Intimidades 896
Contra a solidão não vale tudo mas há coisas que a minimizam de forma inócua e divertida. Há quem converse com plantas, animais de estimação, objetos inanimados. Eu uso palavras de mim para mim mesmo, solilóquios que variam de tom, acento e de voz, jeitos de falar. Os meus devaneios vão a Trás-os-Montes e quedo-me em coirato montado num burrico ou mostro-me irreverente e “marafade” muito mais a Sul. De perto, disse quem sabia, ninguém é normal que o mesmo é dizer que tudo deve ter a elasticidade bastante para caber a toda a gente e fazê-la feliz. Há escritores e poetas que saem de si para ter vidas animais, sentir situações e coisas. Manoel de Barros, Mia Couto, Mário Quintana, Paulo Leminski, Miguel Torga, para só citar alguns que se expressam em português, passeiam as palavras por mundos onde, vistos à distância, reina a loucura ou a harmonia, consoante a nossa decisão. Pare, sinta, olhe, experimente. Há diálogos de enorme profundidade que pode manter com quem quiser sem ter de ir lá.