O João-de-Ferro

Era uma vez João-de-Barro, que morava na floresta, numa casa feita por ele mesmo, de barro. Ele havia se inspirado na casa redonda dos humanos, que tinha madeira, barro e folhas. Bem, ele decidiu que faria uma casa igual. Colocou uma porção de barro em cima de uma árvore, fez uma portinha, colocou uma folhas no chão da casa e pronto, já tinha uma casa igual a dos humanos.

Estava tudo bem até o dia em que uma forte tempestade derrubou a casa. Lá foi o João-de-Barro fazer outra casa. Casa refeita, ele resolveu convidar outros animais para conhecer a casa. Todos os pássaros ficaram impressionados com o trabalho do João de Barro, mas o Tatu-Bola, confundindo a caso com seu irmão, avançou girando e sem querer destruiu a casa. O João-de-Barro mais uma vez refez a casa toda. Dessa vez, cansado, ele não quis convidar ninguém pra ver, só entrou e deitou para dormir. Veio então um humano, e sem ver, acabou pisando na casa, e por pouco não esmagou o pobre João-de-Barro.

Enfurecido, o João-de-Barro foi até a casa das abelhas, a Colmeia, e perguntou como elas se defendiam quando alguém ameaçava destruir a casa delas. Elas responderam que algumas abelhas faziam a guarda da Colmeia. O João-de-Barro agradeceu a ajuda, e saiu a cata de outros pássaros e os convidou a morar com ele. Nenhum quis, e a resposta era "pra que um pássaro, tendo asas, escolheria morar em algum lugar que não fossem os céus?".

O João-de-Barro então foi até as formigas, que usavam um material semelhante ao dele para fazer suas casas. Ele perguntou como elas faziam para não terem sua casa destruída o tempo todo por tempestades, apesar do material sem ainda mais sensível que seu barro. Elas responderam que na verdade a casa era dentro da terra, e por isso não sofria com ventos e tempestades. O João-de-Barro descartou a casa sob a terra: pássaros morando assim não vai dar certo!

O João-de-Barro decidiu que a floresta não tinha respostas, a floresta só tinha problemas: animais descontrolados, tempestades, humanos insensíveis. Ele decidiu voar para longe dali e descobrir um jeito de criar uma casa que não precisasse da natureza. O João-de-Barro encontrou então outros humanos, outras formigas e outras abelhas, em uma floresta diferente, uma floresta cinza e nebulosa, onde os humanos criaram uma nova forma de casa, juntando um pouco das formigas e um pouco das abelhas: Eram casas que tinham fundações dentro da terra, protegidas por outros humanos e feitas de um material muito resistente.

Encantado com a descoberta de uma nova casa, o João-de-Barro conversou com uma abelha daquele lugar, e ela respondeu que o concreto não era totalmente seguro, pois criava tinha rachaduras com o tempo. As abelhas continuavam morando em Colmeias, mas agora presas no concreto. Triste, o João-de-Barro decidiu que não ia construir mais casas.

Ao ver o pássaro triste, uma formiga desse lugar contou que, explorando a casa de concreto, ela encontrou um lugar completamente diferente, indestrutível, que parecia a casa de terra das formigas, pois também tinha tuneis, mas era de um material cinzento e gelado. O João-de-Barro então pediu para ver o material, e quando o viu, decidiu mostrar à abelha, para pedir uma opinião. A abelha, horrorizada, disse que aquilo era o material da morte. Que os humanos usavam aquilo para destruir casas, matar animais, plantas e até mesmo outros humanos. E terminou pedindo ao João-de-Barro que jamais usasse aquele material.

O João-de-Barro decidiu que faria uma casa daquilo a qualquer custo. Ele foi até o Humano, contou toda a sua história, desde a primeira casa na floresta que fez até a sua viagem e descoberta do material indestrutível. O Humano, percebendo que o João-de-Barro viera de um lugar inexplorado, disse que ensinaria o João-de-Barro a construir uma casa daquele material, o ferro. Em troca o João-de-Barro deveria mostrar onde ficava a tal floresta de onde viera.

O João-de-Barro ficou encantado com a boa vontade do Humano, e perguntou quando teria a casa. O Humano respondeu que primeiro teria que preparar a floresta para receber a casa de ferro e depois iniciaria o projeto da casa. Ele levaria vários outros humanos junto, com grandes máquinas, para fazer a casa nova. O João-de-Barro ficou emocionado com a demonstração de carinho do Humano, então guiou todos a floresta.

Chegando lá, o Humano sinalizou ás maquinas, e para o horror do joão de Barro, o ferro das maquinas começou a girar e avançar sobre as arvores, destruindo a casa das Abelhas. O Humano, munido de armas de ferro, atacou os Humanos da floresta e derrubou suas casas. As rodas de ferro das maquinas destruíram a casa das Formigas. Horrorizado, o João-de-Barro perguntou por que o Humano estava fazendo aquilo. Ele respondeu que para morar na casa de ferro, o João-de-Barro não podia morar na floresta.

E assim o João-de-Barro mudou de nome e hoje mora na numa nova floresta, cinza e nebulosa, que ele descobriu se chamar Cidade.