A formação da personalidade
Personalidade é o conjunto de características psicológicas, de certa forma estáveis, que determinam a maneira como o indivíduo interage com o seu ambiente. Também podemos definir “personalidade” como “a organização integral e dinâmica do contexto formado pelos atributos físicos, mentais e morais do indivíduo, compreendendo as características hereditárias e as adquiridas durante a vida: hábitos, interesses, inclinações, complexos, sentimentos e aspirações.“
A formação da personalidade tem início a partir do nascimento. Assim, os primeiros anos de vida de uma pessoa são decisivos para a gênese de sua futura personalidade. Neste período são delineadas as principais características psíquicas, a partir da relação da criança com os pais, pessoas próximas, objetos e meio ambiente. Por isso, estas relações devem suprir todas as necessidades físicas e psico-lógicas da criança. A não satisfação das mesmas pode causar sérios prejuízos à formação da personalidade. Outrossim, é preciso acalentar o desenvolvimento de uma ampla gama de virtudes desde os primeiros anos de vida, em especial a temperança, que propicia a conquista de um sentido de equilíbrio, evitando-se a exacerbação de necessidades, por um lado, e, por outro, a insatisfação de outras consideradas fundamentais. Neste contexto, além das necessidades de manutenção da vida, todos os indivíduos possuem necessidades de aprovação, independência, aprimoramento pessoal, segurança e auto-realização, onde serão desenvolvidos os valores existenciais, estéticos, intelectuais e morais.
A qualidade das relações entre pais e filhos exerce uma influência determinante na formação psicológica destes. A partir dos primeiros meses de vida, os pais e responsáveis pela criação e educação das crianças devem dedicar toda a atenção ao desenvolvimento de sua auto-estima. É imprescindí-vel oferecer muito afeto e carinho, estimular, elogiar, motivar, para que as crianças construam sua personalidade com base em elevado amor próprio. Da mesma forma, os pequenos devem ter toda a liberdade para expressar emoções: alegria, afeto, tristeza, medo e raiva, as chamadas emoções autênticas. Se a criança for levada a reprimir suas emoções, desenvolverá uma personalidade combalida, neurótica, plena de tensão, ansiedade, angústia, depressão.
Desta forma, os adultos responsáveis pela formação dos futuros cidadãos devem evitar, a todo custo, dirigir-lhes palavras e tomar atitudes que possam desenvolver um baixo nível de auto-estima. Assim, não devem se valer de severidade, críticas exageradas, exigências exacerbadas. Inclusive olhares e gestos que possam produzir efeitos negativos. A mania de perfeição é outra característica que pode ser considerada doentia e resulta certamente em prejuízo à formação dos indivíduos. Por outro lado, são igualmente nocivas: a indiferença, a rejeição, as desqualificações (chacotas, escárnios, gozações).
Por todos estes motivos, não devem ser proferidas frases deste jaez: “qualquer idiota faria melhor que você”; “homem que é homem não chora”; “não seja fraco”; “você é burro”; “seja perfeito”; “faça como seu irmão; ele, sim, é legal”; “está sonhando alto demais”; "só gosto de você quando é obediente”. E assim por diante...
A seu turno, os pais e responsáveis devem imprimir, clara e objetivamente, certos limites e regras fáceis e simples de serem cumpridas, desde a mais tenra idade. Não se pode deixar uma criança agir de forma totalmente desregrada e livre, sem qualquer fronteira. Inúmeros livros já foram escritos sobre o assunto, com títulos assemelhados a “Limites na medida certa”, “Colocando regras, com afeto”; ou, “Seu filho precisa conhecer as regras do jogo da vida”. Outro aspecto é a coerência entre palavras e atitudes. Não é possível conciliar uma regra enunciada verbalmente com uma atitude oposta. Por exemplo, afirmar o acerto de hábitos de higiene e, depois, deixar objetos pelo chão, não recolher roupas sujas, ou “varrer o pó para debaixo dos tapetes”...
Agora, outra questão de suma importância. Para que o desenvolvimento das crianças ocorra de forma natural e saudável: é absolutamente necessário que elas se entreguem, em grande parte de seu tempo ativo, às brincadeiras próprias de sua idade, individual ou coletivamente. Os folguedos coletivos proporcionam o relacionamento interpessoal, de ex-trema importância para a formação do caráter social do indivíduo. A livre expressão da alegria, própria das atividades lúdicas, é fundamental para a saudável formação da personalidade.
Desta forma, podemos compreender a importância de brincadeiras adequadas para cada faixa etária. Os brinquedos, até os seis meses de idade. devem ser relacionados ao tato, ao sentir os objetos em suas formas e texturas. Além do contato físico com as mãos, o contato visual, o gustativo, o olfativo, o auditivo, são de suma importância. A partir desta primeira fase, é preciso oferecer às crianças brinquedos com certas características: cores vivas, formas interessantes, sons refinados, aromas adequados. Após o primeiro ano de vida, o que ganha importância são os carrinhos, os bonecos que se movem e também a música – seqüência de sons harmônicos e melodiosos. Em seguida, vêm todos os objetos e ações que adestram a imaginação e despertam o senso de criatividade.
A criatividade é uma característica de imenso valor no contexto humano. Ela deve ser exercida de forma livre, sem qualquer limitação. Na infância, desempenha um papel de extrema importância na formação da personalidade. Assim, os pais e os professores devem ter o máximo cuidado para não bloquear a capacidade das crianças neste contexto. Eles precisam fornecer os elementos e devem permitir às crianças que descubram por si mesmas os procedimentos para chegar ao objetivo final: a satisfação, a alegria, o desenvolvimento do lúdico. Não é admissível que os adultos mostrem ou determinem às crianças a maneira como devem fazer as coisas. Isto tolhe a oportunidade que elas têm de exercitar a imaginação, a criatividade, a curiosidade, a enorme satisfação em descobrir, por si próprias, a melhor maneira de agir e brincar.
Outro fator que influencia a formação da personalidade é a movimentação física da criança, principalmente através dos esportes praticados por prazer, não por competição. A movimentação física saudável, prazerosa, melhora o estado geral do organismo, tanto físico quanto psicológico. O esporte propicia à criança, além do saudável prazer e alegria, o descobrimento de seus limites, suas reais capacidades. O esporte, praticado com sabedoria, sob a supervisão de profissionais competentes, proporciona o gradual desenvolvimento do indivíduo, a partir de tenra idade. Neste contexto, a criança consegue superar o medo, de qualquer espécie: de se machucar, de se enfrentar com outras crianças, do ridículo, de perder a competição. Assim, o esporte mostra o caminho da superação. Este processo proporciona um aprendizado de imenso valor, onde se encontram fracassos e sucessos, mas, com certeza, também a ampliação dos limites, da real capacidade, em todos os sentidos.
Assim, formado o embasamento sólido e saudável da personalidade, nos primeiros anos, pode o indivíduo, no decorrer de sua existência, ampliar suas capacidades e habilidades, enriquecer seu caráter, e, num processo permanente de desenvolvimento pessoal, experimentar uma vida plena de sentido e felicidade.
Do livro: "A Arte de Viver"