Estudos de Jaguaribe
O livro "Breve Ensaio sobre o Homem e outros estudos" de Hélio Jaguaribe traz os estudos filosóficos e os estudos sociológicos em ensaios literários. Nos estudos filosóficos, traz o autor breve ensaio sobre o homem, reflexões sobre duas verdades, substância e função, universalidade e razão ocidental, ateísmo transcendente, o irrelevante e o significativo, sucintas reflexões sobre o cristianismo, propostas helenísticas e demandas contemporâneas, humanismo na sociedade tecnológica de massas, e breve referência aos deuses gregos. Nos estudos sociológicos, aborda sobre sociedade e mundo dos princípios do século XXI, democracia e governança, breve reflexão sobre a situação e possibilidades contemporâneas da latinidade, processo histórico-cultural iberoamericano no projeto político, tempo histórico e integração da América do Sul, Argentina, Brasil e Venezuela, valorização da Amazônia e o que fazer com o Brasil. No ensaio breve sobre o homem, Jaguaribe conclui que o homem é um ser que busca sua própria felicidade como finalidade de sua espécie e também, é um ser transcendente , de que busca sentido de vida histórico, cultural e ético, ou seja, situar-se na sua época como protagonista da própria vida, de valor consciente de saber viver em sociedade e de preservar o próprio planeta. Isso é o que o homem confere a si mesmo. As duas verdades trata sobre as religiões do Cristianismo e do Maometismo, consideradas como reveladas e baseadas na razão da fé, mas que traz a problemática de absolutizar a verdade baseada em crenças. Substância e função é um caminho da visão substancialista da realidade que surgiu no Medievalismo, mas que da modernidade para os tempos de hoje, a realidade é vista com visão funcionalista do mundo. Em universalidade e razão ocidental, elucida que o universal busca esclarecer a controvérsia do último conceito e que o pensamento ocidental se resume no universo cósmico, antropológico e histórico. No ensaio "ateísmo transcendente", o autor com argumentos fortes, melhor que Dawkins, Higgs e Sagan, ataca os argumentos de Platão, Agostinho, Aquino (apesar de utilizá-lo para convencer racionalmente em alguns aspectos), Anselmo, e exaltando Hume, baseia-se que não tem como a razão humana conceber um Deus causal da realidade, porque o universo pode existir por si próprio, independente de um criador, sendo autossutentável pela teoria do Big Bang e Big Crunch, além de que o empirismo é a base maior para sustentar sua teoria. Ele aborda que o próprio homem que cria o conceito de transcendência da busca do sentido, e assim entende que o ser humano pode transcender por si próprio, independente da existência de Deus. O problema: segundo que eu penso (o Resenhista), que ele só considera o empirismo e e esquecendo o racionalismo transcendente de Kant, que chega a concluir Deus como possibilidade da própria razão humana em questão de necessidade da compreensão da causalidade da realidade, o que pode contrapor aos próprios argumentos que ele utiliza. Além de que o universo não precisa de significado, mas o homem, sim. Em termos semióticos, o autor não aborda a razão humana de que para todo significante (existência do Universo e toda sua realidade) precisa do seu significado (no caso, um Ser, um Ente, ou uma Força Absoluta que estruture a própria realidade e lhe dê a devida causalidade, ainda que o universo seja cíclico e existente por si só, precisaria de Algo que o significasse independente do ser humano). No ensaio sobre o irrelevante e o significativo, considerando Deus inexistente, o ser humano que significa o que tudo existe em última análise e o irrelevante é pensar se existe alma imortal. Em sucintas reflexões sobre o cristianismo, o autor acredita que o sucesso da religião no mundo foi considerar sua estrutura teórica monoteísta, apesar do dogma da Santíssima Trindade, e colocar Cristo como humano e divino ao mesmo tempo, o que faz o homem assemelhar Deus a si próprio. Nas propostas helenísticas e demandas contemporâneas, a sociedade faz suas próprias medidas baseadas no estoicismo e no epicurismo, que são adaptados conforme o tempo e de acordo com as necessidades humanas. E o humanismo na sociedade tenológica de massas desenvolve sua finalidade como precedente E em relação aos deuses gregos, é uma elegia que o autor Jaguaribe de adorar a Grécia com toda sua mitologia Nos ensaios sociológicos, Jaguaribe fala dos problemas da sociedade brasileira frente ao que o século XXI apresenta em relação ao medo do terrorismo e dos imigrantes, o exagero das premissas do neoliberalismo para a economia global continuar a dar certo. Em democracia e governança, mostra dificuldade de se governar grandes massas com o espírito ideal democrático, deixando patente que a democracia representativa deixa espaço para um oligopólio governamental, que as elites tomam conta do país com seus lobbyes e interesses. Sobre a possibilidade da latinidade, discute o estudo da validade da cultura latina diante da cultura americana e europeia que se difunde para o resto do mundo, o que exige aprofundar valores dos povos latinos nos seus países e como influenciam o mundo com seus valores e cultura. O estudo iberoamericano busca diferenciar aspectos culturais do conjunto dos países europeus (Espanha e Portugal) com os países da América Latina, onde se fala mais espanhol e português no referido continente. Quando aborda sobre Brasil, Argentina e Venezuela, considera a possibilidade de viabilizar a Comunidade Sul Americana de Nações no sentido operacional. Ao abordar sobre o valor da Amazônia, o autor está preocupado com a catástrofe ecológica e como a floresta amazônica é tão importante para o Brasil, América do Sul e o mundo. E no último ensaio, falando sobre o Brasil, o autor acredita que o Brasil tem grandes potencialidades, mas a sociedade brasileira precisa fazer a devida recuperação da ética, senão o país não tem como se desenvolver. O livro é muito bom, apesar de eu discordar sobre os argumentos ateístas do autor. Ele aborda vários assuntos e temas com propriedade, didática e devido conhecimento de causa. Falecido, foi um dos ocupantes da Academia Brasileira de Letras de Cadeira 11. Foi escritor, advogado, sociólogo, cientista político e filósofo. Lecionou na Universidade de Havard, Universidade de Stanford e em MIT (Massachussets). Merecidamente, um intelectual completo.