ENTREVISTA COM O RECANTISTA - ANDERSON ROBERTO DO ROSÁRIO: O ESCRITOR DE SUA PRÓPRIA ALMA

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FELIZ 2021 PARA TODOS!

E PARA MOSTRAR QUE VOLTAMOS COM TUDO E MAIS UM POUCO, RETOMAMOS COM O MARAVILHOSO QUADRO DAS ENTREVISTAS COM OS MELHORES RECANTISTAS. E O DE HOJE PROMETE!!! CONFIRA!

Com o intuito de divulgar excelentes recantistas, criei uma simples entrevista que aborda apenas temas relacionados à escrita. Enviei para meus recantistas favoritos. Todos leio por amor e muito gosto. Após ler a entrevista, sugiro que procure pelo trabalho dos autores entrevistados, pois além de amar seus textos, novos vínculos de leitores poderão nascer a partir desse contato.

Agora inicio o ano com um cara que me estimulou a permanecer escrevendo e não desistir. Falo de um autor maduro, que é experiente tanto na leitura quanto na escrita. Tendo publicado pela Amazon O LIVRO DOS QUATRO, sua criatividade é ímpar, seu humor é cativante e seu lirismo é sublime. De uma escrita muito fluída, mescla vários gêneros da literatura. Sem falar que é um dos autores consagrados do CONCURSO LITERÁRIO DE TERROR E SUSPENSE aqui do Recanto das Letras. Apaixonado pela literatura, ele muito amavelmente aceitou ser entrevistado e cá estamos nós para descobrir quais os segredos dessa mágica ímpar que as obras de Anderson Roberto carregam.

CONHEÇA MAIS DE ANDERSON ROBERTO DO ROSÁRIO

O ESCRITOR DE SUA PRÓPRIA ALMA

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*QUANDO VOCÊ COMEÇOU A ESCREVER?*

A primeira lembrança que tenho de escrever é dos meus 15 anos. Eu sempre fui um cara tímido, sem muitos amigos e bem observador. Então comecei um romance chamado Lisa, sobre uma jovem com problemas de se entrosar com as pessoas. Ela conhece um cara que seria seu assassino, mas ele acaba não matando ela, enfim. Esse romance não foi concluído e ainda flutua no limbo da minha imaginação. Penso em um dia terminá-lo. Fora esse eu me aventurava em poesias e poemas, falando de amores, platônicos obviamente e também do cotidiano, solidão, tristeza, alegria, amor e sentimentos humanos em geral, o que permeia a poesia e é sua essência

*POR QUE VOCÊ ESCREVE?*

Pergunta difícil. Bom, deixa eu ver. Escrever é como amar eu acho né? A gente não sabe porque ama alguém. É algo que vem como uma inspiração divina eu acredito. Eu gostava de desenhar quando pequeno. Eu até era bom nisso. Meio que a escrita veio dessa necessidade de expressar meu lado artístico. No começo era mais poesia. Eu adorava ler e ver a métrica, as rimas. Achava belo, tentava imitar. Já os contos, que são meu estilo predominante hoje só vieram com o amadurecimento, muito depois.

*O QUE VOCÊ ESCREVE?*

Eu escrevo predominantemente prosa contos e romances. E me aventuro em poemas e poesias, o que considero aliás mais difícil. Sou muito exigente com poesias, sou da velha guarda ainda, gosto de rimar e da métrica. Recitar um poema como se estivesse cantando. Os poemas épicos da antiguidade eram até divididos em cantos por causa disso. Bom, por causa das influências literárias eu foquei mais em escrever terror / horror / literatura fantástica e do absurdo. Então se vê muito esses gêneros em minhas obras.

*COMO VOCÊ ESCREVE?*

Escrevo da forma mais natural possível. Deixo vir a inspiração, sem forçar nada. Posso passar meses sem escrever nada. Inclusive estou passando por esse período de incubação agora. Mas geralmente me vem na cabeça uma ideia. Pode ser uma paisagem, um acontecimento, uma conversa ou uma referência de um livro, uma série ou filme. Surgindo a inspiração eu sento no meu PC, é onde preferencialmente eu gosto de escrever. O período da noite é o mais criativo pra mim. Sempre a base de café. Não tenho um ritual a seguir. Só café e a quietude do silêncio já fazem o clima. Geralmente eu debulho de cara muitas linhas até travar. Geralmente antes do desfecho dá essa travada, ou em uma virada da história. Aí leva tempo. As vezes trava mesmo e tenho que abandonar e voltar depois. A inspiração e a falta dela é mesmo um mistério até hoje. Depois eu reviso e tiro os excessos, repetições e corrijo os erros.

