura.
Existem, obviamente, as dificuldades inerentes ao nosso menor conhecimento e ao menor uso de certas formas, como é o caso do imperativo, citado pela Denise. Quando sigo usando o imperativo com alguma freqüência, ocorre que não preciso consultar. Se fico algum tempo sem utilizá-lo, adquiri o hábito de consultar, ainda que seja para conferência.
Nesse tipo de consulta, utilizo a gramática de Napoleão Mendes de Almeida, com um índice organizado por verbetes.
“O imperativo envolve uma ordem ou uma exortação.
A negativa repele o imperativo; o imperativo negativo é feito com o subjuntivo.(...)
Quer dizer que o imperativo, quando negativo, tira-se para todas as pessoas, do presente do subjuntivo.
Quando positivo, o imperativo continua a ser tirado do subjuntivo, com exceção da 2ª pessoa do singular e da 2ª pessoa do plural, formas estas derivadas das correspondentes pessoas do indicativo presente, mediante supressão do “s” final.
As gramáticas costumam oferecer, no imperativo, só as segundas pessoas do positivo, porque só estas duas são especiais, diferentes; é grave engano deduzir daí que só existem essas duas pessoas no imperativo.
Outras formas (supletivas de imperativo) tem às vezes força de imperativo mais suave:
Presente do indicativo: “Levas estas cartas e trazes as estampilhas.” (=leva, traze).
Infinitivo impessoal, tanto para a forma positiva quanto para a negativa: “Anda lá Pablo, na garupa, e deixá-los rir.”( = deixar os = deixa-os) “Passar bem.” (=passe bem), “Não matar” (=não mateis), “À direita, volver.”(=volvei).
Futuro do presente do indicativo: “Não matarás.” (=não mates).” ($415 – p. 227)
A língua (viva), sustenta-se entre duas forças contrárias: uma desagregadora, livre, em busca da facilidade tanto fonética quanto prosódica; outra, que agrega, normativa, com regras, impondo as formas ditas corretas. Uma das funções das normas é impedir a desagregação total, quando então, pelo que nos parece até o momento, ela perderia a função de estabelecer a comunicação. Outra questão de difícil solução são as vertentes interpretativas, porque os grandes conhecedores discutem certas questões dizendo: -Segundo tal gramático o correto é isso, segundo tal outro é aquilo, ou ainda para aquele outro é ..., mas na minha opinião, o correto é isso, por isso e por isso... Nesse ponto fico com a opinião anteriormente enunciada e que vi afirmada categoricamente pelo grande Ziraldo em uma entrevista: -“Se saber gramática, fizesse um escritor, todos os gramáticos seriam grandes escritores, vocês conhecem algum?” (Mas acompanhem a seqüência...) “Eu, quando tenho dúvidas, telefono para o Bechara...”
A segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, (ação passada antes da enunciação), não recebe “s” final: deixaste, perdeste, partiste, puseste.
Particularmente, creio que se configura liberdade, e não um erro, quando uma forma é alterada intencionalmente e quando busca transcrever a fala. Creio que erros não diminuem a qualidade de uma criação, mesmo que sejam por desconhecimento, (mas eu me sentiria inclinada a situar tal tipo de obra como cultura popular). Sou grande apreciadora da Arte Naïf e dos desenhos infantis, mas nem por isso vou dizer que eles incluem a noção de perspectiva...
Participam da dinâmica da linguagem, tanto transgredir quanto seguir a norma.