ENTREVISTA COM WESLEY MARCELINO, EX-DIRETOR DO GRUPO TEATRAL CRIAÇÕES, DE GOIANÉSIA

Se estivesse vivo, o Grupo Teatral Criações (GTC) completaria em 2007 dez anos de vida. Extinto em 2000, o grupo deixou muitas saudades nos amantes do teatro na cidade. Apesar da pouca estrutura e até da ausência de uma casa oficial, o GTC foi a maior expressão cultural do final dos 90 em Goianésia. Com um grupo de atores maravilhosos, a trupe comandada pelo talentoso Wesley Marcelino marcou história e influenciou toda uma geração de aspirantes aos palcos na cidade. Para falar desses tempos áureos e de sua relação com o teatro e a arte, conversei por e-mail com o símbolo do teatro de Goianésia. Wesley Marcelino, 32 anos, professor, morador de Uberlândia-MG, evangélico, uma personalidade que deixou boas recordações. Na entrevista, ele deixa claro a sua mágoa com a falta de reconhecimento na sua cidade do coração. Palco:

Dez anos se passaram desde que foi fundado o Grupo Teatral Criações, o GTC. Que recordações guarda daquela época?

Foi um momento ímpar em muitas vidas e na minha, sobretudo. Foi um momento em que havia um grupo de amigos que estava sem muita coisa para fazer e aí resolveu se unir em prol de um bem comum: a arte! Foi uma época em que não medíamos esforços para sair de casa todas as noites para ensaiar no salão da Igreja Católica. Crescemos, fizemos o grupo crescer e ser conhecido. E nos divertimos muito.

Quanto tempo durou o GTC?

Oficialmente de meados de 1997 até meados de 2000, quando me mudei para Caldas Novas, para estudar. Alguns membros tentaram continuar de toda forma, mas muitos desistiram ou mudaram de cidade.

O GTC tinha um líder?

Eu era o “chefe”. Assim era chamado pelos membros. Com muito carinho, claro. Mas havia pessoas que desempenhavam funções específicas como sonoplastia, iluminação, cenário, figurino.

Quem era a trupe?

Muita gente passou por lá. Na primeira turma havia: Wasila, Aleandro, José Wesley, Gisele, Graziele, Mabel, André David, Rauley, Roselita. Depois veio a outra safra: Cristiane, Kely, Rosinha Sonoplasta, Paulinha, Fabiana Mourato, que batizei de Fabiana Brazil, Edinho, João Paulo, Sarita, Éder, nossa foi gente demais.

Você também dirigia e produzia as peças?

Sim. Mas a Fabiana Brazil era meu braço direito. Acho que ela nem usa mais o “Brazil”, é uma pena, é a cara dela. Assim que começamos ensaiávamos todos os dias, de segunda a domingo. Tínhamos os ensaios, criação e montagem dos cenários. Sempre éramos convidados para criar algum espetáculo de última hora. Então era na base do improviso e sem modéstia, os meninos eram bons nisso.

Lembra o número de peças que apresentaram em Goianésia?

Em número não tenho idéia. Sei que foram muitas. Viajamos bastante também. Apresentamos em Brasília, Rialma, Padre Bernardo.

Que espetáculos marcaram o GTC?

Como todo criador, não posso dizer sobre uma melhor ou preferida mas com certeza “A Vida é o Nosso Lugar” ( a primeira), “Pluft, o Fantasminha”, que tinha um lindo cenário e “A Bela e a Fera”. “Pluft”, foi o que fez mais sucesso, sem dúvida.

Que tipo de apoio e de quem recebiam? Que estrutura vocês contavam?

A prefeitura sempre nos ajudava. Na época, a Lizete era a secretária da Cultura. Brigávamos muito, mas ela sempre atendia os nossos pedidos. Somente uma vez não nos ajudou, em uma peça para o dia das crianças ( A Bruxinha que era boa). A Fabiana Brazil deu um show com a bruxinha caolha. Algumas lojas poucas vezes nos ajudavam. Para montarmos “A Bela e a Fera”, tivemos o patrocínio do Café Bambino. No mais, contávamos mais com a ajuda da prefeitura. Ah, vale lembrar que a Igreja Católica nos cedia o salão paroquial para ensaios e apresentações. Agradeço nas pessoas dos padres Hermes, Givaldo, Irço e Gideão.

