Entrevista com Robergom

Um papo bem legal com o professor, assessor cultural, produtor de eventos, escritor e autor de vários livros e poemas Robergom

FB – O senhor nasceu em Nova Era (MG) e aos oito anos foi morar em Sabará (MG), qual foi à motivação dessa troca de cidades?

RG - Na época meu pai, como funcionário da Central do Brasil foi transferido para a cidade de Santa Bárbara, pois o ramal de Nova Era tinha sido vendido para a Cia Ferroviária Vitória Minas. A família, minha mãe e meus irmãos vieram pra Sabará. Fomos morar por lá por dois anos na casa que meus avôs paternos moraram e era herança do meu pai, onde ele passou a sua adolescência. Dividíamos a casa com a tia Isabel, irmã do meu pai. O tio Ernesto e o tio Enéias, também, moravam em Sabará, em bairros diferentes. Então, tudo começou.

FB – Com oito anos já sonhava com alguma coisa e já tinha alguma noção do que queria da vida?

RG - Eu aprendi a ler muito cedo, cinco anos. Na minha rua, em Nova Era, havia um ex-artista de circo, também funcionário da Central do Brasil, que a cada quinze dias, vestia-se de palhaço e divertia a garotada no quintal de sua casa.

Eu participava lendo poesias, no início, depois atuando como “escada” para ele. Além disso, meu pai, militante comunista, tinha uma rádio pirata.

Eu o ajudava e sempre me envolvia nas atividades políticas com ele. Panfletagem, megafone, etc. ´

Às vezes me convidavam para ler a resenha da semana no cinema da cidade, antes do filme, que era mudo. Fui tomando gosto e quando, já em Sabará, no Grupo Escolar Paulo Rocha, fui selecionado, com mais cinco colegas de classe, para o elenco de um curta que começava com a chegada do subúrbio, vindo da capital, Belo Horizonte, com turistas, para conhecer as ofertas turísticas de Sabará e nós éramos guias. Foi uma produção local e no bojo de toda essa aventura, com tanta coisa acontecendo desde os cinco anos, delineei o meu caminho.

FB – Com doze anos o senhor começou a se envolver com as questões culturais e sociais de Sabará, como surgiu esta oportunidade e quem o ajudou para começar a desenvolver estes trabalhos?

RG - Eu já estava engajado. Escrevia no jornalzinho do Colégio Santa Rita, me envolviam com várias atividades culturais, festas religiosas, carnaval, festivais. Tínhamos uma sociedade chamada “Os Pitagóricos”,onde cada membro usava uma estrela de Pitágoras no peito durante as reuniões. Nelas estudávamos de tudo: Matemática, Física, Biologia, Química, Filosofia, História, Teologia, Português (Língua Pátria), Sociologia, Política, Astrologia, e praticávamos artes marciais, natação, meditação, e outras atividades voltadas pra o conhecimento e desenvolvimento do nosso “eu”. Editávamos um jornal chamado “O Vetor”. Acampávamos nos morros de Sabará e criamos o Grupo dos observadores do Céu: havia interação com outros grupos locais, troca de experiência e informações, e as coisas foram acontecendo tanto social, cultural e politicamente.

FB – Seu trabalho como professor iniciou em que fase da vida e qual a disciplina o senhor escolheu para lecionar? E por quê?

RG - Eu ministrava aulas particulares de Matemática. Em 1972 me formei professor. O gosto pela Matemática veio da época dos " Pitagóricos ".

FB – Como começou sua relação com a poesia e a música?

RG - Sempre existiu. Meu avô materno, Durval Drummond de Amorim, escritor e poeta; minha avó materna, Isabel, foi Rainha de Congado durante muitos anos; meu tio Arlindo Gomes, compositor de marchinha de carnaval; Tio Dudu, cantor; Tio João Torres de Amorim, o poeta Julião, também era escritor, dramaturgo, compositor, ator e inventor, além de ser uma expressão na pintura barroca; meu pai era flautista e devorador de livros e nos incentivava; minha mãe escrevia os seus poemas; minha avó paterna era cantora e dançarina, (Publiquei aqui no Recanto a história dela com o meu avô: Uma linda história de amor- meu avós paternos, 01 e 02). Não tinha como escapar, nem os meus parentes, pois minha irmã é poetisa, Fábio Gomes é artista-plástico em Mariana, Phebo Lux, reconhecido por seus trabalhos como pintor e caricaturista e ilustrador de vários livros, além de músicos, atores, poetas, escritores.

FB – Conta um pouco de suas obras como poeta e escritor e das experiências que elas trouxeram para sua vida.