*POR QUE VOCÊ ESCREVE O QUE ESCREVE?*

Tem muitas questões envolvidas para responder essa pergunta. Precisamos de munição para escrever. E como conseguimos? Lendo. Vivenciando. Observando. É o conjunto de nossas referências e experiências de vida que nos dá a bagagem necessária para abordar nas histórias. Digamos que eu goste de incomodar. Eu gosto da sensação que o leitor vai dar um pulo do sofá ou da cadeira quando chegar naquela cena. Ou vai ficar curioso pra saber o que acontece com o protagonista ou querer desvendar o mistério. Vai xingar, vai ficar indignado com um final, que seja. Claro que não posso esperar só coisas boas. Uma vez alguém disse que a tarefa de escrever é solitária, mas quando alguém lê já não é mais. E imprimir tudo isso em textos com muita paixão e sentimentos a flor da pele envolvidos, isso me motiva. Por isso escolhi seguir por essa estrada.

*O QUE VOCÊ PRETENDE ESCREVENDO?*

Pretendo expressar minhas emoções e contar o que vim contar. Ter um público. Compartilhar histórias com pessoas que amem histórias, assim como eu. Sinto quase como uma obrigação e penso que todas as pessoas que tem esse dom, mesmo que não se tornem escritores famosos um dia, tem essa obrigação de mostrar suas coisas. Clarice disse uma vez que ela não se considerava uma escritora, e que ela não queria essa obrigação. Escrevia por escrever. Bom, pode ser que eu compartilhe esse pensamento. É ruim quando você é cobrado, criticado. Mas nem todos tem a sorte de escrever sem pretensões, como ela. Era bem sucedida. Tinha uma carreira de jornalista consolidada e não precisava viver da escrita. Mas isso não se aplica a todo o mundo. Ainda mais numa realidade como a nossa no Brasil. E para concluir, ser imortal. Quando eu me for, se alguém que seja pegar um texto meu, ler e sentir conforto em seu coração, sentir esperança e aprender algo, isso será algo indescritível. Um pedaço de mim ainda estará nesse mundo inspirando outras pessoas.

*SE INSPIRA EM ALGUM(A) AUTOR(A)?*

Me inspiro em vários. Eu sempre gostei dos clássicos. Então, A Odisseia de Homero, a Divina Comédia de Dantes, Shakespeare, Dostoiévski, Tolstoi, são inspirações que não podem faltar. Também do terror, óbvio, Edgar Alan Poe, H.P. Lovecraft, Guy de Maupassant, Ambrose Bierce e Gogol. Mas isso atrapalhou um pouco. Ler só os clássicos não é tão aconselhável, você precisa ler os contemporâneos também, afinal a literatura é um reflexo do seu tempo. Então agora estou mais focado no que se tem feito. Principalmente na ficção científica. William Gibson é um autor que me inspira. Dan Brown e Anne Rice também.

*QUAL SEU PIOR TEXTO E POR QUÊ?*

Difícil essa. E se eu disser que nenhum? Se um texto é ruim ele não vai pra frente, simples. Mas se eu analisar minha ampla gama de contos até aqui, eu posso dizer que um conto chamado Oliver, sobre um ET que é cuidado por crianças como um bicho de estimação, no século XVIII, talvez não seja a obra que eu mais admire. Uma, que mistura história de época com ficção científica e eu não domino muito esse tipo de história. E as aventuras e peripécias do personagem pareceram meio toscas, o que não me agradou muito.

*PODERIA DIZER DE CABEÇA QUAL O SEU TOP 5 TEXTOS AUTORAIS?*

Sim, vamos lá. Mas essa vai mais por carinho e apreço do que pela repercussão que os textos tiveram:

5 - SEGREDOS NUMA CAIXA (sobre um jovem que descobre um artefato capaz de relevar segredos de pessoas quando se põe qualquer objeto pertencente a essa pessoa dentro dela).

