O MELRO E EU
Adentro o meu olhar, pelo pomar de pessegueiros que se estende á minha frente. As árvores já mostram vaidosas, a sua roupagem primaveril.
Empoleirado num ramo, descortino um melro entre a folhagem.
Um melro já? Ainda não há fruta madura, ele deve andar perdido.
Condoída com a sorte do pobrezinho, chamei-o.
Ele acorreu imediatamente e pousou próximo de mim, num ramo do meu diospireiro.
Chamaste-me? Tens cerejas para mim?
Não, ainda não é tempo de cerejas e a produção este ano está novamente comprometida, por causa da queda de granizo ocorrida há dias.
Chamei-te para conversar, estou aqui sozinha, dois dedos de conversa faz bem não achas?
Que ganho eu com conversetas?
Apoiamo-nos um ao outro, podemos construir uma boa amizade, depois amor de amigo e depois quem sabe, um amor de amante?
Sabendo que temos alguém que gosta de nós, que se preocupa connosco, enche o nosso coração de amor e já não nos sentimos sozinhos, porque sabemos que algures, está alguém que é nosso amigo.
Pois, essa conversa é muito bonita mas não me enche a barriga.
É pena que ainda haja seres como tu, que só pensam em encher a barriga e não se importem de ter o coração vazio.
Tu já reparaste que se tiveres o coração cheio de amor, terás sempre pelo menos um amigo para te encher a barriga?
Com o coração vazio, estarás cada vez mais sozinho...
Pensa nisso!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 18/04/21