Olavo de Carvalho responde à minha pergunta

Ontem, 10 de outubro de 2020, durante a aula 537 do Curso Online de Filosofia, o professor Olavo gentilmente respondeu à minha pergunta. Segue a transcrição:

"Vitor Marcolin: 'Professor, o que o senhor foi fazer na Romênia e qual a influência daquele país para a sua filosofia?'. Bom, aconteceu o seguinte: em... não lembro em que ano que foi (olha provavelmente para a dona Roxane e ela diz ao fundo: 1999) 1999 tinha uns camaradas querendo me matar, já estavam me seguindo até à porta de casa. E então o embaixador na Romênia, que era o Jerônimo Moscardo, ficou sabendo disso através, acho, de um amigo em comum que, aliás, era um Coronel do Exército. E mandou me convidar, me ofereceu um emprego no Instituto Brasil-Romênia. Eu falei 'uai!, não custa nada a gente ir pra lá, então nós fomos'. O emprego era uma chatice e eu me saí muito mal nele, porque tinha que ajudar as pessoas a vender produtos brasileiros lá e ia camarada vender novela da Globo. E daí que eu ia aconselhar o que para os romenos? Não compra essa porcaria, por favor! (risadas). Então, eu não era bem o funcionário ideal para ocupar aquele lugar. Mas, de qualquer modo, o período em que nós passamos lá foi muito proveitoso, pela primeira vez eu tive a ideia do que era um povo realmente culto. Na Romênia todo mundo fala três ou quatro línguas.

O mendigo vem até você pedir esmola, se você não o entende, ele fala em francês, você não entende, ele fala em inglês, você não entende, ele fala em alemão e aí, se você ainda não entender, ele fala em russo! É um povo muito culto, mas ao mesmo tempo é um país que foi destruído pelo regime comunista. Você vê ali que no centro de Bucareste, você tinha que o sujeito derrubava igrejas do século IX para construir no lugar edifícios do BNH. Quer dizer, o sujeito fez uma monstruosidade, não é? E também construiu para ele o maior prédio administrativo do mundo e, quando aquilo ficou pronto, a mulher olhou e disse: 'Eu quero um igual pra mim!' e ele então começou a construir um igual! É um negócio assim (coloca as mãos na cabeça)... é coisa de petista, você está entendendo? Só petista faz um negócio desses. O sujeito devastou a Romênia. No lugar onde a gente morava, o prédio era da nomenclatura dos funcionários, a parede era dessa largura assim (demonstra com os braços) e eu ia visitar os prédios dos operários, a parede era assim (demonstra com os dedos). Uma beleza, né? Também não podia ter aquecimento individual, o aquecimento tinha que ser para a cidade inteira. O aquecimento era tão bom que o calor não podia passar de oito graus centígrados no inverno... a devastação. Daí você entende... eu entendi por que o Ceauşescu (Chauchesku) tinha feito um prédio especial para exilados brasileiros. Não ficou um (risos), eles passaram um tempinho lá e depois foram embora para Paris. E assim por diante.

Quer dizer, você conhecendo o resultado, os efeitos do Comunismo se prolongando para muito além da duração do regime... eles criaram problemas insolúveis que o melhor governo do mundo não conseguiria resolver. Né, fazer o quê? Daí também depois eu fui para a Polônia e, de certo modo era pior ainda, porque a Polônia, quando foi invadida pelos alemães por um lado e pelos russos pelo outro, os caras acabaram com Varsóvia, a cidade ficou no chão, não tinha mais prédios. E daí eles reconstruíram tudo na base do BNH soviético. Quer dizer, é uma cidade feia que dói. E os caras lá me diziam: 'Sabe quem manda aqui hoje? São os netos dos comunistas.' Quer dizer, é um negócio dinástico, hã?! É terrível... mas também foi muito bom pra mim visitar o Palácio Brankovank (?) onde eles usavam o jardim do palácio como depósito de estátuas das celebridades comunistas. Tinha lá Lênin, Stálin, Chauchesku todo mundo caído no chão, cheio de sujeira em cima (risos). Foi muito bom ver isso pelo menos, hã?! Saber que essas glórias não duram para sempre".

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 11/10/2020
Reeditado em 15/10/2020
Código do texto: T7085017
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