ENARMONIA EM PERFEITA HARMONIA
Tenho observado que vivemos em uma realidade de multiversos. Cada indivíduo percebe o mundo ao seu redor de maneira única, o que faz com que não exista uma unanimidade coletiva, mas sim uma pluralidade enarmônica. Assim como na música, onde a enarmonia dá um colorido único, gerando sons que podem ser dissonantes, mas paradoxalmente harmônicos, o mesmo acontece na nossa convivência interpessoal.
Essas dissonâncias, tal como notas musicais que parecem não se encaixar à primeira vista, são o que tornam nossas interações humanas ricas e cheias de nuances. Em uma sociedade que busca a uniformidade, é fácil esquecer que são justamente essas pequenas "distorções" que trazem beleza à sinfonia da vida. Quando dois ou mais universos se encontram, não é necessário que todos sigam a mesma melodia; ao contrário, é na sobreposição de diferentes acordes que se cria uma nova harmonia, inesperada e única.
Quando, por acaso ou intencionalmente, nossos universos se interseccionam, podemos experimentar uma convergência e compartilhar aspectos de nossos mundos. É nesse encontro que a pluralidade enarmônica se revela, onde as diferenças não apenas coexistem, mas se complementam. Essa troca pode acontecer de forma apática, quase imperceptível, como uma nota que ressoa suavemente ao fundo, ou de forma consciente, como um acorde decidido e vibrante. Mas, ao retornarmos ao nosso lar, ao nosso espaço pessoal, nosso universo se torna novamente exclusivamente nosso. É algo que se aproxima do metafísico, pois é nesse espaço interior que a verdadeira essência de quem somos se manifesta.
Concluo, então, que cada um de nós vive e cultiva sua própria matriz. Essa matriz é como uma partitura individual, composta por nossas experiências, valores e percepções. Contudo, se não nos conhecemos plenamente, se não exploramos as camadas mais profundas de nosso ser, como podemos realmente harmonizar com os outros? É como tentar tocar uma música sem conhecer as notas: o resultado pode ser caótico, desorganizado. Flutuamos em uma atmosfera utópica, sem conseguir harmonizar as camadas que nos tornam seres únicos e incomparáveis.
A verdadeira conexão começa com o autoconhecimento e a aceitação da complexidade que nos faz únicos. Isso significa reconhecer nossas próprias dissonâncias internas e compreender que elas são parte essencial de nossa identidade. Só então podemos nos abrir verdadeiramente ao outro, aceitando suas notas, mesmo quando parecem desafinar em relação às nossas. O que para alguns pode soar como um desacordo, para outros, pode ser a base de uma nova harmonia, mais rica e complexa.
Essa enarmonia enriquece ainda mais tanto a música quanto as relações humanas, oferecendo uma visão mais profunda sobre como nossas diferenças podem coexistir de forma harmoniosa, apesar das dissonâncias. É no equilíbrio delicado entre a aceitação das nossas singularidades e a abertura para o outro que construímos uma sociedade verdadeiramente enarmônica. E talvez seja esse o grande desafio e a maior beleza de viver em um multiverso: encontrar, na cacofonia do dia a dia, as melodias que nos unem e nos tornam parte de uma mesma sinfonia, onde cada nota, por mais singular que seja, tem seu lugar.
Quando aceitamos essa pluralidade enarmônica, percebemos que a harmonia não é a ausência de conflito, mas a capacidade de criar beleza a partir da diversidade. Cada interação, cada encontro de universos, é uma oportunidade de criar algo novo, algo que só pode existir porque somos diferentes. E é nesse espaço de diferença que a verdadeira magia acontece: a criação de uma harmonia que, apesar das dissonâncias, ressoa profundamente, tocando as notas mais essenciais de quem somos.