ENCONTRO AMOROSO DE RIOS
Era uma vez um rio que seguia seu rumo direção ao deságue. Fixava pelo caminho um pouco de si, sempre renovando seus pedaços. Afinal, um rio nunca é o mesmo.
Em certa altura da viagem o rio sempre encontrava outro rio. Sabia que era outro porque nunca se misturavam. Ele é claro; o outro, escuro.
Quem vê do alto sabe que são dois. Quem vê de perto até tenta pegar um pouco de cada, mas na palma da mão são iguais.
Entretanto, toda vez que passava por ali sentia que algum dia não haveria mais essa diferença. Enquanto caminhavam juntos, suas águas iam de penetrando, e abaixo da superfície já quase não sabia dizer qual era a sua.
O pouco caso que fazia antes ia se transformando em um frisson. Inaceitável no começo, inevitável agora. Já não importa mais o fim da viagem, só o momento do encontro, da troca de fluidos, do roçar das águas.
Quem vê do alto não imagina os amores. Quem vê de perto sente os calores na palma da mão.