Entrevista com Gilson Lira, Ex Jogador de Futebol e Escritor (Postagem comemorativa de Nº 1600)
Um papo com Escritor, ex - Jogador de futebol ,locutor esportivo e poeta do “Recanto das Letras” e outros sites sobre diversos temas
FB - O senhor é natural de Natal (RN), como se deu a sua ida para Rondonópolis (MT)?
GL: Em 1.973 assinei um contrato com o Operário de Várzea Grande para disputar o que seria o 1º campeonato profissional do Estado de Mato Grosso. Graças a Deus fui campeão e artilheiro com 14 gols. Dois anos depois (1.975) fui procurado pela diretoria do União de Rondonópolis e como estava brigado com um dirigente operariano o clube não quis me emprestar para nenhum clube grande, mas emprestou para o União que era pequeno. Fui artilheiro novamente (15 gols) e o União foi campeão dentro das quatro linhas, mas o Comercial de Campo Grande ficou com o título ao ganhar os pontos do Dom Bosco no tapetão. Em 1.976 fui novamente o artilheiro do Estadual com 23 gols que é recorde até os dias atuais e ganhei 3 títulos do Torneio Incentivo patrocinado pela CBF em 1.975/1.976/1.979. Juntando as minhas passagens pelo Operário e Comercial de Campo Grande (1.977/1.978) conquistei 14 títulos no Estado, sendo 8 pelo Operário, 3 pelo União e 3 pelo Comercial. Nesse período marquei 285 gols (199 – União; 41 – Operário e 45 – Comercial).
FB – Para qual dessas atividades o senhor apresentou alguma aptidão primeiramente, futebol ou literatura?
GL: Foi para o futebol, pois com apenas 12 anos já estava nas divisões de base do Fluminense (RJ), embora na escola quando a professora pedia uma redação eu sempre escrevia rimando e ela ficava intrigada em como eu conseguia colocar rimas nas palavras sendo que ela nunca havia me ensinado.
FB - É possível encontrar alguma semelhança entre estas duas de suas paixões?
GL: A semelhança está no sentimento, pois em ambas eu me entreguei completamente, mas à paixão pelo futebol nada se compara. Só quem faz gol num estádio lotado e olha para a vibração da torcida pode avaliar o que vai dentro de um profissional de futebol.
FB – O senhor teve uma carreira bem sucedida dentro do futebol, fale um pouco dos títulos que marcaram seus tempos de atleta e qual deles teve um significado mais expressivo em sua vida?
GL: O 1º título talvez tenha sido o mais importante, pois eu tinha apenas 18 anos e era ainda juvenil no Bangu quando em 1.966 aquele timaço (Ubirajara, Mário Tito, Paulo Borges, Aladim, Bianchini, Fidélis...) sagrou-se campeão carioca. Participei em poucos jogos entrando às vezes 10 minutos, às vezes 15 para ir pegando experiência, mas era uma emoção enorme, principalmente quando era no Maracanã. Quando fui para o ABC de Natal o clube estava há vários anos sem ser campeão e para a felicidade do grupo que fiz parte fomos bicampeões (1.970/1.971) estaduais e ainda vencemos a Taça Cidade de Natal. Tive um colega chamado Alberi que era um craque espetacular e me deixava na cara do gol inúmeras vezes. Dos 14 títulos em Mato Grosso o 1º pelo Operário foi muito marcante porque ficou na história. Foi o primeiro campeonato profissional que reunia clubes de várias cidades (Cuiabá, Campo Grande, Cáceres, Rondonópolis, Dourados, Corumbá) e o Estado não era dividido, imagine você sair de Rondonópolis para ir jogar na divisa com a Bolívia (Corumbá) no domingo e na quarta-feira ter que ir jogar na divisa com o Paraguai (Amambai, Ponta Porã, Dourados). Também tenho boa lembrança do 1º título profissional do União de Rondonópolis que foi no Torneio Incentivo em 1.975 e de forma invicta. Nesse torneio empatamos em 0x0 com o Flamengo que estreava Merica e Dendê (contratados ao Bahia), além de Tita, Wanderley Luxemburgo e outros.
FB – Qual a diferença do futebol que se jogava há 40 anos com o futebol que se joga nos dias atuais?
GL: Muita diferença, principalmente no que tange à regra. Quando você apertava um zagueiro ele voltava a bola para o goleiro que a pegava com a mão, não havia a punição de cartões, aliás nem existia. Os zagueiros abriam à caixa de ferramenta a hora que bem entendiam e os juízes ficavam só na ameaça. No condicionamento físico houve uma evolução muito grande com as novas tecnologias (aparelhos para tudo). Num sistema de 4-2-4 eu tinha um companheiro de área e dois pontas para cruzar bola na minha cabeça (hoje são os alas que fazem isto). Havia muito mais craques que hoje. Era mais futebol arte. Hoje há muito plano tático e mais erros nos passes. A maioria das jogadas são mecanizadas e há menos improviso.
FB – Já escrevia poemas enquanto exercia sua carreira de jogador de futebol?
