O Deus de Adélia Prado
A espiritualidade brota nos versos da poetisa mineira Adélia Prado, vencedora do Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa.
Alguns versos:
'Meu Deus, me dá cinco anos. Me dá um pé de fedegoso com formiga preta, me dá um Natal e sua véspera, o ressonar das pessoas no quartinho. Me dá a negrinha Fia pra eu brincar, me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe. Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável, me dá a mão, me cura de ser grande, ó meu Deus, meu pai, meu pai."
"Vale a pena esperar, contra toda a esperança, o cumprimento da Promessa que Deus fez a nossos pais [no deserto. Até lá, o sol- com- chuva, o arco- íris, o esforço de amor, o maná em pequeninas rodelas, tornam boa a vida. A vida rui? A vida rola mas não cai. A vida é boa."
"Senhor, Senhor Jesus, ouvi- me. Existo? Faz tempo que não sonho, existo?"
"Deus não é severo mais, suas rugas, sua boca vincada são marcas de expressão de tanto sorrir pra mim. Me chama a audiências privadas, me trata por Lucilinda, só me proíbe coisas visando meu próprio bem. Quando o passeio é à borda de precipícios, me dá sua mão enorme. Eu não sou órfã mais não."