Intimidades 483
Apressei-me pelos corredores estreitos, virei, cruzei, contornei os espaços e cheguei ao fim do tempo. Em frente uma parede branca e nela um espelho enorme, agora ocupado por uma imagem esgotada e pelo regresso do caminho. Podemos sempre retroceder mas só os primeiros passos do voltar são parecidos. Todos os demais se acrescentam de certezas e a memória vai sinalizando os acidentes da volta. Podemos sentir desânimo, libertação, saudade, vontade de recomeço. Nada, no entanto, se repete. Outros são agora os objectivos. Regressar é muitas vezes visitar memórias, reencontrar nomes, casos e experiências que marcaram. Abri a porta desta casa enorme que tenho por dentro. Parece vazia mas há nela todas as figuras da minha história. Riem, choram, amam ou só estão em imagem delida. Há sons, palavras longínquas, silêncios. Poderia reviver tudo mas teria de continuar neste sonhar que acaba agora. Tenho ainda ocasião para dar a volta à chave e trancar o passado.