Tem vida na morte

Hoje senti o bafo gélido da morte em minhas entranhas; me entrego, "vejo o deslumbre da vida até em morte" eu pensei em voz alta, após um susto que não tivera há tempos; me deparei com o que parecia a silhueta da morte, vinda do que parecia uma vida de caminhada, mas pacientemente ela veio ao meu encontro. Suas vestimentas escuras e desgastadas pelo tempo e o que parecia que suas vestes estavam balançando como se até o vento estivesse contra ela, mas lá não pairava nada além de espaço e luz, e quando ela finalmente se aproximou, começo a falar.

Digo que não estou preparado para morrer. O argumento da morte foi um longo silêncio, seguido de um breve ruído que parecia ser a prévia de palavras que há tempos não eram ditas. Algo saiu: " nesse cálice estão todas as lágrimas derramadas pelas pessoas para você", e me deu. Rapidamente, ao fundo passou o que seria as memórias vividas e coisas pelas quais era lembrado, e quando finalmente concluir meus pensamentos da situação e só restava o cálice entre eu e a dama morte nós entreolhamos, mesmo ela estando com seu capuz que cobria a primeira parte de seu rosto. E de repente, como um tiro disparado pela mesma que me derrubou, ela disse, "beberdes dessas lembranças, mas não para lembrar, e sim para as que digira;sacie sua sede de vida em morte; não posso levar de ti a vida, mas prove desse gosto de mel, que é pelo que você será lembrado". Logo percebi que a bebida era doce a um ponto quase insuportável. Ao primeiro gole perguntei a ela se tinha muitas lembranças de mim naquele drinque. Ela respondeu que ali só havia lembranças boas a meu respeito, já as ruins foram descartadas no momento de minha morte.

Logo me senti enjoado, mas não pela bebida extremamente doce, e sim pela falta do azedo da maldade que cometi em vida.

"Bebemos no fim para esquecer não dos momentos ruins, mas dos bons também ... O ser humano tem a mediocridade de tentar chegar à neutralidade, mas a verdade é que só vivemos os bons momentos e eterniza-mo-los, esquecendo o pior em nós e a dor que causamos aos demais".

VicentTitor
Enviado por VicentTitor em 03/06/2019
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