Entrevista FRANCISCO COIMBRA (Literatura) - PORTUGAL

Quando conheci o português Francisco Coimbra, aqui mesmo neste Recanto das Letras, foi como um murro no estômago. Seus textos, literalmente, mudam qualquer entendimento conformado ou conformista, uma vez que ele nunca reproduz uma idéia de forma convencional. Antes fere, interfere, desestrutura, modifica, enlaça, subtrai, divide e soma os catetos poéticos contra a planície da hipotenusa. Sendo assim, quis entrevistá-lo, apesar de reconhecer que teria um "perigo à vista", pois o dito é o desassossego em pessoa. Foi difícil, demorou mais de um mês entre idas e vindas, mas ele provou-me sua constante renovação, por exemplo quando de cara propôs-me que respondesse as mesmas questões que fazia a ele, entre outros ineditismos que - acredito - só é possível quando se conversa com um ser inquieto como ele. Topei a empreitada, porém, e o resultado dessa interlocução vocês verão abaixo. Boa degustação...

1) Quem é Francisco Coimbra?

RESPOSTA DE FRANCISCO COIMBRA: Não pretendo ser um "autor fácil", mas podendo escolher preferia incomparavelmente sê-lo a ser um "autor difícil", são coisas que não se escolhem. Para dialogar necessito de quem faça da escrita um desafio, a vários níveis. Encontro sobretudo parceiras, para quem as emoções e a sensibilidade são o veículo privilegiado da palavra decididamente poética. A nível intelectual, a escrita como apelo à inteligência, alguns, muito pouco parceiros se conseguem cultivar, seria este o campo onde gostaria de definir um espaço para dialogarmos. Parece não ser possível, seria bom chamar a atenção para a alerta no Recanto das Letras sobre a universalidade, reflectida nas estatísticas, da dificuldade de descodificação das mensagens escritas. Isto está bom é para a Poesia e para o abstraccionismo, senão como domínio artístico, como prática cognitiva. Quando quiseres, sempre falarei como se de novo nos tornássemos a encontrar. Não vou é pensar, tentar expor ou explicar, onde poderei não ter sido bem entendido. Porque as perguntas que faças não têm todas de ser para a entrevista, as respostas que dê são sobre tudo para me distrair. Devo ter feito mal em responder tarde e a horas de estar cansado e com sono, redundou em dar lugar aos reflexos do dia sem aprofundar sobre eles uma reflexão. Fi-lo tranquilo, na suposição que "conversando é que as pessoas se entendem", num desafio implícito a não nos ficarmos por perguntas "standart". Ocorreu-me uma ideia, já algures no entretanto, será que não queres responder às perguntas do teu próprio questionário? Bom, seja o que for, hoje acontece outra vez o mesmo, é tarde, estou cansado (viajei) e vou-me deitar.

RESPOSTA DE ESCOBAR FRANELAS: Sou um praticante de letras e vídeos, apaixonado por muita coisa ao mesmo tempo, o que naturalmente resulta num cara fragmentado e desatento. Meu universo abarca desde a Arte tal como é entendida semiologicamente, como a procura às tontas por um sentido que a vida (e, consequentemente, o mundo) talvez nem tenham, mas é seu afã. Sem ser afetado demais, sem ser muito preso ao didatismo, ao capitalismo, ao radicalismo, enfim, qualquer "ismo". Sou um libertário, acho! Pelo menos tento ser.

2) Francisco Coimbra, essa paixão pela intertextualidade é o seu oasis(e dos seus leitores)? Você nunca sentiu-se fora do "meio" por praticar letras e de uma maneira tão inédita?

