Marés

Marés

Nossos corpos movem-se como ondas ao sabor agridoce das marés do amor.

O cheiro inebriante e provocativo de pecado permeia o ar.

Bocas provam-se, misturam-se, invadem fronteiras e fundem-se fundando um feudo de prazer.

Mãos frenéticas acariciam, apalpam, tocam com sofreguidão membros e partes carentes no delicioso e viciante jogo da luxúria.

Aqui não há limites, convenções ou regras, a única vigente é a de não se privar de nada, principalmente do que o coração ordena e/ou o corpo suplica, sem nenhuma espécie de restrição.

Os gemidos e sussurros unem-se ao canto do vento numa melodia afinadíssima e lasciva de puro delírio.

A lua manda seus raios invadirem a janela e escanearem seu corpo perfeito para guardar no seu lado oculto a imagem arquetípica da perfeição.

Nuvens se aproximam, embolam-se e condensam-se para terem uma visão melhor do ato sublime, voyeurs celestes.

Movimentos lentos e frenéticos alternam-se num ritmo perfeito, os partners se conhecem, são extensões e entram em uníssono nos abissais labirintos do êxtase.

Sorrisos e carinhos pós-orgasmo fazem com que fiquemos completamente imantados e tornam impossível a nossa dissociação, como duas partes perfeitas de uma medalha que jamais deveriam ser separadas e tornam-se a se encaixar de forma tão harmônica que não deixam sequer uma tênue cicatriz.

A maré cheia inundou praias e destruiu castelos de areia apenas para torná-los reais e viscerais.

A respiração alterada e os corações ritmados anunciam o refluxo, a segunda parte de um show infinito, com breves e áridos intervalos para a vida cotidiana, o dia-a-dia, o ônus a ser pago pelo incalculável privilégio de amar.

Leonardo Andrade