Entrevista com Alberto Vasconcelos
FB – O início de seu perfil postado aqui no “Recanto das Letras” revela uma pessoa que conseguiu ter infância e viver intensamente tudo que ela oferece para as crianças. Em sua opinião o que seria possível fazer nos dias atuais diante de tanta violência e tecnologia para que as crianças atuais possam viver um pouco da infância que as crianças antigas viveram?
AV - É necessária uma revolução cultural a partir da valorização do profissional em educação para que se alcance o equilíbrio social que desejamos, onde os status e papeis que definem e delimitam as ações sejam novamente respeitados. Não devemos alimentar a ilusão de que tudo se resolverá num passe de mágica, pois teremos que esperar que a atual população pré-escolar chegue devidamente preparada, aos postos de mando e controle da sociedade, para fazer com que as leis sejam respeitadas por todos e seja dado um basta nessa barbaridade de se tratar com vantagens e vida boa a população carcerária e os criminosos de um modo geral, sejam eles de colarinho branco ou não. A violência é, em grande parte, fruto da impunidade e a tecnologia deve ser direcionada para a valorização cultural e social do ser humano.
FB – Seu interesse por poemas e pela literatura surgiu em que época da vida?
AV - Meu interesse pela leitura vem bem antes da minha alfabetização. Quando fiz quatro anos ganhei de presente da minha tia-madrinha o livro – Robinson Cruzoe de Daniel Defoe (adaptado para crianças por Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional, 1945 6ª Ed). Nessa época a alfabetização ocorria aos sete anos, mas o livro é tão atraente, que eu pedia a minha mãe ou irmã que lessem para mim. Praticamente decorei o livro e ainda hoje, vez por outra, leio mais uma vez. A partir daí, até hoje todo papel que bate em minhas mãos eu leio, mesmo que a leitura seja enfadonha e não leve a nada.
FB – Por onze anos você foi ator de teatro. O que fez com que deixasse os palcos?
AV - Meu grupo teatral era amador. Apesar do público do Recife prestigiar as artes não há como se profissionalizar por lá. Os custos com artes cênicas são altos e os ingressos vendidos mal davam para cobrir as despesas. Muitas vezes tivemos que complementar o caixa para poder pagar as faturas. Teria que mudar para o Rio de Janeiro, como fizeram José Wilker, Maria Rubeny Martins e muitos outros que não lembro os nomes agora se quisessem continuar atuando.
FB – Você foi também professor de História do Brasil. Diante desses estudos a respeito de nosso país é possível ter alguma coisa de nosso passado que possamos nos orgulhar e alguma boa expectativa para nosso futuro?
AV - A nossa participação nas guerras e a divisão das classes sociais são as únicas coisas que considero vergonhosas. Em nossa avaliação, o futuro ideal passa obrigatoriamente pela escola, pelo fim da impunidade e dos privilegiados e pelo sistema parlamentarista unicameral, onde função eletiva deve ser entendida como cargo honorífico, sem direito à remuneração e com o fim de políticos profissionais.
FB – Em seu perfil está também que você já exerceu diversas funções, tem alguma coisa ainda que gostaria de realizar?
AV - Meu interesse pela natureza e tudo o que faz parte dela me faz pensar que eu poderia ser pecuarista, agricultor, espeleólogo, pesquisador, professor, músico, viajante profissional... Etc. São tantas as coisas que não fiz e que gostaria de fazer, mas me falta tempo hábil de vida para executar, que poderia passar o resto do tempo falando.
FB – Vamos falar um pouco de política: Como você avalia o governo da Presidente Dilma Rousseff e a postura dela diante dos problemas de corrupção em seu governo?
AV - E ela já começou a governar? A única coisa que eu sei que ela fez foi um decreto criando o feminino de presidente, para vergonha daqueles que como eu respeitam e admiram a belíssima língua portuguesa. Quanto à corrupção, ela está apenas esquentando a cadeira de presidente para o retorno de Lula nas próximas eleições, não vai mexer no esquema que está montado e dando certo desde o primeiro mandato PT, e que vai continuar porque perdemos a capacidade de nos indignar.
FB - Quais são suas preferências na literatura, na música e nas artes dramáticas? Tem alguma música ou alguma poesia que marcaram sua vida?
AV - Não tenho preferências por estilos literários ou artes cênicas, gosto de trabalhos bem feitos que nos façam sentir as mesmas emoções que o autor sentiu. Na música, gosto daquelas que merecem ser enquadradas na definição de música que aprendi que “é a maneira de combinar os sons de maneira agradável ao ouvido” pode ser erudita, popular ou folclórica de quaisquer nacionalidades. Apesar de intensa, minha vida não tem cenas antológicas nem trilha sonora.
FB – Vivemos uma fase cultural muito pobre em que até se premiam muita mediocridade. Estava eu assistindo uma premiação anual apresentada por Silvio Santos que na categoria melhor cantor, por exemplo, foram citados Luan Santana e Michel Telô concorrendo com Roberto Carlos (este eu gosto). A meu ver pelo menos os jornalistas tiveram bom senso e votaram no último citado o premiando como o melhor. Resolvi pesquisar a história do programa e fui ver que o critério que o público usava há trinta anos era mais coerente, pois concorriam Milton Nascimento, Caetano, Gil, Jorge Ben Jor entre outros mestres da MPB... Em sua opinião o que aconteceu com o povo para que tudo se tornasse tão descartável e tão pobre de conteúdo? Obs: Os indicados são apontados por votação popular e os jornalistas elegem o melhor...