GL: Geralmente quando estava concentrado aproveitava para compor poesias, pensamentos e inúmeras crônicas.
FB – Como ex– atleta profissional e atual escritor o senhor acredita que a solução para a maioria dos problemas sociais seria diminuído se intensificassem os investimentos em esporte e cultura?
GL: Sem dúvida alguma, aliás, sempre foi melhor construir um centro esportivo para formação de atletas do que ter que construir três prisões para bandidos. Infelizmente até hoje os investimentos em qualquer prefeitura para as áreas de cultura e esporte continuam sendo apenas para dizer que existem, pois às vezes o secretário não tem verba nem para doar bolas ou uniformes para incentivar a prática de esporte nos bairros. Parece que as autoridades nunca praticaram esportes e principalmente nunca sentiram a importância de um professor na sua vida. Esse é um país que aprova um piso salarial para o magistério, mas nenhum político respeita. E olha que dizem que a Educação é prioridade. Então você pode imaginar o que será do esporte e da cultura.
FB – O senhor é torcedor de qual clube?
GL: Flamengo (RJ)
FB– Como locutor esportivo me diga qual foi à partida mais emocionante que já narrou?
GL: Brasil 1 x 0 Chile no Maracanã quando Rojas aprontou aquela palhaçada simulando um corte no supercílio em jogo das eliminatórias para a Copa do Mundo.
FB– Quais são os destaques do futebol no passado e nos dias atuais em sua opinião?
GL: Destaque de Jogadores: Pelé, Garrincha, Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Romário, Ronaldo Fenômeno... Em Mato Grosso: Bife, Ruiter, Golê, Copeu, Gonçalves, Mosca, Tostão. Brasil atual: Neymar e Ronaldinho Gaúcho.
FB - Voltando a falar de poesia, como surgiu a idéia de fazer aqueles sonetos comemorativos para cada dia do ano?
GL: Em 1.990 um aluno entrou na minha sala na Escola Marechal Dutra e pediu uma poesia para fazer um trabalho sobre o dia da árvore. Disse para ir à biblioteca da escola ou na municipal que ele encontraria. Em nenhuma das duas ele encontrou. Achei um absurdo e aí ele disse: Mas o senhor não é escritor? Então porque não faz pra mim? Disse para ele: Volta pra sala e daqui a 10 minutos volte para pegar a sua poesia sobre a árvore. Depois fiquei imaginando que este seria um problema não só daquele aluno da minha escola, mas de todo estudante brasileiro. Dias antes havia acompanhado uma fala na Hora do Brasil em que a autoridade dizia que este é um país sem memória. Ninguém comemora nada, ninguém sabe nada da sua história e ninguém se importa com nada... Resolvi então lançar um livro com datas comemorativas e pedi aos alunos que trouxessem de casa folhinhas ou qualquer tipo de calendário que tivesse datas comemorativas e fui fazendo um soneto para cada data que surgia. Optei pelo soneto porque a mensagem não poderia ser demorada, pois geralmente antes da entrada para a sala de aula os alunos fazem a oração e em alguns dias cantam um hino e não podem perder muito tempo. No soneto eu tinha espaço suficiente para de maneira pedagógica dar o meu recado sobre a data: informação, conhecimento, memória, amor às coisas da pátria, valorização das profissões, reverenciarem os grandes ídolos, etc. Hoje já ultrapassei a marca dos 4 mil sonetos comemorativos e é sem dúvida o motivo maior de ser um dos escritores mais bem lidos na internet.
FB – Existe algum tema na literatura que seja tabu para o senhor? Como sexo, por exemplo?
GL - Não existe, mas já que você tocou no assunto sexo. Como educador que sou, apesar de estar aposentado, tenho uma responsabilidade muito grande perante os jovens e quando a gente entra no assunto tem que ter o cuidado de não atrair o jovem para uma reflexão errônea sobre o mesmo. Alguns companheiros querem conseguir a atenção com textos que visam mais o sensacionalismo do que diria voltado para uma educação sexual. Não quero ser o mais lido pagando esse preço, por isso prefiro ir mais devagar ao que se refere ao tema. Mesmo assim tenho alguns textos que tocam no assunto e que chegaram a agradar a muitos leitores, sem ser obsceno.
FB – Em sua opinião, quais são os escritores e poetas que se destacaram no passado e os que se destacam nos dias atuais?
GL - Castro Alves, Mário Quintana, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Cora Coralina, José de Alencar, Machado de Assis. Atuais: Luís Fernando Veríssimo, Paulo Coelho, Lygia Fagundes Telles.
FB – Gosta de outras formas de entretenimento como teatro, cinema e televisão?
GL - Televisão
FB – E quem se destaca nessa área?
GL - Programa do Jô, filmes e esportes.
FB – Tem alguma personalidade que possui sua admiração?
GL - Ayrton Senna.
FB – É seguidor de alguma religião?
GL - Sou evangélico.
FB – Que mensagem gostaria de deixar aos meus leitores do “Recanto das Letras”?
GL - Todo problema tem a dimensão que você quiser dar a ele.