RG - Toda a minha obra seja como poeta, escritor, compositor, dramaturgo, etc,foi surgindo com o meu viver inquieto, a busca por respostas, pelo aprendizado. É claro que a leitura tem um destaque especial nessa trajetória. Em minhas crônicas na Gazeta Sabarense eu criei vários personagens. Quem mais se destacava era o Afobadinho, o alter-ego do cidadão sabarense que mesmo após a extinção do Jornal é lembrado até hoje: meus poemas temáticos são republicados todo ano, sendo interpretados em Escolas e programas das rádios locais. O soneto Sabará já foi publicado em postais, calendários, folhinhas, mapas, livros, panos de prato, guardanapos, revistas e acrílicos. Gênese, Mulheres de Sempre, Glória a ti, Professor, e mesmo Sabará, já foram adaptados para o Teatro; o conjunto poético do meu trabalho foi coreografado pela professora e bailarina Anny Elizabeth, do Studio Arte em Movimento e se transformou no espetáculo de Ballet " Sentimentos", apresentado no Teatro Municipal em quatro edições, em 2011 e 03 edições, em 2012, e venceu o Concurso Toute Forme 2012, em Belo Horizonte; meu poema sobre a dança foi tema de abertura dos dez anos do Grupo Aisha Azilla, dança do ventre, em 2012, no teatro de Sabará, em 04 edições; a peça " O Manual de Santo Antonio ", ganhou, na cidade de Conselheiro Lafaiete, em 2008, dentro do Festival de Teatro, concorrendo com Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Paraná, os troféus de melhor texto original, melhor ator e melhor atriz e está sendo roteirizado; os meus "causos" já foram levados no Teatro de Sabará com a atriz Cristiane Fernandes; A Fé, a Ciência e a Razão foi apresentada como leitura dramática na Faculdade de Sabará e no Teatro municipal; O Fantasma da Biblioteca, um conto, foi roteirizado e virou um curta, assim como a Fé, a Ciência e a razão; o livro Portas e Cruzes, poemas sobre fotografias do barroco em Sabará, tem um exemplar na Biblioteca do Príncipe Herdeiro Dom Orleans e Bragança, além de exemplares em Portugal, Espanha, Angola, Moçambique, Canadá, Itália, França, Inglaterra e Estados Unidos, pois o ex-prefeito Sérgio Freitas, o presenteou aos diplomatas que visitaram Sabará, desses países; A Mágica do Papai-do-Céu, livro infantil, está sendo adaptado para o teatro: Restos de Guerra, peça, a estou reescrevendo para o ator Carlos Nunes; Guerra dos Emboabas, cordel, está sendo transformado em HQ; tem mais acontecendo, mas digo que em todas estas experiências me fez querer aprender sempre mais um pouquinho...

FB – Como autor de peças teatrais, qual a peça que mais marcou a sua carreira como autor, qual mais agradou o público e qual mais agradou o senhor afetivamente?

RG - O Manual de Santo Antonio me projetou mais no cenário e agradou o público por ser uma comédia leve, engraçada, que faz uma leitura diferente das simpatias com Santo Antonio para se conseguir um casamento. Mas, particularmente, eu sou apaixonado pela peça “Stuart e Isabel”, que trata da história de Mary Stuart e Elizabeth. É, talvez, um dos meus melhores trabalhos.

FB – É melhor escrever peças teatrais para crianças ou adultos?

RG - A criança te dá uma resposta franca, imediata, sem rodeios.

FB – Como é escrever roteiros para o cinema? Tem também alguma preferência pessoal por alguns deles?

RG - Na realidade roteiros filmados foram para curtas. Atualmente, tenho três para longa que estão em fase de avaliação: Terezinha, baseada na música homônima de Chico Buarque, que vai da revolução de 1964 até a época das Diretas Já; Tiradentes, história não oficial (Nunca acreditei na história oficial, muito menos que ele foi enforcado); Às criancinhas do Brasil, que traça o universo entre 1969 mais 17 anos, a partir do milésimo gol de Pelé e a sua declaração preocupada com o futuro das crianças brasileiras. Mas o roteiro que está se tornando minha preferência é “Pipas e Rolimãs”, um passeio ao meu tempo de criança travessa e inquieta.

FB - Suas experiências como ator foram apenas como um juiz no filme “Um Roubo” de Silvino Fernandes e “O Crime da Atriz” de Elza Cataldo?

RG - Sim, além do já citado quando criança, na pergunta de número 02. Gosto dos bastidores.

FB – Como surgiu a idéia de formar o “Conselho de Arte de Sabará”?

RG - O Conselho de Arte foi criado em 1971. Eu tinha 17 anos e fui convidado, junto com outros, para algumas reuniões que eram feitas às escondidas, estávamos num período difícil politicamente e qualquer movimento, principalmente intelectual, era suspeito. O idealizador foi o saudoso médico, poeta e dramaturgo Waldemar Gomes Baptista, carinhosamente chamado por nós de Waldemar Formiguinha, pois sempre foi um dos pilares da cultura sabarense, em constante atividade. De lá para cá já fui Secretário, Diretor Vice-Presidente. Atualmente, o Conselho tem a sua sede própria, abriga vários grupos de movimentos culturais, promove cursos, oficinas, palestras, abriga o Coral Waldemar Gomes Baptista, que foram idealizados por ele, em vida, grupos de dança variados, grupos folclóricos, como a Folia de Reis de Sabará e o Grupo de Teatro Cena Aberta, entre outros.

