FRASES DE MARIA ODÁLIA, MINHA MÃE – A CABOQUINHA!

Para início de conversa, Caboquinha, dizia-se por ser o mesmo que Caboclinha, de Cabocla. Nordestinizado o termo, portanto. Na minha infância lembro que ela sempre dizia: poetinha, poetinha, isto quando estava fazendo estripulias, arte, bagunça, respondão, malcriado, não atendendo ao seu chamamento ou às suas ordens. A vara de marmelo corria solta na minha bunda, no meu lombo, nas minhas pernas. Na cabeça nunca se bate, dizia ela com toda autoridade. Porque diria eu nádegas, se é coisa de intelectual? O que veremos a seguir são coisas e termos do caipirismo nordestino, sim senhor, sim senhora! Veremos algures, monólogos e diálogos.

-Cabeçudo, vá na venda do seu mane português e traga um quilo de feijão e outro de farinha...

-Fia, pegue aquele mulambo e limpe o chão da cozinha...

-Hoje trabalhei demais puxando o cabo do guatambu e estou um caco...

-A enxada chega tinia fio e o sol tava de rachar...

-Ganhava em tostão de réis mas mesmo minguado dava pra despesas, pra todo mundo cume...

Certa vez perguntei-lhe:

-Mãe, e meu pai, por que não o conheço?

-Ficou no norte, não quis vim, era muito quengueiro. Em 1953, preferiu as quengas de Santana.

-Fio, vá pra escola que a mãe vai pra lagoa lavar roupa e virar tripa de bois pra nós cume com feijão de arranca e farinha de mandioca. Isto em Sandovalina-Sp, na década de 60.

-Ei menina tu ta com fogo na castanha? Sossega o facho!

-Lurdes, suba no embuzeiro (umbuzeiro) e cate uns embús (umbus) pra mãe fazer uma embuzada (umbuzada) com leite e açúcar para nós bebermos.

-Zefinha, pegue este bruguelo na cacunda e vá buscar água no açude da nação...

-Joana, venha logo pra dentro de casa, sua cabritinha!

-Fio, venha cá e fique aí mesmo... como eu ia dizendo...

-Fio, venha ver: o jogo ta forte!Por que tem um magote de homens e só uma bola?

Coitadinha, analfabeta de pai e mãe, por minha causa, confesso, mas seguia as novelas. Numa delas o Cuoco morreu (parece ser “O Astro”) e noutra apareceu vivo, bonitão. Foi difícil explicar-lhe que a morte da anterior foi só de mentirinha. E as formigas no nariz do ator nordestino na novela “Saramandaia”, aquele que falou a frase: “-que urina cumprido é este, home?”. Também não foi fácil convence-la dos truques de filmagens.

-Hoje vamos cume cuscuz, muncunzá, galinha de capoeira, gia (rã), preá, tiú (teú)...

-Domingo vamos fazer e cume buchada de bode e sarapatel...

-Vou tomar um banho de gato!

-Fio, não devemos deitar igual burro e levantar igual cavalo. Devemos rezar ao deitar e ao levantar.

-Não tire chalupa com tua mãe, moleque releixo.

-Não tive tempo de chambregar, casei novinha!

-Fio, vá lavar os zóios, as zureias e os zovidos, cabra safado!

-Fio, tire os cambitos de cima da mesa!

-Valei-me minha Nossa Senhora; valei-me meu padim pade Ciço (padre Cícero, do Juazeiro-CE)...

-Moleque releixo, venha cá! Você não deu descarga na patente e tem dois “cabocos” esticados...

Lembro dela como se fosse hoje, neste momento, fotogênica, prestativa, e por ocasião deste Dia das Mães o melhor presente que posso dar a ela, minha veinha, é eu mesmo, o Adiones, de corpo, alma e presença no cemitério de Jandaia do Sul para rezar um Pai e Nosso e uma Ave-Maria e depositar uma flor, seja ela qual for, mas com muito amor. Obrigado meu Deus por ter dado esta Mãe Maria, a segunda desta hierarquia. Obrigado.

Confesso que esqueci de muitas outras frases e palavreados dessa heroína, mas deixo escrito alguns desses aforismos para a posterioridade, para os meus filhos, para os meus...

Autor: Adiones Gomes da Silva, o Ponga – Rua Rotary,73 – tel/fax.: 43-3432-8613, e-mail: adionesgsilva@pop.com.br - CEP86900000 – Jandaia do Sul – Pr – SPJ/MAI/2007/DOC.030

Ponga
Enviado por Ponga em 15/05/2009
Reeditado em 27/04/2018
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