RESPOSTA DE FC: Esta pergunta são duas, começo pelo oásis. Se desejo que a intertextualidade seja em mim um oásis, não gostaria de admitir ser um deserto o que envolve a atitude inter-textual. Ela decorre do facto da publicação, que tenho feito, ocorrer na Internet. Os leitores, da nossa escrita, acabam por ser parceiros desta actividade que assumo e desenvolvo como forma lúdica pessoal com uma vertente de comunicação social desenvolvida pelo facto apontado. Porquê? Porque ao ler os meus parceiros, gosto de dar voz à arte que nos une. Daí os duetos sempre que posso, isso o que penso referes. Quanto ao “meio”, se a originalidade fosse um facto (continuarei a escrever facto, pois fato em Portugal é para vestir, não o fato brasileiro do nosso acontecer) comum, ela deixaria de ter o valor que lhe é atribuído merecidamente. Neste particular eu quero agradecer a pergunta, pela afirmação que a mesma comporta. Quanto à minha integração, ela aconteceu, verifico vai acontecendo, da forma mais natural e agradável possível. Não isenta de dissabores, embora só me lembre de um que espero fique como a excepção que permita continuar a confirmar a regra.

A resposta já não é curta, mas espero acrescentar algo que dê para… curtir. Um conto que ontem à noite era um parágrafo, hoje conclui-o de manhã. Ele mostra um tema, ideia, pre_ocupação que me é de certo modo recorrente: quem escreve escreve-se para quem ler ler-se, de certo modo o escritor escreve quem o lê. Além disso, tento escrever quem escreve dando continuidade a uma herança deixada por Pessoa, assim Assim é outro com Mim, fazendo parte de mim.

CAMINHO

«Caminhante, não há caminho,/ faz-se caminho ao andar./ Ao andar faz-se o caminho,/ e ao olhar para atrás/ vê-se a senda que nunca/ se há-de voltar a pisar.», António Machado

Enquanto lia estava pensando, tanto pensei que acabei pensando "Por que não fazer um conto?". Já posso dizer o que desejei dizer com o que quis escrever, dar curiosidade sobre o que estaria eu a ler. Estava a ler uma prosa limpa, corrida e ia discorrendo se não escreveria dessa forma se escrevesse como falo. Deixei o que estava a ler, enveredando por veredas cuja existência tento agora relacionar com o caminho que encetei quando quis experimentar o verbalismo solto e desenvolto dum narrador na primeira pessoa, dizendo e acontecendo sobre aquilo que escreve.

Quando dei conta… percebi como facilmente abdicaria de quem sou para ser quem pensas que sou, para tanto bastando pensar quem sejas. Foi nesta altura, de teu leitor passei a ser tua leitura. Cabe aos dois a responsabilidade de saber como isso será possível, para tanto bastando continuar a escrever como se estivesse a ler-te. Deste modo não tenho a mais pequena dúvida, se conseguir dar continuidade à prosa como conversa, tenho ideia que conserva o essencial do que queria trazer para fazer um conto.

Há sempre o momento em que o sonho acaba, acordamos. Para o artista isso pode ser, no inicio, a meio ou no fim. O artista é você, você não me conhece, nem me inventa. Mas, repare, o conto avança de vento em popa. Ser feliz é tão importante para si como para mim, a mim tanto me faz como me fez e a si, tanto lhe fez como faz?

É só esperar a resposta… enquanto escrevemos há um diálogo que se forma. Vai mais longe que a forma, não é só o que vemos. Se durante algum tempo faltava um tema, ei-lo uma outra ideia para a ideia: – Eia, a felicidade é uma grande ideia! Ter, sentir, transformar um “tanto me faz” em algo de profundo e positivo, é esse o mundo, diria mesmo o Universo, que quero para habitar este lugar que se constrói da sua/tua atenção e minha. Falta-lhe um pouco de ilusão, esse sal precioso para a imaginação. Leva as mãos à cabeça, respira fundo, aumenta a inspiração. A primeira ideia que se junte às restantes, une o resta ao antes e já está. Podemos agora provar, saborear o molho, a base, um caldo do refogado em lume brando onde apuramos os sabores dos saberes que compõem não o dicionário, a enciclopédia. Vamos longe, florestas virgens, praias desertas, o drama, como o vivo, é vivido ao vivo: a inocência está perdida, a Felicidade bem a posso dar, mas como a ter?

