🔴 “Azevedou”
O jornalista Reinaldo Azevedo mudou. Na revista Veja, ele se destacava; quando criou o excelente ‘Os pingos nos is’ na Jovem Pan, eu migrei para o canal. Ele tinha opiniões peremptórias, justas e claras. Falava o que o brasileiro honesto tinha vontade de dizer e percebia essa conexão nas ruas. A operação “Lava Jato” descobria depois o que Reinaldo falava, e vice-versa.
Porém, a “Lava Jato” chegou nos segredos do jornalista. Quando interceptaram a ligação da imprensa com a política aconteceu a mágica: de repente, Reinaldo Azevedo virou a notícia e mudou. A afirmação propositalmente quer dizer que o ex-apresentador não mudou de opinião, mas, sabe-se lá o porquê, simplesmente mudou.
Para esse comportamento, o verbo adequado é o neologismo “azevedou”. O verbo é pejorativo, mas também é uma vergonhosa “homenagem” a quaisquer mudanças bruscas e inexplicáveis de opinião. O filme ‘O Poderoso Chefão’ mostra que uma “proposta irrecusável” pode ter sido feita.
Mudar de ideia é comum, pode ser até saudável, sinal de que houve alguma reflexão. Entretanto, essa guinada de 180°, esse “duplo twist carpado”, esse contorcionismo, esse “sambarilove” quer ser malandro, mas só sinaliza que, na mente do Reinaldo Azevedo, acontece uma dissonância cognitiva, na qual ele sabe que diz algo diferente da verdade.
Sobretudo jornalistas, mas em diversas áreas “azevedaram”. O que explica economistas e “farialimers” (neologismo que adjetiva os financistas da avenida Faria Lima em São Paulo) apoiarem Lula, que trocaria Paulo Guedes por Haddad. Isso só pode ser por interesses financeiros pessoais e intransferíveis.
Em resumo, qualquer debate ou opinião, quando com rabo preso, segue o caminho pavimentado e sinalizado por interesses particulares. E uma maneira de terceirizar esses anseios é a ameaça que “azeveda”.