FB – Resumindo, fale um pouco das outras instituições culturais a qual pertence e a importância delas para sua atual cidade?

RG - Sou um dos fundadores da Academia Sabarense de Ciências e Letras (1980), fui presidente por dois mandatos; Fundação Júlio Ribeiro ( Júlio Ribeiro, sabarense, escritor, político, filólogo, desenhou a Bandeira do Estado de São Paulo, escreveu o romance " A Carne ", excomungado pelo Vaticano) foi criada para assumir o Jornal

A Gazeta Sabarense e outras atividades culturais, mas atualmente está desativada; A Casa de Cultura de Sabará fui membro ativo até a sua paralisação; o Grupo Sabarense de Poetas, fundado por mim e que tinha um programa na Rádio Sabará com poemas só de autores sabarenses; o Conselho de Turismo, membro fundador e Diretor do mesmo; a

Fundação Pró-Universidade Villa Real, membro fundador; o INEDES, Instituto Estadual de Desenvolvimento Sustentável, membro fundador e segundo tesoureiro: a Sociedade Recreativa Moralistas do Samba, eu sou da ala de compositores, e claro, o Conselho de Arte de Sabará, e todas estas instituições e outras que nos convidam para participar de suas atividades colocam Sabará como um celeiro cultural que dá a sua contribuição ao desenvolvimento intelectual, social e político, não só do município, mas do nosso País.

FB – Gostaria de saber um pouco sobre as homenagens que já recebeu por seus serviços prestados a cultura:

RG - A minha primeira homenagem foi em Nova Era. Estudei o primeiro ano no Grupo Escolar Padre Vidigal e a diretoria resolveu agraciar com um diploma de mérito e uma caneta esferográfica àqueles que se destacaram durante o ano. Eu recebi o prêmio no Cinema da Cidade para orgulho dos meus pais. Em Sabará, recebi o Troféu Borba Gato, o Diploma “Gente que Faz” a Comenda Waldemar Gomes Baptista, o título de Cidadania Honorária (2000), uma placa pelo conjunto dos meus trabalhos poéticos e que foram coreografados para um ballet pelo Studio de Dança Arte em Movimento. Em Ouro Preto, pela comemoração da passagem dos 300 anos de Elevação a Villa Real de Mariana, Ouro Preto e Sabará, recebi a Medalha de Mérito Cultural, em 2012, e a medalha de Mérito Ambiental, em 2012, pela Liga Ecológica Santa Matilde, da cidade de Conselheiro Lafaiete, onde recebi, também, em 2008, o Troféu de Melhor roteiro original, pela peça " O Manual de Santo Antonio ". Em 2012, recebi o Troféu " Boneco Preto ", homenagem aos compositores da Sociedade Recreativa Moralistas do Samba. Da Escola Municipal Vereador Geraldo Alves Feitoza recebi uma flâmula, estandarte e uma caneca personalizada, além da interpretação dos meus poemas, com um aluno homenagem aos compositores da Sociedade Recreativa Moralistas do Samba. Da Escola Municipal Vereador Geraldo Alves Feitoza recebi uma flâmula, estandarte e uma caneca personalizada, além da interpretação dos meus poemas, com um aluno caracterizado de Robergom, com cavanhaque, cabelos brancos, o que muito me emocionou.

FB – Em uma de suas crônicas com o título de “O meu aneurisma” o senhor relata o drama que passou ao sofrer um “AVC” e no final do texto relata para o seu leitor uma cura milagrosa, gostaria que dividisse com os meus leitores esta passagem de sua vida. E complemento com uma pergunta bem singela, vale à pena ter fé e acreditar em Deus?

RG - O fato, como ocorreu, está na minha página no Recanto. E a fé é que faz o movimento da minha vida e sim, não só acreditar no Senhor, fazer a nossa parte, agradecer sempre, amá-lo e respeitá-lo eternamente.

FB – Mudando de assunto, gostaria de saber quais foram os livros que o marcaram como leitor?

