Intimidades 831
Pesa o silêncio. Os gritos vêm da tua pele nua, da boca fechada, do muro de pedra que nos separa. Posso com um olhar mudar o mundo mas quero ver-te arder na minha inquietação. Esperas a minha mão, a boca sobre o arfar do peito, o devaneio sem rumo pelos montes onde te nasce o corpo feroz. A doçura aparente esconde, sob a quentura, um coração de ferro, o mesmo que pode cortar-me em pedaços e abandonar-me, imóvel, a escutar a voz surda que vem, como uma trovoada, tornar pesada a ausência. Já não estamos aqui. Cada corpo que se fecha cristaliza na mágoa e arrefece. Tapa-te, digo. E a tua nudez permanece, insubmissa.