SEPARANDO O ARROZ DO FEIJÃO

OBS: 31 DE OUTUBRO TAMBÉM É DIA DELE!

Muitos hoje comemoram o Halloween, mas eu resolvi fazer uma homenagem a um personagem bem brasileiro, cujo dia também é hoje, 31 de outubro! Abaixo compartilho um miniconto que escrevi sobre ele.

- E aí, João, você acha que ele vem, mesmo?

- Lógico que vem. É batata! Minha bisavó me contou. Quando ele vir esse monte de grãos de arroz misturados com os de feijão ele não resiste e acha que tem que separar um do outro.

- É, mas tem um pequeno detalhe, João.

- Qual?

- Nós não estamos no campo, cabeção! Nós moramos na cidade. Duvido muito que ele saiba vir para cá. Aqui não há crina de cavalo para ele zoar, nem...

- Ô, Marcos, interrompeu, João ... se não vai me ajudar, não atrapalha, tá?

- Tá bom, tá bom... não falo mais nada. Ah, já sei. Espera que eu já volto. Vou pegar uma coisa.

João ficou intrigado. O que será que Marcos foi fazer? A máquina fotográfica já estava lá, com a bateria carregada, pronta para fotografar. A peneira, o pote de vidro e a rolha com uma cruz

riscada, também. Eles não tinham esquecido nada.

Estava tudo preparado. Era 31 de outubro, dia dedicado a ele. Se não conseguissem pegá-lo, pelo menos uma foto João queria garantir.

Marcos voltou com uma caixa e jogou as peças de um quebra-cabeça ao lado do monte de grãos de arroz e feijão.

- O que é isso, Marcos? Vai ficar montando quebra-cabeças, agora? Estamos num momento importante!

- Não sou eu que vou montar. É “ele”!

- E desde quando saci monta quebra-cabeça?

- Ué, você não disse que ele não resiste ver esse troço todo junto e separa. Quem sabe ele não resiste ver meu quebra-cabeça todo separado e junta! Véio, faz um tempão que eu quero terminar de montá-lo, mas não consigo. Uma ajudinha ia bem...

João balançou a cabeça, com ar de desaprovação.

Já estava anoitecendo. O quintal da casa de Marcos era bem grande. Era lá que os amigos do colégio se reuniam sempre para brincar. A maioria morava em apartamento e adoravam a privacidade da casa dele.

João e Marcos combinaram tudo, sem contar para o resto da turma. Temiam que muita gente o assustasse.

O tempo passava e nada dele aparecer.

Os garotos já estavam cansados de ficarem na espreita, atrás dos grandes vasos de coqueirinhos que haviam juntado para fazerem seu esconderijo.

De repente, um pequeno redemoinho se formou, fazendo várias folhas secas rodopiarem pelo ar.

- É ele!, sussurrou João. É ele! Ele fica assim girando, girando. Minha ‘bisa’ me contou...

O vento se tornou mais e mais forte. A ventania fazia os coqueirinhos balançarem pra valer.

- Vai, Marcos, joga a peneira, joga!

- Mas já? Não temos que esperar ele começar a separar os grãos? Eu nem estou vendo ele!

- Ele fica invisível porque gira muito rápido, nem dá para ver.

Ele só aparece quando jogamos a peneira. Vai, joga logo. Se ele perceber que estamos aqui, ele foge. É melhor aproveitar agora.

Um, dois, três... já.....

Jogaram a peneira no redemoinho que estava sobre os grãos e pularam em cima dela. Foi grão para tudo que é lado.

- Você deixou ele fugir, Marcos!

- Euuu?! Mas eu não estava vendo nada...

- Vixe! Olha a bagunça que fizemos. Espalhamos os grãos.

Agora nós é que vamos ter uma trabalheira danada para catar tudo isso, e não o saci.

- Não reclama e me ajuda aqui vai!

- João, João, olha aqui, olha... rápido!

Num canto, ao lado dos grãos espalhados, três peças do quebra-cabeça estavam montadas!

Os dois olharam um para o outro boquiabertos.

Saci-pererê se adapta rapidinho na cidade! ... E permanece no imaginário popular...