Arena

Ja faz dias que não entro nessa maldita arena.

Ainda sinto o cheiro de sangue nas minhas mãos, ainda consigo ouvir o grito de desespero daquele jovem gladiador, uma pena, tão novo e já transformado em um monstro.

Ainda ouço o som dos seus ossos quebrando, a visão de sua cabeça se arrebentando contra o meu escudo ainda me fascina, seus olhos esbugalhados, a vida se esvaindo daquele corpo, tudo isso ainda me fascina.

Mesmo sabendo que era necessário, aquela luta foi marcante para mim, foi quando perdi o resto de humanidade que ainda restava, agora sou um monstro assim como os meus senhores, fui criado e ensinado a matar sempre, seja pela honra, seja gloria, seja por ouro.

Estou vendo os portões da arena se abrirem, quem sabe dessa vez eu consiga morrer, mas sei que isso não vai acontecer, o que vai acontecer é que mais um irmão de treino ira morrer para que a multidão se divirta com nosso sangue e sacrifício.

Antes de lutar prometo ao meu senhor o meu melhor, seja na derrota seja na gloria, anseio ardentemente que algum gladiador seja capaz de me matar, de me ferir gravemente.

Terminada a luta, carrego a cabeça de meu irmão para o meu senhor e a ofereço como um presente, de um reles escravo para o seu altivo senhor!

Enquanto me retiro da arena ouço os gritos da multidão, todos são insanos e burros, se divertem com a desgraça alheia, são ludibriados pelos Grandes Césares.

São todos nojentos.

Agora vou descansar, pois amanhã tenho mais um dia de luta, quem sabe dessa vez eu não morra!

Fernando Trevisan
Enviado por Fernando Trevisan em 01/02/2020
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