Que Canta, Seus Males Espanta !

Havia em um certo lugar, um castelo onde morava um rei muito rico e poderoso. Ele era muito temido porque, por possuir um grande e muito bem treinado exército, ele simplesmente se apoderava de tudo aquilo que fosse do seu interesse; terras, palácios e até mesmo escravos. Mas ele tinha também uma mania que era muito conhecida de todos; ele gostava de pássaros canoros. Eles estavam em práticamente todos salões do seu imenso castelos, sendo alguns deles muito raros, trazidos de terras distantes e até de várias partes do mundo. E entre estes, havia um que era o seu xodó e que ficava em uma enorme gaiola dourada, estratégicamente pendurada bem na porta de entrada do salão principal do castelo; era um belíssimo curió.

Ele tinha um tratamento todo especial; todas as manhãs um servo exclusivo vinha para trocar a água e colocar à sua disposição uma infinidade de rações e frutas frescas, sendo que aquele ritual diário era acompanhado por um bando de pássaros que, empoleirados nos galhos de uma frondosa árvore que enfeitava os belos jardins do palácio, aguardavam ansiosamente por aquele momento, pois sabiam que aquela serviçal depois iria jogar fora aquelas delícias ali, nas proximidades de onde eles se encontravam.

E ele, lá da sua enorme gaiola dourada, se divertia muito enquanto, saboreando os seus deliciosos desejuns, ele via aquela 'nuvem de pássaros', práticamente se atirar sobre aqueles seus 'restos de comida', o que costumava acontecer todo santo dia.

Até que ele começou a perceber que havia uma pequena ave que pousava sempre e todos os dias em um mesmo galho e que, ao invés de se atirar sobre a comida, ficava ali; por um longo tempo olhando fixamente para ele, mesmo depois de todos os pássaros já terem ido embora.

E foi então que, movido pela curiosidade, ele pediu au falcão seu amigo, que por ser ensinado vivia solto, que fosse até lá e trouxesse até ele aquela intrigante ave. E quando ela chegou, ele viu que se tratava de uma pequena coruja. Sem mais delongas, ele foi logo perguntando: "-Bom dia! Por favor, satisfaça a minha curiosidade; quem é você e por que é que em práticamente todas as manhãs, mesmo junto daquela multidão de pássaros que vem em busca de comida, você não come nada e ainda fica o tempo todo olhando com esses enorme olhos para mim?" A pequena ave respondeu: "-Bom dia! Meu nome é Lia, sou uma coruja e os meus hábitos alimentares são diferentes daqueles pássaros e a razão de eu ficar sempre lhe observando é porque eu ainda sou muito nova e estou precisando aumentar os meus conhecimentos a respeito de todo esse mundo que nos cerca." Então o curió lhe disse: "-Certo, até aí tudo bem; sei que todas as corujas são sábias, mas ficar lá de longe, só me espionando, vai poder lhe ser útil em que?" E a corujinha respondeu: "-Eu vou lhe confessar; eu queria descobrir qual a razão de você, com esse seu mavioso canto que a todos encanta, cantar tanto rodas as manhãs, se mesmo estando cercado de todo esse luxo e conforto e com toda espécie de comida ao seu dispor o dia todo, você vive preso atrás dessas barra douradas da sua luxuosa gaiola? E foi então que o curió, cheio de sabedoria respondeu: "-Lia, você ainda é muito novinha; vê-se logo que você ainda vai ter muito que aprender, porque se já fosse uma velha coruja, certamente já saberia aquele velho ditado que diz: "-Quem canta, seus males espanta!" E finalizou: "-É por isso que eu canto tanto; quisera eu estar voando por aí, livre e solto como você, cantando toda essa beleza que é a liberdade!"...