A Felicidade

A verdade é que na noite anterior havia chovido mas estranhamente aquela noite esta estrelada. Uma brisa fria me tocou o rosto e avancei calmamente.

Estava feliz e isto me bastava. Nem me agasalhei deixando o sobretudo na varanda. Em pouco tempo me aqueci e isto me animou. Saltei da calçada em um pé só quando vi a luz. Era uma luz forte e ofuscante.

Por um momento me cegou me deixando paralisado.

Um ruído estridente engoliu a luz e fiquei tonto. Quis me recuperar do susto e procurei explicação. Um vazio se apoderou de mim. Tentei me lembrar o que aconteceu e me espantei. Não sei o que estava fazendo ali. Puxei na memória e minha cabeça doeu. Sem entender onde estava mirei ao longe. Vi uma longa avenida e um grande movimento. Procurei algo familiar mas não encontrei. Segui desnorteado e uma angustia me invadiu. Carros. Havia muitos carros passando mas não me lembrava por que estava ali. Deu um branco... só pode ser. Já tinha ouvido falar de pessoas perdidas por não se lembrar.

Vaguei por horas com muita gente passando sem me olhar. Depois de algum tempo, cansado, implorei proteção. Já era madrugada, muito exausto quando pensei em desistir. Mas desistir de que, se não me lembrava?

Naquele escuro, tropecei em algo e caí. Tentei me desvencilhar mas parecia lama. Me arrastei molhado e com frio em qualquer direção, sem me importar, quando alguém me puxou.

Com o coração pulando e olhos embaçados, vi um rosto de anjo.

Espantado e sem medo fui levado a um lugar desconhecido e tranquilo. Um banho quente me aqueceu. Era isso. Estava me lembrando. Vagamente me lembrei de pessoas em volta de mim me chamando. Lembrei de uma cama quentinha e comida. Me lembrei de abraços e de carinhos. Pelo barulho nesta casa também tinha abraços e carinhos. Estava lembrando de tudo que eu tinha. O banho acabou e uns anjos me enxugaram. E me vestiram e me abraçaram e me apertaram como se estivesse em minha casa.

Então ouvi vozes familiares. Vozes e rostos que eu conhecia e amava. Não era um sonho. Não estava mais perdido. Queria correr, abraçar e agradecer, mas um nó na garganta me impedia. Então, com o coração saltando pela boca, desabei, desmontei e desabafei.

Sem respirar, lati desesperadamente de alegria até desfazer aquele nó.

22 de outubro de 2015

David T Garcia

David T Garcia
Enviado por David T Garcia em 29/10/2016
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