AV - Como todo ser vivo, também as sociedades e as culturas nascem, crescem, reproduzem e morrem. O que estamos assistindo nos dias atuais é a morte da antiga cultura do “fazer bem feito para ficar” “até que a morte os separe” etc. Hoje se cultua a aparência, as bundas siliconadas, os cabelos alisados com chapinha, o físico torneado com anabolizantes e como não poderia deixar de ser a música perdeu a seriedade, mas está arraigada na preferência nacional desde a infame onda do “Axé music”. É só o que se pode esperar de um povo pobre de cérebro e de estômago.
FB – Quais as paixões que movem Alberto Vasconcellos?
AV - Eu diria uma só, VIVER. Viver para o amor da mulher amada, da família e dos amigos, viver o respeito pela natureza e por tudo o que ela representa, viver a beleza de ser feliz.
FB – Como surgiu sua relação com o “Recanto das Letras”?
AV - Fui apresentado ao RL pela consóror Márcia Adriana, minha esposa, que depois de ler um causo que mandei por email, perguntou por que eu não publicava. Fiz minha inscrição, gostei e espero permanecer bastante tempo.
FB – Monteiro Lobato dizia que um país se faz de homens e livros. O que deve ser feito para que a população se interesse pela leitura?
AV - Paulo Freire disse mais de uma vez em suas palestras que somente aqueles que entendem o que estão lendo voltarão a pegar noutro livro. Ensinem-se às crianças a ler e elas se interessarão pelos livros, aí sim, teremos homens para fazer o país.
FB – No passado você foi católico e chegou a cantar em coral de igreja. Hoje você se declara ateu, qual o motivo dessa mudança?
AV - Sendo católico e leitor assíduo da bíblia, simplesmente levei a sério o ensinamento do evangelho de João cap. 8:32 e fui procurar a verdade e ela, a verdade, me libertou do jugo das religiões que são castradoras, coercitivas, enganadoras e banais. Se qualquer um deixar de lado a preguiça mental e examinar as diversas teologias verá que são simples versões de uma mesma ideia. O medo e a fragilidade humana, aliadas à sua capacidade de abstração criaram os deuses e com isso puderam dominar seu semelhante. Realmente sou ateu por convicção, mas não quero afrontar a crença de ninguém nem me sinto mal ao assistir a quaisquer cerimônias religiosas quer sejam da pseudociência kardecista, ou de raiz celta, afro, oriental ou judaico-cristã-islamita. Tudo o que eu penso a esse respeito e sobre a nossa permanência na vida está publicado em: Jesus Imaginário; Terapia de Vidas Passadas; Reencarnações I e II, Energia Vital e Louco.
FB – Tem algum projeto futuro para o lançamento de algum livro ou considera o “Recanto das Letras” o suficiente para expressar suas idéias?
AV - Não tenho pretensão de lançar livros. Através do RL fui lido por mais de trinta e três mil pessoas. Tenho a certeza de que através de livro de papel jamais atingiria esse público.
FB – Concorda com Fernando Pessoa que diz que o poeta é um grande fingidor?
AV - O povo português pensa e se expressa de forma diferente da nossa. Talvez com essa frase de Fernando Pessoa tenha havido o mesmo equívoco que se dá ao “Navegar é preciso, viver não é preciso” onde o termo preciso, de precisão, foi substituído por necessidade por nós brasileiros. Navegar é preciso porque apesar das águas do mar revolto e desconhecido, o barco chegará ao destino, entretanto a vida é inusitada a todo o momento.
Mas se ele disse que o poeta finge para esconder seus sentimentos, não, eu não concordo com Fernando Pessoa porque os poetas não conseguem esconder o que sentem.
FB – Recentemente você esteve aqui em Minas Gerais, gostaria de saber quais as impressões que teve de minha terra, do meu povo e desse “poeta” que vos fala?(rsrs)
AV - Minha viagem está contada na crônica, Minas Gerais, onde deixo bem claro a satisfação que tive em conhecer mais esse pedaço do Brasil, de me deliciar com sua culinária e com a forma peculiar da comunicação mineira. Quem vai às Minas é envolvido de maneira fraterna pelos seus filhos, é tratado com o carinho que nos deixa a vontade de voltar inúmeras vezes e, como eu disse ao seu respeito (parafraseando o mineiro) só posso repetir que “ôcê é um trem bão dimais da conta, sô”.
FB – Qual a mensagem que gostaria de deixar aos meus leitores do “Recanto das Letras”
AV - Precisamos promover o encontro dos recantistas. O RL é um local onde estão as pessoas que têm amor pelas letras, mas falta a presença física.
Antes de terminar, gostaria de agradecer a honra de ter sido escolhido e deixar claro a satisfação que tive em responder aos seus questionamentos, dizer que me sinto um privilegiado por pertencer a esse grupo de pessoas e lisonjeado por sua atenção e amizade.