Ainda bem que tu existes, só tu me podes dar a felicidade, a Felicidade construi-la-emos juntos, tu e eu, ele e ela, nós e vós, eles e elas, são todas as pessoas que somos. Deste modo vale a pena ainda escrever, respirar, fazer alguma coisa. Acabando aqui teríamos uma mensagem positiva mas, positivamente, a mensagem apenas a quero para massagem: estendo-te debaixo dos meus dedos, escrevo-me debaixo dos teus olhos. Dou por mim à espera da tua resposta, vou abrir o livro que ando a ler. Tu responderás das palavras que ler(es), o que estou eu a dizer? Eu continuarei a ler o que estavas a dizer, volto ao nosso diálogo.

Racionalizemos… como quem toma um chá com a pontualidade dum hábito servido a horas certas, eu estava a ler-te quando comecei a escrever. Agora comecei a escrever até que me leias, pelo caminho, são nossas todas as ideias. Está justificado o título? Um poeta escreveu "o caminho faz-se caminhando", agora todos o podemos citar. Quem não lhe lembra o nome, dirá: “como o poeta disse”… E, se me podia acusar da falta dum personagem com nome próprio, ofereço a memória do poeta. Esta estória, cuja história será a que lhe deres, só espera o que te peço agora. Imprime, depois de imprimires, dá-me um autógrafo.

Abraço-te… sem embaraço, sentes o coração a bater? Eu sinto, é o teu? Caminhemos, o caminho está feito, basta dizer que é este. Está feito? Ainda não. A perfeição está nas coisas incompletas que só acabam porque nós acabamos antes delas, assim deverá ser este conto. Contá-lo-ei até ao ponto onde já não esteja a contar nada, apenas ficará no ar a fala e com ela a voz que a fala fala. Sairemos daqui, como quem foi ao teatro e tenta lembrar-se das falas. Com elas até é capaz de compor uma história, essa com a qual dirá como foi o espectáculo, dando o sumo dum resumo.

Esta história, aquela com que falamos das coisas, essa memória... é verdadeiramente isto. Ter um caminho com o leitor, imaginar uma leitora para a leitura desejada? A história é sempre pouco ou nada, o que fica, o que conta, são as ideias que tivemos, as emoções que sentimos, o sentimento de que o vazio só fica preenchido quando a felicidade nos visita e resta, nem que seja apenas um conto que temos de reler ou uma poesia a pedir para a minha mão a escrever “como um verso SE sente antes de se saber” o que nos reserva o verso seguinte?

O caminho é este/esse, o que começa onde acaba e vice-versa.

RESPOSTA DE EF: Sempre me senti "partido ao meio" em dobro na prática da intertextualidade. Mas é um recurso pra poucos que - reconheço - uso sem muito critério. Por isso prefiro me sublimar vendo outros artesãos, como Francisco Coimbra, Uilcon Pereira ("A Educação Pelo Fragmento"), José Nêumanne ("O Silêncio do Delator"), Fernando Namora, Guimarães Rosa.

3) Você não sofre "angústias de parto" quando está parindo um trabalho e percebe que ele foge ao seu controle?

RESPOSTA DE FC: Explicando o que escrevi. Fiz uma citação onde se percebe que a minha resposta não é apenas resposta à pergunta, faz parte duma conversa. Continuam a ser assim as minhas respostas, assim a conversa continue. Desculpas para o atraso, retomar os trabalhos deu trabalho.

Nas leituras e escritas, é uma guerra ganha todos os dias, não pára. Isto diz que nunca ficará perdida? Hoje ficará ganha se, apesar da demora, perceberes esta resposta. Fico aguardando a tua (nova pergunta?)... Bom Domingo!

RESPOSTA DE EF: Sofro, sofro tremendamente pelo fato de ser deus e de repente a criação me foge, e às vezes ainda mostra a língua.

4) Você tem a compreensão de que seus textos são "barrocos", cheio de sombras, luzes, fímbrias, intestícios?

RESPOSTA DE FC: Quem escreve praticando a escrita como prática, pratica a arte de todos os artistas, procurar respostas onde não há perguntas. Mostrando - exactamente o contrário - que todas as perguntas estão há espera de respostas que demos ou dêmos. Essa é a diferença entre o artista e o artesão, o artesão faz o que tem procura... o artista procura a sua própria procura. Terei encontrado a pergunta?

RESPOSTA DE EF: Não, não são barrocos, meus escritos são de uma nitidez "clean".

