O fantástico e inconstestado poder de José Sarney...

O fantástico e incontestado poder de José Sarney...

Mal iniciou o ano, e vi o senador José Sarney se eleger, outra vez (quantas já são? Perdi a conta...) à presidência do Senado Federal, jurando que não se candidata mais e que esta será sua melhor administração da casa. A quem eram dirigidas estas juras? Se foi ao eleitor e cidadãos, tenho algo a dizer a respeito: confio tanto nelas quanto na cor de seus cabelos...

Desde que entrou na política nacional, Sarney - dono de incomensurável apetite financeiro, patrimonialista e nepotista, foi entranhando de forma pertinaz e meticulosa, nas mais diversas estruturas de poder e governo - desde os governos ditatoriais, a sua própria estrutura de defesa de vantagens, interesses e poer, de modo que, olhando a coisa em perspectiva, Sarney aparece como um dos sujeitos mais poderosos do país, a partir do começo dos anos oitenta.

Com efeito, depois de passar pelo governo do estado do Maranhão, quando era membro ativo e colaborador da ARENA - que depois, virou PDS, chegou ao Senado Federal e embarcou no PFL (a face moderna das forças políticas governamentais, cuja contrace pasou a ser liderada por outra interessante - e contestável - figura da república: Paulo Maluf, que ficou, na companhia de Delfim Neto, no PP) e, por caprichos do destino, virou presidente da república, em pleno período de redemocratização do país - época em que ingressou na arca do PMDB, num processo em que foi sepultada a esperança de muita gente de um país moderno e democrático, quando Trancredo Neves foi enterrado.

Como ele conseguiu isso? Como pode, nesta altura do campeonato, se eleger Presidente do Senado sem que ninguém se atreva a contrastar sua candidatura? Qualquer que seja a resposta, a algo a ser considerado inicialmente: o sistema de poder cuja porosidade permitiu a um tipo retrógrado e pernicioso agir e, estabelecer a si e sua própria estrutura de poder. Em segundo lugar, há que se destacar sua admirável persistência e competência. Evidentemente que, num projeto onde o que interessa são os interesses particulares e as vantajens de natureza econômica, num país como o nosso - grande e sem-vergonha, não falta quem queira ser parceiro, pelo contrário.

Sarney nomeia (que ele não é mais de indicar, simplesmente) Ministros do primeiro escalão, diretores de setores poderosos de empresas estatais, ministros do STJ e STF (o que lhe rendeu a capacidade de usar o poder judiciário para desafiar a Constituição Federal e censurar a imprensa, quando esta ameaça denunciar seus negócios particulares dentro do setor público - caso do jornal Estado de São Paulo, que está a 556 dias sob censura por conta de uma sentença judicial). Mas, pode se dar ao luxo de indicar, comadres, compadres e jagunços para os mais diversos cargos, seja no estado que transformou numa espécie de capitania hereditária, o Maranhão, seja em Brasília.

Sarney é Senador pelo PDMB. Sua filha transformou-se em governadora da capitania fundada pelo pai à bordo do PFL (agora DEM). E seu Zequinha Sarney hoje é um dos picas do PV. Não é uma família eclética? Pois é, nas alturas em que o poder de Sarney chegou, mais uma qualidade foi exigida de sua família e agregados: a capacidade de exercer o camaleonismo político...

Existe ou terá existido político mais poderoso do que o velho e esperto Sarney, nas últimas decadas?

A história política e sua fantástica máquina mesquinha de ocupação e manipulação de poder político, vantagens financeiras e pessoais (vaidade incluída) do velho senador maranhense é coisa séria. Por isso, merece um um estudo de natureza científica, sério e desapaixonado, o que já descarta vagabundagem de cunho esquerdista ou satanizante, que pode render muitas lições, sobre o Brasil e a política brasileira.

Quem sabe possamos chegar a ter uma idéia de quanto custa, o quanto vale e quais são as repercussões da existência e atuação desta imensa máquina de troca de favores e benefícios mútuos?...