Jogo das perguntas
Jogo das perguntas
(Daniel Lellis Siqueira)
Ontem de tarde, sem nenhuma explicação
pensei que o mundo era um lugar
cheio de gente, que existia para aprender e ensinar.
Hoje já nem penso mais nisso.
Via que as pessoas eram bondosas:
-Talvez para se redimirem de suas maldades?
Lembro-me de homens presenteando suas mulheres:
-E entre seus olhos não existia mais nenhuma?
Pessoas que a um deus adoravam:
-Por que temer a quem se ama?
No noticiário, asfalto com um cadáver escarlate:
-Será ele um sortudo ou um azarado tomate?
Nos sorrisos amarelos de cigarro:
-Preciso sobre isso opinar?
Nas conversas, palavras por serem ditas:
-Esconder algum sentimento, ou explanar algo mais denso?
Nas tolices, mesuras de realidade:
-Quiçá isso me ajuda?
Nos filhos, a frustração de vê-los tortos:
-Mas por que fazê-los voar? Ou não fazê-lo?
Nas escolas, o que se aprenderia em casa:
-É a revelia da cultura, ou apenas à vontade de dormir?
No comércio a fome da ganância:
-Trocar a honra por tão pobres pássaros?
Amiúde olhar o guarda roupa:
-Aonde encontras tanto recheio?
Ir de carro para economizar tempo:
-Quantos não morreram pela preciosa gasolina?
Nas igrejas encontrarás conforto:
-Poderei ir com calças sem algibeiras?
Nas estrelas um novo amanhã:
-Se elas em milhões de anos não mudaram,
por que o amanhã se diferirá de hoje?
No ventre o almejado embrião da paz:
-Os nossos maiores carrascos nasceram de chocadeira?
Entre os dedos, um voto mudará tudo:
-Pra que tentar, se não há saída?
Morrer com raiva de não ter aproveitado:
-Afinal, o que é que eu deveria fazer?
Aos seus amigos, encontrarás acorrentado:
-Será que para mais fácil, eles irão me esquecer?
Deixei meus versos pra quem quiser ler:
-Depois de morrer, de que adianta?
Se nos lábios que não se encontram,
as palavras estão mudas?!