5) Francisco, quantos anos você tem? Qual a sua "formação"? E desde quando pratica a paixão literária?

RESPOSTA DE FC: Caro amigo, esta pergunta tem todo o ar de ser da vindima já o lavar dos cestos; tenho 52, sou Engenheiro Técnico Mecânico, há três anos fiquei licenciado em Administração Escolar e Administração Educativa, finalidade, progredir na carreira de professor; escrevo desde os 18 anos, são 34 anos de letras procurando praticar Letras.

RESPOSTA DE EF: Tenho 40, profissional de mídias audiovisuais e escrevo desde criança. Escrever foi a forma que encontrei para entreter meu mundo, que era muito fechado num círculo familiar. Mas tenho irmãos mais velhos maravilhosos que me proporcionaram as primeiras viagens literárias e artísticas.

6) Na pátria de Fernando Namora, Miguel Torga, Lobo Antunes e Agustina Bessa Luís, sem citar, é claro, Pessoa, Camões e Saramago, que peso você sente de gerar e gerir temas novos e ser igualmente exemplar para as futuras gerações?

RESPOSTA DE FC: A resposta da Mim ao Assim, e uma resposta minha para a tua pergunta!

A ESCADA…

meu macio

hoje estou meiga

sem vontade de acrescentar

ao mundo nada ou

melhor dizendo

(devia calar-me)

escrevo estendendo

os meus braços

para ti!!

Mim

Herdei por Pátria a Língua e quero deixar de herança a dança integral do homem que em si vive a criança e todas as fases das suas metamorfoses: adulto, amante, personagem, heterónimo, procurando sinónimos de todas as palavras; abrindo caminhos a desbravar como um bravo, manso, meigo, leigo e eleito, levando a peito, mais para os lados, levando até às mãos esta dança: tentando a escrita. Quando ela se deixa seduzir e me seduz, tudo se deduz com facilidade, tudo se complica em liberdade, tudo. É no todo que toco o oco e procuro eco, é do caneco!...

RESPOSTA DE EF: Na terra de Guimarães Rosa, tanto quanto Pepetela, Mia Couto, Luandino Vieira e Camões, sim, sou "pesado" constantemente. É um desafio praticar letras em sinal de igualdade, mas ouso não desistir. "Ousar", este é o verbo que mais conjugo.

7) Este "não ser um autor fácil", percebido e descrito desde a primeira resposta e comprovado nas inúmeras intervenções e variações temáticas desta entrevista, oferece e enfrenta que tipo de bloqueio diante do leitor mediano?

PRIMEIRA RESPOSTA DE FC PARA ESTA PERGUNTA: Caro Franelas, uma boa noite te desejo antes de escrever a resposta a mais uma pergunta. Toda a leitura duma pergunta já contém o princípio da resposta possível, no meu caso tento ter e tenho inúmeras leituras para o mesmo texto. Ao ponto de concordar, dando corda... que cada texto depende de quem o lê.

Depois do parágrafo anterior fui ler a tua resposta à pergunta anterior; "ousar" é ousado, um bom verbo que deve ser usado, vamos ao Verbo.

SEGUNDA RESPOSTA DE FC PARA ESTA PERGUNTA: Felizmente não sinto qualquer tipo de bloqueio da parte dos leitores, isto a partir do momento em que obtive comentários dizendo perderem-se nas palavras físicas e encontrarem-se na sua presença quântica (escrevemos e ouvem a nossa voz, talvez sons sem sentido mas ainda canto?...). Nunca ninguém mo disse por estas palavras, mas quando me comentam dizendo não perceberem mas gostarem, ouço o leitor a ouvir o que digo indo para além do que escrevo. Este tipo de comunicação só é possível através da empatia, tia da simpatia, irmã da amizade, "prima" pela fraternidade. Como as palavras são uma enorme família promiscua, está tudo dito... quem me lê percebe o suficiente para eu sentir que comuniquei, mais que isto é sempre menos que isto. Quando alguém julga que nos compreende, julga-nos. Eu gosto de ser lido e aceite por quem sente que a verdade do texto é como o azeite a flutuar na água do texto, esta é que é a verdade :)

Então o texto é só água?... Claro (nele se dissolvem todas as leituras, é um solvente)!