Com a criação de um centro cultural em Goianésia, você acredita que há a possibilidade de um novo bom momento para o teatro local ou o GTC foi realmente o auge?

Demorou mas chegou. Acho que é um espaço muito bom. Espero que os habitantes tenham consciência do grande feito que a administração realizou com essa construção. Creio que há pessoas capazes de fazer coisas ótimas pelo teatro em Goianésia. Tenho acompanhado de longe que há sempre oficinas, coisas que não tinham na minha época.

Se na sua época o teatro contasse com essa estrutura, acredita que teriam se destacado mais e talvez até o GTC não tivesse sido extinto?

Sem dúvida nenhuma. Quando saí de Goianésia, a Fabiana e o Ricardo tentaram continuar com o grupo, mas sem apoio e estrutura não deu certo. Hoje é diferente. Existe uma Fundação Cultural, coisa que desde muito tempo eu, Cecinha, Maestro João, Osmar, Mabel e tantos outros lutaram para ver acontecer e não vimos. Pena.

Quem pode ser seu substituto em Goianésia?

Ninguém é insubstituível, não é mesmo? Aposto muito na Fabiana. Apesar de ter uns dois anos que não a vejo, gosto muito dela e acredito no seu potencial. Ela poderá, sem dúvida, ser a “chefe” do teatro na cidade.

Pretende envelhecer fazendo teatro?

Já se foram dez anos desde a fundação do GTC. Na época eu tinha 22 anos, e hoje... ( gargalhadas). Os planos são outros, a visão também, mas o talento amadureceu. Hoje sou evangélico, mas a arte permanece em minhas veias, é um dom de Deus. Agora quero levar a palavra de Deus através da música, teatro e da dança. Toda forma de arte para Cristo. Tenho um projeto engavetado de uma peça que escrevi para a Fabiana estrelar, chama-se “A Ré Misteriosa”. É um suspense. Passa-se na década de 60 e vem até os dias atuais.

O que falta para a peça ganhar os palcos?

Se Deus me permitir e a Fabiana aceitar, quero encená-la. A distância hoje é o maior obstáculo.

Quem são suas referências no teatro?

Bibi Ferreira, Jorge ( louco) Fernando, Maria Clara Machado, um ícone dos infantis. Raul Cortez.

Tem sonho de trabalhar na televisão?

Já tive. Hoje não mais. Mas se aparecer algum convite que não fuja dos meus princípios cristãos, sim.

Alguma frustração com a arte?

Não com a arte em si, mas com a política por trás da arte, a de não ter o meu trabalho reconhecido pelo poder público cultural da minha cidade. Sei que há pessoas que admiram meu trabalho pelo teatro em Goianésia, mas me revolta, sinceramente, em ver tantos homenageados no Centro Cultural por terem feito isso ou por ter montado um grupo ou dupla daquilo ou porque ganhou um campeonato daquilo outro. Muitas pessoas que deram a vida pela cultura de Goianésia simplesmente são esquecidas. Não falo apenas por mim. Desde que me entendo por gente sempre houve pessoas que fizeram muito arte aqui e são capacitadas para ministrarem essa ou aquela oficina, mas são esquecidos. E são de Goianésia.

Se tivesse a oportunidade de voltar, tentaria reerguer o GTC?

Com sinceridade, não sei se o faria. Talvez sim, mas com outra visão. Hoje para se formar um grupo de teatro em Goianésia, só se fosse sem vínculo político e sem um dono.

Quem são as pessoas da arte mais injustiçadas de Goianésia em sua opinião?

Dulce Lacerda, Osmar, Joselte, Mabel, Cecinha e João. E julguem como quiserem, se crítica ou desabafo, eu próprio.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 29/07/2009
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