4 - R. M. RENFIELD (O que eu sempre me perguntei, como fã do Drácula de Branco Stoker, é o que teria acontecido com Renfield quando foi para o castelo de Drácula. Tento responder essa pergunta nesse texto).

3 - ANTES QUE A NOITE ACABE (É a história triste de uma jovem vampira que resolve ir a um baile de dia das bruxas sem fantasia nenhuma, mas como ela mesma. Fantasia pra que?)

2 - A SINFONIA DA MORTE (São as crônicas contadas pela própria morte sobre algumas figuras que ela encontra pelo caminho em seu ofício de ceifadora).

1 - O LIVRO DOS QUATRO (A obra que estou concluindo no momento e que está tirando o meu sono. Não dá pra falar nada a respeito ainda).

*NA SUA OPINIÃO, QUAL O SEU MELHOR TEXTO E POR QUÊ?*

Meu melhor texto está sendo O LIVRO DOS QUATRO. O que era pra ser um conto com final aberto e despretensioso, acabou se tornando uma obra muito maior. Foi fruto de sugestões de amigos e eu fui mandando bala. Meu estilo de narrativa está bem mais maduro e consegui fazer capítulos em primeira pessoa com a visão de cada personagem que entra na história. Foi uma experiência singular, nunca tentada antes. Além do que existem quatro histórias que permeiam o núcleo principal e elas são independentes e ainda assim interferem no destino do personagem principal. Está sendo um desafio e tanto e me fazendo pesquisar e estudar estilos de narrativa bem específicos e fixar ainda mais minha identidade como escritor.

*SE VOCÊ PUDESSE OPTAR EM VIVER SÓ DO QUE ESCREVE, VOCÊ OPTARIA? POR QUE?*

Eu não sei se assumiria esse tipo de responsabilidade. Acho que não. Eu demoro pra escrever quase sempre. São hiatos muito longos e ser cobrado por prazos e ser exigido e corrigido por editores e revisores, não teria saco para isso. Mas confesso que gostaria sim de ser reconhecido pelo trabalho de escrever, ser chamado por uma grande editora. Ter minhas obras lançadas. Quem não?

*TEM ALGUMA PERGUNTA QUE NÃO FOI FEITA E VOCÊ GOSTARIA QUE ELA FOSSE FEITA SOBRE ESSE TEMA?*

Quem sabe eu pudesse falar um pouco sobre o processo criativo de algumas histórias, que foram bem interessantes para conhecimento geral. A ORDEM ELEMENTAR, por exemplo, surgiu no ônibus quando eu vi uma menina com olhos curiosos e misteriosa. Eu fiquei pensando nela e pra falar a verdade ela me tirou o sono. E sempre quando algo me tira o sono eu escrevo sobre isso. Fiquei pensando se uma figura ficasse aparecendo e desaparecesse do nada, de forma misteriosa e perturbace a ponto de levar a loucura? Outra coisa que não deve ser exclusividade desse autor que voz fala, é como uma história pode nascer de um jeito e depois tomar um rumo totalmente diferente, novo, quando posta no papel. Mistério intrigante.

*SE VOCÊ PUDESSE DIZER ALGO PARA QUEM QUER ESCREVER, O QUE DIRIA?*

Comece logo, cara pálida. Meta a cara sem medo. Erre, aceite as críticas e com o tempo aprenderá que nem toda a crítica vale o seu tempo ou sua atenção. Aprenderá a discernir e separar o que de fato é uma crítica construtiva de uma destrutiva com o intuito apenas de desmoralizar você. Acima de tudo escreva pra você, porque quer, pra ninguém mais. Nunca escreva pra agradar. Foque no seu objetivo e estudo muito. Leia muito e pesquise sobre o que irá escrever. Se for algo de época pesquisa muito história, tudo relacionado. O que se usava na época, tudo o que for enriquecer sua trama. E também para não ocorrer em falta de veracidade. Seja convincente. Seja o personagem que está criando. Veja o que ele vê, ouça o que ele ouve. Muitos dirão que você não leva jeito, que deve desistir. Não desista nunca.

LINK PARA TEXTOS DO AUTOR:

https://www.recantodasletras.com.br/autores/andersonroberto

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 12/01/2021
Reeditado em 12/01/2021
Código do texto: T7157898
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