Jardim De Um Quintal

Após uma conturbada e agoniante viagem pendurada e presa no bico de um Canário, uma pequena Lagarta caía sobre uma folha verde, um pouco ferida procurou abrigo naquele mesmo local que a camuflava. Portanto, um apreciável silêncio do bater de asas de uma bela Borboleta foi motivo de uma indignação interna daquela insignificante Lagarta transtorna. Talvez seja por sua vida turbulenta, instável e complicada, ou pode ser que seja pelo fato dela não aceitar tamanho silêncio e calmaria ao ver aquela Borboleta flutuar com aquele apreciável silêncio, e aquilo era inaceitável por ela, saber que elas viviam no mesmo mundo.

Continue Borboleta, continue a "borboletar"

Não preciso Borboleta, não vou me invejar

O meu destino é sofrer e sangrar

Vê-la voar, ah, isto não posso suportar!

Então vá, vá voar, voe para jamais voltar!

(...)

Surpreendentemente, um assobio notável seguido de um inesquecível vulto amarelado que passou rasante e faminto, sem compaixão e sem escrúpulos, sem medo e preciso, deixando apenas sobrar o lado esquerdo da asa do que um dia foi uma bela Borboleta. Agilizou-se a lagarta em desespero e encontrou um esconderijo milagroso pelo solo, uma folha seca inclinada por uma pedra, pôde então presenciar a silenciosa queda do que restou de uma bela Borboleta e não conseguia acreditar enquanto encarava o lado esquerdo daquela asa que restava.

Ah, Borboleta, não acredito que acabou!

Tanto se exibiu que sua vaidade a matou!

Ah, Borboleta, eu sempre quis voar...

Mas com meu destino só posso sonhar

E aqui sempre à desejar; voar, voar e voar.

Me perdoe Borboleta que voava

Me perdoe pelo mal que eu lhe desejava.

(...)

Debaixo daquela folha seca, a Lagarta estava mal e arrependida, com medo, porém, discretamente tentava observar o assassino assustador, que já não estava mais por perto, nem seu assobio notável e nem vulto amarelado. De repente, se sentiu estranha a Lagarta, inclinou-se para trás, escorou-se naquela pedra, aos poucos sentiu seu coração parar e sua mente embaralhar, e tudo ficava escuro, tudo ficava mais confuso enquanto sentia que algo cobria todo seu corpo.

Já não posso enxergar e nem me mover

Tudo aqui é escuro, então isto é morrer?

Ora, ouço apenas meu pensamento

E até sinto aquele apreciável silêncio

Talvez eu encontre a Borboleta

Para me desculpar

Talvez eu só precise esperar...

Oh minha amiga, como eu queria voar. . .

(...)

O seu último suspiro foi seu pensamento com o desejo de voar. Logo tudo se calou dentro e fora da Lagarta e um longo tempo se passou...

Sinto um minúsculo movimento

E voltou meu pensamento...

Ainda me sinto travada

Sinto também uma tarde ensolarada...

Aqui não está mais escuro

Eu até enxergo uma pequena abertura

Junto com o velho solo sujo.

(...)

No final daquela tarde ensolarada, finalmente descansou sua vida turbulenta, instável e transtornada. Com o apreciável silêncio do bater de suas asas, uma Lagarta, enfim renovada. Refletia sobre toda a sua nova existência uma infinita gratidão por enfim sentir-se flutuar com tanta calma e paixão por aquilo que sempre quis, aquela pequena e insignificante Lagarta finalmente se encontrou.