RG - Eu leio desde muito cedo. De memória posso citar: Rosinha, minha canoa e Confissões do Frei Abóbora, de José Mauro de Vasconcelos: Confissões, de Santo Agostinho; Ulisses, de James Joyce; Adeus às Armas, de Hemingway; As Sandálias do Pescador, Morris West; A Cidadela, A.J.Cronin; Ãngela, Xavier de Montepin; O Cortiço, Aloísio Azevedo; Dom Casmurro, Machado de Assis, O Gaúcho, José de Alencar, Guerra e Paz, Tostoi, A Reliquia e o Mandarim, de Eça de Queiroz, O Pequeno Príncipe, Antoine Saint Exuperri e Terra dos Homens, dele também, Vila dos Confins, Mário Palmério, Terra de Caruaru, de José Condé, Seara Vermelha, de Jorge Amado, As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, O Discurso, de Platão, O Capital, de Karl Max, A Ilha, de Fernando Morais e uma infinidade, pois todos me ensinaram de alguma forma. Mas a Bíblia é meu livro de cabeceira e o Sermão da Montanha, meu poema predileto

FB - Quais os seus filmes, peças teatrais e programas de TV preferidos?

RG - Também de memória, pois sou um fanático cinéfilo: Casablanca, Cidadão Kane, Nós que nos amávamos tanto, o encouraçado Potekim, a trilogia do Poderoso Chefão, Os Intocáveis, Dança com Lobos, Rastros de Ódio, o Discurso do Rei, Dançando na Chuva, O Baile, Avatar, Titanic, O Vento levou, Sociedade dos Poetas Mortos, Ghandi, Assim caminha a humanidade, Vinhas da Ira, Deus e o Diabo na terra do Sol, A hora e a vez de Augusto Matraga, Semente de Tamarindo, Os Girassóis da Rússia, Por quem os sinos dobram, Os Pássaros, o Artista, O maior espetáculo da Terra, O Palhaço, Central do Brasil, os filmes de Mazaropi, Cantinflas, Carlitos, Irmãos Marx, Fernandel, O Gordo e o Magro, os filmes de Oscarito, principalmente Nem Sansão Nem Dalila e o Sputinik, Olga, Carandiru, Cidade de Deus, Tropa de Elite e... ; gosto de documentários e assisto nos canais fechados, sou assíduo na TV Minas; as peças foram muitas, mas posso citar: Cabeça de Papel, Dois Perdidos Numa Noite Suja, Rir e Coçar é Só Começar, Terça Insana, Beijo no Asfalto, Toda Nudez Será Castigada, Bonitinha Mas Ordinária, Um Espírito baixou em Mim, A Virgem de Quarenta Anos, Como Sobreviver em Buffet Escasso, Por Pouco, Barrela, Eles não Usam Black-Tie, Navalha na Carne, Arena Conta Zumbi, Roda Viva, Calabar, Gota D'água, Confissões de Adolescente, A Idade da Ameixa, Antes do

Silêncio, e...

FB – Na música, quais as suas preferências?

RG - Não sendo funk, axé, pagode... Conforme o meu momento eu ouço clássicos, românticos que não sejam piegas, instrumental, orquestradas, chorinho, samba de raiz, MPB, gosto de músicas regionais e claro o repertório internacional dos anos 60 a 80.

FB – Quais os poetas e escritores preferidos e quais da nova geração considera mais promissores?

RG - Drummond, Cora Coralina, Violeta Parra, Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, Carlos Herculano, Leminsk, Fernando Pessoa, Neruda, Fernando Sabino, Jorge Amado, José Condé, Mário Palmério, José Lins do Rego, Os Veríssimo, pai e filho, Júlio Verne, James Joyce, Hemingway, José Luiz Borges, João do Rio, Sérgio Porto, Gabriel Garcia Marques, Eduardo Galeano, Olavo Bilac, Cruz e Souza, Machado de Assis, Coelho Neto, Wander Pirolli, Manuel Bandeira, Dinah Silveira de Queiroz, Orígenes Lessa, e...; atualmente, sem precisar jogar confetes, eu prefiro a nossa turma aqui do Recanto...

FB – Gosta de futebol? Tem algum time do coração?

RG - Fui até os 26 anos o “cara da banheira” pelo Botafogo Futebol Clube, em Sabará. Não tenho simpatia por time nenhum, nem mesmo torço pela Seleção Brasileira...

FB – Como conheceu o “Recanto das Letras”?

RG - Foi por indicação do Recantista Silasol, poeta e gente da melhor qualidade aqui de Sabará...

FB – Que mensagem gostaria de deixar aos leitores desse site?

RG - Amem bastante, sorriem muito e com barulhentas gargalhadas, escrevam continuamente para o nosso deleite, sejam sempre alegres e vivam com simplicidade e fé inabalável em Deus e sejam eternamente felizes. Eu tenho um profundo respeito, carinho, amizade, admiração por todos vocês. Um abraço forte. Paz Profunda.

Para homenagear nosso colega “Robergom” escolhi este soneto de “Machado de Assis” (um dos seus poetas e escritores favoritos) feito para sua esposa

A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida,

Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis

Fábio Brandão
Enviado por Fábio Brandão em 05/01/2013
Reeditado em 05/01/2013
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