Um sonho de liberdade.
UM SONHO DE LIBERDADE
Já se passavam 4 horas que Dinka havia fugido da senzala do Sr. Hortêncio. O sol queimava-lhe o rosto, parece até que ia pegar fogo. "Como é que o sol pode ser tão quente?" Pensava Dinka. Seu pai dizia que era (*Ngewo) que mandava seus empregados jogarem lenha no forno do céu quando estava zangado com os humanos aqui embaixo. Mas ele nunca acreditou muito nessa história, achava muito esquisito esse negócio do céu ter forno. Dinka tinha vontade de ser Deus, pois assim estaria longe do Germino. "Germino era o Capitão do Mato, caboclo forte e malvado, jamais perdoava um negro que fugia da senzala, quase matava de bater, só parava quando já não havia mais pele nas costas do negro fujão. Mas Dinka havia feito uma promeça, um dia iria matar aquele miserável que o perseguia e o maltratava tanto.
O tempo corria devagar, havia um tempão em que andava por aquelas bandas, já não aguentava mais, parece até que caminhava em círculos, teve a impressão de já ter passado por aquele local por várias vezes, precisava encontrar um caminho. Certamente naquele momento o Capitão do Mato já estaria à sua procura. Derrepente Dinka ouviu um ruído, sentiu um frio na espinha, rapidamente se embrenhou na mata tremendo de medo, fechou os olhos e ficou imóvel feito uma pedra, o suor escorria-lhe pelo rosto queimado pelo sol. Era a terceira vez que fugia, se o Capitão do Mato lhe pega, dessa vez iria matá-lo. Ficou naquela posição por vários minutos, mas depois do susto pôde sorrir aliviado, era apenas um pequenino porco do mato que passava por ali em busca de alimento.
Germindo já havia arriado seu cavalo, pegou o chicote mais grosso, aquele feito de coro de búfalo que guardava para eventos especiais, principalmente aqueles em que um negrinho danado fugia. Amarrou a gibeira no arreio, conferiu a bala na cartucheira, ajeitou a pecheira na bainha e saiu em disparada. Não via a hora botar a mão naquele negro danado.
Dinka sentiu fome, haviam horas que não se alimentava. Quando fugiu não teve tempo sequer de pegar um pedaço de pão seco. Levava na mochila apenas uma pequena botija de barro com um pouco de água que achou debaixo da cama. Tinha que comer alguma coisa, antes que acabasse não tendo mais forças para continuar fugindo. Sentiu uma bambeza nas pernas, ficou sem saber o que fazer naquele momento. Pensou em caçar, mas caçar o que? A única criatura viva que havia visto por ali, era aquele porquinho, e já fazia um tempão. Também não iria matar uma criatura tão inocente, bastava ele com seu sofrimento. Já tinha ouvido falar em comer raízes de árvores. Procurou uma lhe parecesse comestível, avistou uma bem novinha à sua frente, cavou com cuidado à sua volta, puxou as raízes mais tenras, limpou-as passando em sua camisa já estava em farrapos. Mas ao leva-las à boca, sentiu um amargo tão grande quanto o que era sua vida. Não quis comer mais nada.
Estava muito cansado, procurou um lugar para descançar. Recostou-se em um arbusto, tomou cuidado para que não ficasse muito esposto. Dormiu, sonhou que era Deus, que não precisava mais fugir do Capitão do Mato. Dinka acordou com um aperto na garganta, não respirava, não podia correr, era o Capitão do Mato apertando-lhe o pescoço com o chicote de coro de búfalo. Suas vistas escureceram, Germino o arrastava pelo chão como se fosse um tronco de árvore. Sentiu um gosto de sangue na boca, seu corpo inteiro naquele momento sangrava. Mas o Capitão do Mato não teve pena, parece que o demônio havia tomado conta de sua alma. Com uma brutalidade monstruosa, amarrou as mãos do rapaz, colocou-o de pé, e com a outra ponta da corda amarrou no arreio do cavalo. Quaze que o leva arrastado até a fazenda. Chegando até a senzala, Dinka foi direto para o tronco. Dinka teve uma impressão ruim. Germino bufava pelas narinas, começou a chicotear o pequeno Dinka. O Capitão do Mato não queria parar de bater, já não havia mais pele nas costas do rapaz. Dinka lembrou-se que não era Deus. Depois de horas de angústia, Dinka morreu no tronco, sem sua vingança e sem sua liberade... *(Negewo - Deus dos Mende de Serra Leoa)