O último voo.

O ÚLTIMO VOO

Estava chegando a hora, seria seu último vôo. Comandante Moacyr finalmente depois de 30 anos de profissão, iria se aposentar. Agora sim teria tempo de dedicar-se à família, aos amigos e aos seus dois cães, Siang e Ziong, “dois lindos dálmatas que ele havia comprado em uma viagem que fez até a Irlanda”. Sim, continuaria voando, mas só a passeio, com esposa e filhos, coisa que nunca tinha feito.

Chegara a hora então de decolar, conferiu os inúmeros controles do Boing 747 que o acompanhara por todos esses anos. Iria sentir saudades desse gigante de duas asas, mas a hora era essa. Não via o momento de chegar em casa, abandonar seu uniforme e descansar em paz sem as preocupações do dia a dia que sua profissão lhe proporcionava.

Os 234 passageiros apertaram seus cintos e acomodaram-se em suas poltronas. Suavemente o 747 foi levantando vôo, foi uma decolagem tranqüila e exuberante, parecia até que o avião se despedia daquele seu parceiro de várias datas.

A 7.000 metros de altura, os passageiros puderam relaxar. Muitos desses já colocaram suas vidas nas mãos do Comandante Moacyr, a confiança era total, alguns até já haviam visitado a cabine de comando.

Depois de várias horas de vôo, bem ao longe, Comandante Moacyr já podia avistar sua cidade natal, onde viveu com sua família até os 18 anos. Eram apenas 200 mil habitantes, hoje já se conta 1 milhão, uma bela cidade. A emoção começava a tomar conta de seu corpo, toda uma história de sucesso estava prestes a chegar ao fim. Mas para ele não importava, teria uma vida de muitas alegrias com a família que tanto amava.

Acionou o trem de pouso, estavam a poucos metros do chão. Em uma manobra sutíl, Comandante Moacyr aterrisou seu imenso avião sem uma única turbulência. Os 234 passageiros foram descendo um a um, Comandante Moacyr foi o último a descer, queria se despedir de seu velho amigo, dar seu último adeus. Ao chegar na porta de saída, uma lágrima escorreu de seus olhos. Desceu as escadas, a emoção estava estampada em seu rosto. Seus familiares o esperavam no saguão do aeroporto. Sentiu, um nó na garganta e um forte aperto no peito, caiu de joelhos. Comandante Moacyr teve um infarto fulminante. Era seu último vôo.

Carlos Amilton Oliveira
Enviado por Carlos Amilton Oliveira em 26/05/2010
Reeditado em 01/04/2020
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