O POETA POR ELE MESMO, O OUTRO – Entrevista II

2. Joaquim Moncks, o “Poetinha”, tem um livro pela editora Caravela, de Porto Alegre, intitulado “Bula de Remédio”, de 2011. O que poderia contar aos leitores sobre o título do livro, e também sobre a obra em si?

O livro “BULA DE REMÉDIO”, de poemas, é o nono livro de uma produção posta à disposição do público a partir de 1979, quando lançou “Força Centrífuga”, que obteve duas edições no mesmo ano, num total de 3.000 exemplares, sendo que 2.000 foram patrocinados pela Brigada Militar – a Polícia Militar do RS – e distribuídos como presente de Natal aos oficiais. Ressalte-se que estávamos vivendo, no Cone Sul da América, os chamados “anos de chumbo”, ou seja, com as ditaduras apaniguadas pelos militares. E Joaquim Moncks – que era capitão da ativa – lançava um livro em que estava presente o sufoco da falta de liberdade no país, tudo dentro dos cânones estéticos da contemporaneidade e da codificação verbal que a Poesia exige para se configurar. Surgia publicamente o POETA-SOLDADO, no dizer do prefaciador do livro. Dois anos depois, em 1981, era preso pela ditadura e decretado a sua submissão a exame de sanidade mental. Pagava o preço de ser libertário, como é da natureza de todo o poeta realmente comprometido com a Confraternidade A metáfora-título do livro Bula de Remédio, de 2011, refere-se a uma possível utilidade da Poesia, ou seja, a sua materialidade o poema, sobre os fatos incidentes na vida de cada um. A “bula”, tal como acontece em todos os “remédios”, indica qual a destinação deste medicamento peculiar e genérico a que chamamos Poesia para mitigar os humanos sofreres. Claro, o autor da proposta literária não é médico, e, sim, um alquimista preocupado com a transfiguração da matéria da vida e um razoável funcionamento da máquina humana, visando produzir o bem maior Felicidade. O livro, de 120 páginas, contém 93 poemas e 02 prosas poéticas, e açambarca temário vário e coerente com a metáfora de capa. O tema principal é a vontade de viver num “outro mundo possível” e não o que ora temos como resultado civilizatório. Mesmo sabedor de que a Poética não se destina, diretamente, a influenciar no mundo dos fatos, o autor insiste na máxima de que, mudando a concepção dos homens, pode-se mudar a realidade. E faz isto por acreditar piamente no condão da Poesia e sua aparente inutilidade...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015.

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