No seio da natureza, deitei. Em sonho, avistei o paraíso.
Recostado numa velha ingazeira
O barro nu e fresco como piso
Fui levado em sono de tal maneira
Que acabou afetando o meu juízo
Da minha velha Dourada lembrei
No seio da Natureza, deitei
Em sonho avistei o paraíso
Me vi criança nova e arteira
Ainda com nenhum ou pouco siso
Levado, escalando a goiabeira
Me esgueirando em tronco e galho liso
Muitas broncas tomadas recordei
No seio da Natureza, deitei
Em sonho, avistei o paraíso
Eu revi muitos banhos de açude
Os desafios de pinotes indecisos
Pivetada exalando juventude
Vivendo sem medo de prejuízo
As muitas lembranças saboreei
No seio da natureza, deitei
Em sonho, avistei o paraíso
Relembrei nossas festas de família
Com tudo se acertando no improviso
Os parentes de São Paulo e Brasília
E os primos, sem dormir, no puro riso
Quantas noites no velho sítio varei
No seio da natureza, deitei
Em sonho, avistei o paraíso.
Minha infância bem vivida se foi
Crescer infelizmente foi preciso
Agora penso muito no depois
O passado, de vez em quando, repriso
A saudade, eu muito já chorei
No seio da natureza, deitei
Em sonho avistei o paraíso.
Hoje a velha casinha que era viva
Ao revê-la ainda me causa sorriso
Antes, sempre cheia e receptiva
Agora anuncia o fim como aviso
Esse sonho no meu peito guardei
No seio da natureza, deitei
Em sonho, avistei o paraíso
Mote do poeta Feitosa Pé d'água.
Glosa de Jefferson Carnaúba.