O afã literário de apanhar o efêmero, fantasias e significados
Cérebro - deus oculto e soberano dos deuses -
Teatreia mil enganos e novas versões projetadas nos rápidos vislumbres de óticas diversas e ilusórias, nas traduções infinitas da linguagem e no plano imaterial das sinapses.
Se referidos paradoxos, hipocrisias ou até sucinto entendimento, revivem-se apenas com discordâncias e críticas, que dirão dos súditos do onírico?
Se na liberdade sarcástica ou irônica da metalinguagem podemos aflorar estéticas, estilos, estruturas ou outro nome do alternativo e autêntico, esmiuçado até o motim do romantismo decadente, ceticismo, sã enlouquecimento, não seria a sorte de novo idioma que nos equilibra frente ao (i) mortal perigo da inércia, do tédio?
Nos desfios das linhas do fim aos traços do início, constroem-se caixas de pandora
Desfazem orações antigas,
Fábricas e aterros são a tendência espontânea dos polegares oponíveis.
E nas revoltas descosturas sobrepostas do tempo, eis tudo despido do esperado sentido. Parece não haver bordas, fronteiras para delimitação de limites, o símbolo que permite ingênua mas suficiente miragem da normalidade obrigatória está reduzido às cinzas. Pensando ao contrário, refazendo e borrando como impasse as pegadas e pontos de cada momento, a linearidade ou o que se espera do “conforto”, aparenta tremeluzir e em alguns instantes, desvanecer, perdido e deveras destoante de seu verdadeiro ou inexistente significado, entre os diversos véus fúteis de simbologias, metáforas meticulosas intencionalmente bem costuradas para proposital sensação de sanidade, onde no fim, para alguns que as rasgão, resplandece como impassivo prêmio macabro, a apresentação da loucura no espaço que deveria ser realmente coroado a consciência do inútil.
Destarte, o sentido da vida seria não ter sentido? Essas egocêntricas, complexas e primorosas explicações filosóficas e econômicas mais famigeradas entre as massas, não seriam apenas miradas narcisistas vazias para engrandecer a espécie humana com viés torpe e dissimulado? Focada para um consumismo e pequeno e longo prazo de retorno monetário? Como se nossa inteligência fosse a única digna de nota e todas as demais espécies, meras bases mais que irracionais - inanimados pedaços de carne - empilhadas na infinita cadeia de necessidades? A autodenominação do topo, trono, chegada não seria só outro nome para o disfarce da incompreensão da banalidade e incoerência do sentido humano dado à existência? Mas a ironia ou ingenuidade do pensamento, é informação que Eles já devem saber há tempos e utilizam a infinidade de truques psicológicos para ao menos contemplarem o vazio com os bolsos cheios?
Somos mais uma entre as milhares de variações inteligentes, míseros átomos no turbilhão incontável de outros, e se a natureza destinou relativo grau de compreensão a nossa experiência de busca e tradução, ser elo entre o abstrato e a matéria, a causa pode ser desígnio da criação ou falha da aparente busca de criar um representante mais inteligível, digo, essa corporação, como arcabouço de tudo o que foi e será, mais condensado e apto, pelos instrumentos da “racionalidade”, para ser porta-voz num momento de maior grandeza ou simplesmente ser um associado, unidade contínua, para monitoramento e equilíbrio concentrado e de rápida ação frente às realizações que referente invólucro fluido e liberto pode fazer com maior enfoque, dado materialização da arte e poder criativo que coabita e movimenta relativa espécie. Ou essa é apenas outra desculpa embelezada frente ao precipício do absurdo da existência?
(Pequeno texto de experimentação estilística, em namoro com conceitos do surrealismo, New Wave e Underground. Busquei traçar uma estrutura fragmentada para representar o caos da vida moderna, refletindo assim de maneira não-linear as questões existenciais e filosóficas abordadas.)