Casuais ironias
Outrora, uma borboleta repousava sobre o galho de uma árvore. E neste mesmo galho passava uma lagartixa.
Então, a borboleta disse...
---Ei, ser ignóbil e rastejante. não vê que atrapalha o meu descanso. Vai-te daqui. Favoreça-me com sua ausência
E a lagartixa passou o mais rápido que pode...
---É, sobremodo, muito lerdo. Deixarei este lugar e voarei para outro, onde sua presença repulsiva não possa me incomodar... E voou.
A lagartixa suspirou e disse: "Quão pobre miserável sou eu...". E adormeceu.
Um casulo foi se fornando em torno dela até se tornar totalmente em um invólucro. Se passaram alguns dias...
Quando ela rompeu a estrutura que a revolvia, ressurgiu como uma das mais belas borboletas.
E voou, estupefata com a metamorfose. Sobrevoou os campos e planícies. Sobre o bosque. Sobre o vale.
Até que em algum dia ela encontrou, agonizando em uma poça de lama, a borboleta que a humilhou.
---O que lhe aconteceu? Perguntou ela.
---Estava contemplando minha beleza refletida no rio, quando imóvel em meu estupor, não notei que uma garça havia se aproximado. Ela me atacou, mas consegui fugir. Porém, os ferimentos foram letais... Disse, aos espasmos, a moribunda.
---Você foi capturada em sua própria soberba. Eu fui a lagartixa que dias atráz humilhara, lembra-te? Agora sou como você, mas vivo...
E voou dali, desejando poder ter feito alguma coisa para salvá-la.