RESPOSTA DE EF: Carlos Drummond de Andrade já sentenciou certa vez "lutar com as palavras / é a luta mais vã. / No entanto lutamos / mal rompe a manhã", e esse é o meu maná na luta contra aqueles que intelectualmente (intelectualmente não, que é um elitista citar assim), aqueles que caducam, ou infantilizam, ou senilizam o pensar cotidiano.

8) Diante disso, você já parou para observar qual é o seu público, quem o lê?

RESPOSTA DE FC: É uma tónica que sempre desenvolvo, a necessidade de ter em conta que uma resposta passa pela compreensão da pergunta. Mais, dentro duma pergunta, há, pode sempre haver, mais duma pergunta. Este dado, pondo-nos directamente perante a relatividade da possibilidade real de dar uma resposta cabal, acaba por me levar a destacar o próprio modelo da entrevista. Esta torna-se uma conversa faseada no tempo, um curioso diálogo. Onde a nossa compreensão se torna, a própria relação com o outro e com o “canal de comunicação”, a escrita.

Tendo pensado e escrito sobre a importância de compreender a pergunta, vou tentar dizer em que sentido a interpreto e o que vou tentar responder. Da aceitação, ou não, do que escrevemos, como a relação com o nosso leitor afectar-nos? Não é isto que está escrito, está escrita uma pergunta mais simples: quem me parece ser… quem me lê?

Só na aparência pode ser mais simples, depois mergulha na subjectividade e corresponde em saber como sou afectado pelos leitores. É essa afectação que me indica «quem me lê», a resposta é: todos os leitores. Depois acrescentar, sou lido de modos diferentes. Isto é óbvio, mas a curiosidade da pergunta é obter na resposta uma clarificação.

As maneiras ou modos de ser lido correspondem ao tipo de interesses que a minha escrita possa despertar, eu espero que sejam muitos. Vou tentar entre_ter-me a enumerá-los:

Há um jogo muito antigo que desenvolvo com a escrita, ela não é uma “paciência”, é mesmo uma “partida”, um jogo com principio, meio e fim, em cada texto e continuação indefinida para todos eles. Quem me lê deve saber que nunca me leu completamente, por outro lado, tem, deve saber, que eu o coloco do outro lado, é com ele que jogo. A sua capacidade de compreensão é a minha capacidade de me fazer compreender, eu preciso dele/a mas, ele precisa de mim: tento não me esgotar em cada texto. Logo, tenho estratégias várias de me prolongar dum texto para outro: o uso desse diálogo e apelo ao leitor para dar ao texto a sua leitura, é o apelo à atenção, depois é o uso da tenção, dar energia, emoção, sentimento, sangue e vida à palavra; uso do desdobramento, não necessariamente o uso de personagens como R, do heterónimo Assim, ou da presença da Mim, a meu ver mais uma personagem; junto-me a eles e também eu sou um personagem, heterónimo do meu heterónimo, também ajuda ser um Coimbra da cidade de Coimbra; depois uma certa exigência na escrita traduz-se num desafio ao leitor, todos estes são motivos para ter vários leitores com diferentes interesses. Tentando ser muito objectivo, creio que algumas destas características, mormente o escrever para, tem uma resposta ao público feminino que responde ao meu apelo. Sinto que fiz boas amizades transformando-me em “muso” de algumas poetisas que se sentem e são minhas musas, o que nos dá a Mitologia como explicação possível para uma compreensão que na sua génese era a procura e o encontro da resposta para tudo: os deuses. Se os leitores se sentirem deuses, se souberem que este mortal sabe que está nas suas mãos, talvez dêem a sua atenção e protecção. Amén!

RESPOSTA DE EF: Também tenho pensado muito nessa questão, a ponto de variar a resposta conforme o "humor" do dia. Comecei escrevendo para mim, isso é fato. Depois avancei os sinal e passei a escrever para as pequenas musas que cortejava na adolescência escolar. Desde então alimento a expectativa de ser "escritor". Se sou, alguém tem que referendar. As respostas que tenho obtido dão-me referência e alguma substância, mas, confesso, às vezes tenho dúvidas de minha vocação.