A Morte - do Livro No Tempo dos Cangaceiros

Maza começou em primeira voz:

- Já morreram meus irmãos

Também morreram meus pais

Já morreram alguns amigos

Vão morrendo outros mais

E pela primeira vez

Vou dizer para vocês

O que é que a morte faz

Tanieide sustentou a segunda glosa

- A morte trás a tristeza

A vida trás alegria

A morte é destruidora

De tudo que a terra cria

A morte não tem amor

A mesma morte matou

Jesus filho de Maria

A morte por ousadia

Matou mamãe e papai

Não sei de onde ela vem

Não sei de onde ela sai

A morte trás o desprezo

Se alguém mata vai preso

A morte mata e não vai

A morte que matou meu pai

Mata qualquer vivente

Mata o rico e mata o pobre

Mata o fraco e o valente

A morte não se engana

No dia que ela se dana

Mata até o presidente

Mata a criança inocente

Mata o jovem e a donzela

Mata o homem do cinema

Mata a mulher da novela

Matou Joaquim e Raimundo

Anda matando no mundo

E ninguém persegue ela

Mata aquele mata aquela

Da morte ninguém escapa

Dos seres vivos da terra

A morte vem e faz o rapa

Mata o leigo e mata o padre

Mata a freira e o frade

Mata o bispo e até o papa

Maza fechou a glosa.

- Nunca vi doença boa

Nunca vi morte bonita

Feliz de que tem fé

E em Jesus Cristo acredita

Mas Deus disse com certeza

Quem comunga em minha mesa

Morrendo se ressuscita.

A volante aplaudiu frenética satisfeita com os dois poetas e logo um outro solicitou uma segunda rodada com o mote Como Deus Criou o Mundo.

Desta feita Tanieide fez a primeira e Maza a segunda voz.

- O autor da criação

Com seu poder profundo

Criou de tudo no mundo

Sem em nada por a mão

Fez com tanta perfeição

A terra e a maresia

Fez a noite fez o dia

Fez as estrela e a lua

Como o seu poder continua

É Deus o pai que nos cria.

Deus fez o céu e a terra

O sol e o firmamento

Fez as estrelas e a lua

Fez o ar que é o vento

Com suas mãos abençoadas

Fez isto tudo do nada

Assim diz o antigo testamento

Más para mostrar seu talento

Completou tudo nos seis

Deu força pra satanás

Mas ele é besta e não faz

Aquilo que Jesus fez

Deus ainda fez o homem

Por um motivo qualquer

Viu que dos ossos seus

Havia um sem "mister"

Mas Deus por não ser ingrato

Quando ia jogá-lo no mato

Lembrou-se e fez a mulher

Deus criou a mulher

Da costela de Adão

E fez com tanta perfeição

Toda cheia de mistérios

E pelo um motivo qualquer

Notou que tinha errado

Para não cair em pecado

E nem se tornar infeliz

Deus fez a mulher

E não quis...

Ficar com ela ao seu lado.

Tanieide reconhecendo que Rolim estava inspiradíssimo deu por encerrada a glosa num aperto de mãos e a volante eufórica após apreciar aqueles versos voltou ao seu cotidiano.