Cotidiano

eles estão jogando cartas

alheios ao mundo

escutando um prelúdio de Wagner

e a tempestade assola as almas

aos que somente estão de fora

a calçada, a rua

a aridez de um asfasto quente

faz-se conforto

e o destilado acalma

a tristeza de um amor

arrancado de si

jogado em veias mortas

quer coisa mais bonita

do que um bando de viventes sujos

e desbocados

jogando a sorte fora

de costas para o mundo?

não, não adianta ficar cá dentro

fazendo planos

e inalando o perfume

dos que já se foram,

entregues ao nada

gira gira e transforma

eu prefiro os loucos

no alto de sua sabedoria

largados e cônscios

do acaso da vida

a desfilar despenhadeiros de poesias

mortas ou sem dono

calidez de uma queda

cotidiana.