PROJETO REFUTADO
Numa pequena cidade, onde as pessoas julgavam-se ocupadas, vivia um homem sozinho numa pequena casa inventada, conforme as necessidades dele, sem jardim, sem plantas e sem animais domésticos, ou coisas desses gêneros, capazes de torná-lo ocupado.
Se as pessoas daquela pequena cidade julgavam-se ocupadas devido a múltiplas tarefas, desde cuidar das famílias, das casas, dos jardins, das plantas, dos animais domésticos, do trabalho salariado, etc, etc, o homem que vivia sozinho, qual se chamava José e, hipocoristicamente, conhecido como “Zezinho”, era quarentão, solteirão e aposentado, qual projeto ambicioso era em levar a vida estável, fazendo aquilo que ele mais gostava: conversar com os bons amigos, acampar, pescar e nadar nos rios próximos aquele lugar.
Zezinho levava a sério o seu projeto ambicioso, até que, tempos depois, ele foi deixando-o de lado devido aos vizinhos, quais, ao descobrirem ele e nele a boa qualidade de servi-los gatuitamente e com bom grado, não mais deram a ele descanso. Tudo o que acontecia nas casas da vizinhança, desde a um desentendimento até a alguns grandes ou pequenos reparos, Zezinho era acionado e aparecia cheio de generosidade para ajudá-los a resolver os problemas.
Aconteceu com o tempo que Zezinho acabou ficando preso aos favores dos vizinhos e, num determinado feriado, após combinar com alguns amigos, ele resolveu acampar em um lugar que pudesse pescar e ficar tranquilo. Na hora em que ele estava saindo de casa, uma das vizinhas veio ao encontro dele pedindo-lhe o grande favor de servir-se de vigia na casa dela, porque, ela e a família viajariam durante aquele feriado e não confiavam em deixar a casa ao léu. Zezinho, todavia, como havia assumido o outro compromisso com os amigos, de forma educada, pela primeira vez, recusou ajudá-la, explicando-a sobre o passeio que faria também naquele feriado com os amigos dele. Ele, querendo também confortá-la, disse a ela ser aquele lugar tranquilo e que, no termo da boa vizinhança, todos ali olhariam a casa dela, assim como a dele também, qual ficaria fechada. A vizinha, inconformada com a resposta e a explicação de Zezinho, saiu, pois, possessa de raiva, falando palavras incongruentes.
Quando findou o feriado e Zezinho chegou em casa cansado de tanto se divertir, levou um susto danado. O portão e a porta da casa estavam arrombados; as vidraças das janelas estavam quebradas e as poucas mobílias e as coisas domésticas espalhadas por todos os lados, alé de estragadas. Embora alguns vizinhos aparecessem nas janelas e espreitassem o que acontecia na casa de Zezinho, ninguém se deu a importância de prestar-lhe qualquer solidariedade. Diante desse e de todos os insultos sofridos, Zezinho não quis fazer ocorrência policial, não quis chamar ninguém da vizinhança para testemunhar o ocorrido, e, como ele tinha a instintiva suspeita de quem fosse responsável por todos aqueles malfeitos, ele, pacientemente se recolheu à sua cama e dormiu. A partir do outro dia, ele, conseguinte, ocupou-se dos reparos da casa, mandando ampliá-la, construir um jardim, colocar vasos de plantas na varanda e fazer no quintal um grande viveiro para que ele pudesse cuidar de dezenas de pintinhos. Pensava ele, sorridente, “Se os vizinhos abusavam do meu tempo, pedindo-me favores, porque eu não tinha pinto pra dar água, agora, tenho.” Ele, portanto, cuidaria dali por diante em dar plena importância ao seu novo projeto terapêutico e ocupacional, deixando fora do seu convívio as pessoas ingratas.
MORAL DA HISTÓRIA: “Quem paga o bem com o mal, perde para sempre a moral.”