Opinando e Transformando: Daniel Rodas
Nome: Daniel Rodas (Teixeira-PB – 1999) é escritor, poeta e dramaturgo. Estudante de Letras (UEPB). Editor da Revista Sucuru. Autor da plaquete Eros e Saturno (Editora Primata, 2021) e do livro Umbuama (Editora Urutau, 2021), tem textos publicados em vários meios eletrônicos, a exemplo das revistas Mallarmargens, Ruído Manifesto, Toró e Subversa. Faz parte do grupo de teatro ExperIeus da cidade de Monteiro-PB, onde colabora como ator. Pensa na poesia como um fluxo, como o fluir incontrolável da vida.
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Em sua opinião, o que é cultura de paz?
Paz é um termo muito amplo. Podemos nos referir à “paz interior”, à “paz mundial”, à “paz coletiva”... Acredito que todos esses pontos são intercambiáveis, que todas as formas de “paz” se entrelaçam. “Cultura”, para mim, tem haver, sobretudo, com identidade, com aquilo com que nos identificamos, a “nossa cultura”. Portanto, para mim, cultivar uma cultura de paz é, essencialmente, identificar-se com o próprio conceito de paz, tomar para si esse conceito, tanto no sentido individual, quanto coletivo, pois um só possível em conjunto com o outro. Não posso estar em paz quando o mundo está mergulhado em ódio, assim como o mundo não pode estar em paz se eu, como indivíduo, estiver mergulhando em ódio. Cultura de paz, portanto, é esse hábito de equilíbrio, essa via de mão dupla pela qual buscamos construir um mundo mais justo, mais ético, diverso e igualitário, o que só é possível através de um equilíbrio tênue entre as esferas individuais e coletivas, tomando-as como indissociáveis.
Como podemos difundir de forma coerente a paz neste vasto campo de transformação mental, intelectual e filosófica?
Acredito que tem relação com a resposta anterior... Difundir a paz é algo que só se faz possível quando agimos individual e coletivamente, na nossa esfera privada e na coletiva, entendendo-as como intrinsecamente indissociáveis. É algo que envolve prática, coerência, interdependência entre o dizer, o pensar e o agir. Não basta falar sobre a paz, nem pensar sobre a paz, é preciso agir. E acredito que, no momento histórico em que vivemos, a luta pela paz é, paradoxalmente, um confronto, um embate contra o ódio. Devemos ser intransigentes com o ódio. Não podemos tolerar a opressão, o preconceito, os múltiplos fascismos... Precisamos erguer a cabeça e combater coletivamente tudo aquilo que atrasa a nossa sociedade e gera violência, o que implica diretamente numa luta constante por direitos e pela manutenção desses direitos. Não podemos tolerar o medo, a opressão e a intolerância. A luta pela paz é um combate constante contra o ódio em todas as formas.
Como você descreve a cultura de paz e sua influência ao longo da formação da sociedade brasileira/humanidade?
Acho que sempre fomos devedores nesse quesito... Por toda a história da humanidade, o que se viu foi um sem-fim de violência, escravidão, desigualdade e injustiça, entremeados por alguns poucos momentos de esperança e ternura. A história de nosso país, originada da mundial, é igualmente injusta e violenta. Vivemos numa sociedade assentada sobre o sangue dos indígenas, dos negros, das mulheres, dos homossexuais, dos pobres... Um país cuja história pode ser resumida em três palavras: roubo, injustiça e escravidão. Isso é o nosso passado e boa parte do nosso presente. Mas ainda temos o futuro para mudar.
A cultura, a educação liberta ou aprisiona os indivíduos?
Há muitos tipos de educação... Como professor e estudante de licenciatura, sei que nem toda educação é libertadora. Em linhas gerais, podemos dizer que há dois tipos básicos de educação: uma opressora, rígida e castradora, cujo único objetivo é manter a passividade do povo diante das injustiças e limitar a criatividade dos indivíduos; e uma realmente libertadora, democrática e humana, capaz de despertar o lado criativo e o desejo de mudança, de impulsionar transformações genuínas. É nesse segundo tipo de educação que acredito. A educação da esperança, a prática da liberdade, como diria Paulo Freire. Uma educação que não se limita a formar mão-de-obra ou massa de manobra, mas que assume a função maior do ato de educar: formar cidadãos, seres humanos conscientes e éticos. É essa educação que quero ajudar a construir.
Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância na difusão do despertar da humanidade.
A internet abriu as portas para muitas vozes, algumas delas conscientes, outras nem tanto... Infelizmente, o que vemos hoje é um uso cada vez mais nocivo das mídias sociais: fake news, discursos de ódio, enxurradas de preconceito e “polemizações” rasas, sem qualquer embasamento além do achismo e do ódio de quem as inicia... Todo esse fenômeno é uma ameaça flagrante aos direitos humanos e à democracia, e já estamos vendo o resultado disso... Mas isso não significa que o espaço digital seja, em si, nocivo. De forma alguma. Mas acredito que é preciso resignificá-lo, propor um uso consciente, praticar novas formas de interação que priorizem o diálogo e o debate saudável e democrático. Isso só é possível, como disse lá no início, através de uma tomada de consciência em todas as esferas. E a educação, claro, por seu alcance coletivo, pode e deve ter um papel central nesse processo.
Qual mensagem você deixa para a humanidade?
Não sei se para a humanidade – confesso que não me acho digno de tamanha responsabilidade – mas, sobretudo, para mim e para aqueles que quiserem ouvir: amar. Amar e dialogar. Dialogar e resistir. Resistir e lutar. São esses os verbos que precisamos colocar em prática todos os dias. Essa é a mensagem que gostaria de deixar.