" (...) bom mesmo são as sutilezas "
Bom mesmo são as sutilezas
Da vida apreciada
Nos detalhes "das coisas"
Vivas, mas nem sempre vistas
Sutis...
Encantadas, quase escondidas
Feito os gatos nas janelas das ruas
Sutilezas puríssimas, e por isso
Implícitas
Não explícitas
Vísíveis somente e condicionalmente:
Àqueles que olham "as coisas" na sua nudez
Despidas das mesmices que os olhos
Acostumam-se a enxergar
Ah! Matéria-prima "das coisas"
A essência daquilo que o é
Por si só, inato
A exemplo do sorriso de cada um
Que é realmente o único
Único! Que nasce e depois morre
Instantaneamente como a cadência estelar
Pouco admirada também
Pois muitos já não vêem nem o sol, claro por sua natureza
Que diriam então das fagulhas diárias na negridão celestial?!
Diriam que não houve tempo de olhar para o céu!
Afinal, a vida é corrida. Corrida...nem andada, nem caminhada
É uma corrida!
E é pela responsabilidade desta vida corrida
Que os gatos não são vistos nas janelas
Nem as raízes das árvores
Que clamam por ar embaixo das calçadas
Concretadas que pisamos.
Os "homenzinhos de laranja"
Que clareiam o cinza das calçadas
Com suas vassouras...também não são vistos
As ruas são museus cheios de estátuas clamando
Para serem vistas...como estátuas-vivas
E as ruas são isso mesmo: poços que minam arte.
Ruas são pitorescas
São telas de óleo capazes de expressar:
Os passarinhos enfileirados nos fios de alta tensão;
A corrida dos cães vira-latas, amigos dos mendigos;
Os mendigos que cochilam em seus meio-colchões, meio-jornais;
As lojas mau pintadas, mau divulgadas, mau localizadas (nos altos prédios antigos), e por isso, mau frequentadas;
Os pobres poetas no centro de uma das tantas "ruas XV", que vivem pelo amor à poesia e pelos centavos que elas lhes rendem ao final de um dia;
Artistas, que também vivem do pitoresco...mesmo os caricaturados;
"O menino de rua", que sente a água escorrer-lhe não apenas pela boca, mas pelo pensamento e coração e por tudo aquilo que faça parte de si...ao fixar o olhar no pedaço de comida mordido por alguém...pois tudo nele é o sentimento de fome.
Ruas são pitorescas
Já dizia o poeta.
Dizia, ele também...
" (...) bom mesmo são as sutilezas ".