Quando é o Agora?
 

O tempo é concebido como a linha eterna, contínua e ininterrupta, de instantes consecutivos, composta de três grandes momentos: passado, presente e futuro. Os instantes já vividos representam o passado; os não vividos ainda formam o futuro e, o que estamos vivenciando Agora, chamamos de “presente”.
 

Este último é o que mais intriga! Como atribuir uma medida de tempo ao instante “presente”, o “Agora”? Seria ele o dia de hoje, ou a hora, ou o minuto, ou o segundo que agora passa? Se o minuto atual é o “presente”, então, na mesma hora temos instantes (minutos) passados e futuros; se o segundo, o “tic-tac” do relógio que agora ouvimos, é o “presente”, então, no mesmo minuto temos instantes (segundos) passados e futuros. Divida o segundo, o décimo de segundo, o centésimo, o milésimo de segundo e assim indefinidamente.
 

Que coisa incrível! Parece que a cada divisão do que quer que concebamos como sendo o momento “presente”, nunca deixará de haver passado e futuro, restando sempre um novo “agora” a ser novamente dividido entre passado e futuro, não importa quão ínfima a dimensão de tempo considerada como “agora”! Onde está então o “presente”? Como medi-lo, se ele escapa à nossa percepção sempre que o tentamos encontrar?


Se, ao dividir o agora, indefinidamente, em instantes cada vez menores, só deparamos com o passado e o futuro, então, o “agora” não se encontra na linha do tempo: ele se dissolve no Infinito...e com ele se confunde. O “presente” é um instante infinito! Mas não infinito como um tempo incalculavelmente imenso, ou infinito como uma fração incalculavelmente diminuta do tempo. Se o “presente” é infinito, não pode ser “imensidão” nem “fração", não pode ser “grande” ou “pequeno”; se é infinito, não tem dimensão. podem produzir existência. O que acontece e tem existência brota do “presente sem tempo”, e, através de um processo “simbiótico”, que ocorre na intersecção entre a dimensão do tempo e a do não tempo, impregna-se em nossa memória imediata, tornando, assim, a existência perceptível aos nossos sentidos. Portanto, o que ouvimos do som, enxergamos da imagem, percebemos no tato, olfato e paladar, é apenas a sua memória. O evento, em si, derramou-se da dimensão atemporal do presente infinito para a dimensão temporal do passado, deixando sua impressão em nossos sentidos através da memória imediata.
 

O presente, o Agora infinito é uma dimensão sem tempo! É o portal, entre o passado e o futuro, que vibra entre o tempo e o não tempo para produzir, a cada vibração, a totalidade da existência material e imaterial que jorra, alternadamente, nesse processo vibratório, ora para a dimensão atemporal ora para a dimensão temporal, num fluxo e contrafluxo que, aos nossos sentidos se mostra como um fenômeno contínuo - tal como a dinâmica da vida - ou permanente e imutável - tal como a matéria. 
 

Mas, a matéria e a energia, como nosso próprio corpo, renovam-se a cada manifestação vibratória quântica do “presente infinito”, dando origem aos ciclos evolutivos de nascimento, desenvolvimento, envelhecimento e morte, a que toda a existência está sujeita. Este processo cíclico se dá através de saltos quânticos, não contínuos, entre o tempo e o não tempo, não perceptíveis aos nossos sentidos.


O “presente infinito” é a morada de Deus, do Criador, cuja Criação, se à nossa percepção é contínua, cumulativa e plástica, em sua manifestação ocorre a cada vibração do Universo, entre o tempo e o não tempo, em sua totalidade, apresentando-se como uma nova Criatura, mais consciente, a cada novo movimento vibratório infinitesimal e imperceptível.
 

A expansão e retração do universo, a “Respiração de Brahma” – pralaya (repouso) e manvantara (atividade), segundo a tradição teosófica - que ocorre macro cosmicamente, se reproduz no microcosmo, como a vibração ininterrupta e renovadora do plano da matéria e da energia, pulsando entre o tempo e o não tempo.
Para penetrar o “presente”, a Morada de Deus, é necessário viver conscientemente (com a atenção em) nossos pensamentos, sentimentos e sensações (“vigilância dos sentidos”), pois eles ocorrem no Agora, na intersecção entre o tempo e o não tempo.

 

Com afinco, nossa consciência, focada em nós mesmos, em nosso interior, pode deslizar pela borda do tempo para o abismo do não tempo, onde poderemos encontrar a Consciência Cósmica Universal!

 

O êxtase que vivemos quando isto ocorre, embora se dê no mundo das emoções (ego), é o reflexo de uma união atemporal com o mundo espiritual.