Intimidades 836
Era um homem de palavras. Trazia todas as que achava interessantes em muitos cadernos manuscritos. Escrevia-as por hábito mas nunca as ordenou o que lhe garantia longas procuras para saber da que precisava citar. Nunca achava o que queria mas, dizia, achava outras igualmente boas para amar, ofender, morder. Para pensar. Algumas eram desmembradas, acrescentadas, somadas ou subtraídas e davam, espantosas, ideias fortes. Outras, estrangeiras, dizia-as por dizer em pronúncia errada e funcionavam como mistérios insolúveis. Quando se apaixonou quis a palavra certa e achou todas menos a que lhe faltava. Em desespero, porque estava mudo há tanto tempo, disse: - se eu fosse cobra tu serias a víbora desejada. E ela ofendeu-se.