Intimidades 394
Da imobilidade saiu um pássaro e o ninho deserto expôs-se como uma boca sem dentes. A árvore gemeu a ausência de folhas e dobrou-se mansa pela aragem até o ninho mostrar que fazia agora parte dela. No céu, a ave era o ponto escuro no azul. Regressou por fim e retomou o espaço oco no entrançado de ramos secos. Adivinhei o ovo dissimulado na quentura da ave, senti-o eclodir, ouvi o piar implume, vi o primeiro voo. Depois, já vestia a árvore de verde, já outro limite se desenhava no começo das águas, já, dorido, o corpo me falava em retorno, acabei a história e voltei. A casa é esta penumbra morna a que pertenço.