DIÁRIO DA QUARENTENA - PARTE 20
Eis uma cena brasileira: um homem entra no supermercado e volta com quatro sacolas na mão. Volta de cabeça baixa e sem nenhum milagre. Na sacola há apenas poucos pães para alimentar muitas bocas. É a recompensa de três dias de trabalho duro e um dízimo da própria saúde. Volta para casa como um herói pequeno, uma caricatura de homem. Suas mãos são brutas ferramentas que não resultam em salário grande. Seu coração é seco e tem rugas em demasia. Todo dia ele pega a rua que o leva a lugar nenhum. O horizonte foi confiscado. À sua frente ele vê apenas o frenesi da paisagem. Não se reconhece mais em nenhuma utopia. É apenas um nome no censo. Ou talvez nem isso.