O dinheiro e a vida
(Do livro "Brenda Brasil - Aventuras e desventuras de uma poeta Brasileira" de Daniel Lellis Siqueira)
De pobre, eu fico rica
para terminar pobre.
Os apelos da nação,
giram em volta de uma onça,
peixe azul em extinção,
araras que vem e vão;
beija-flor que pára na nossa mão
e voa rapidamente.
Somos como garças pisando em ovos.
Será que ninguém pensa que a vida está passando?
Será que ninguém nota
que os desenhos dos papéis de valor
realmente existem?
Será que ninguém pensa neles?
Será que eu, por ser pobre
julgo os ricos que esbanjam o que têm?
Será que eles me julgam também?
Tendo eu meia dúzia de vestidos
sou mais rica ou mais pobre?
Quantos vestidos eu preciso ter
para ser considerada rica?
Sou pobre de espírito
pois tenho muito o que aprender.
Vejo-me defronte de uma linda situação:
Os ricos vão morrer; eu não.
Minha poesia ficará,
pois ela é a essência da minha alma.
Letras cravadas em celulose nula
batalhas travadas no meio da rua.
Dia após dia eu luto por uma arara
pois eu adoro pássaros,
ainda que peixes tenham mais valor.
Eu não preciso de muito;
tenho cigarros, casa, camisinhas,
telefone, papéis e calcinhas.
Quero alguém que queira a mim
independente dos bichos que carrego.
Preciso de alguém que me acolha
quando eu menos precisar,
que me morda, me machuque,
que me ame durante mil carnavais.
Que seja da minha vida sequaz.
Quero ser um cais de porto
e ver sua silhueta de longe
sabendo que voltarás a mim,
faminto, sedento, saudoso e cansado.
As garças serão testemunhas.
Mas ainda não sei quem és.
Só saberei quando
saíres da penumbra horizontal.
No momento eu tenho
duas araras, uma garça
e quatro beijas- flor no bolso direito.
Não importará quando tu chegares
pois minha calça será a primeira a voar
com os pássaros encarcerados.
Bom pra eles.
Será que ninguém pensa que a vida está passando?
(Brenda Brasil)