DANÇA DO CATIRA - HISTÓRIA E ORIGEM

Meu saudoso pai,Antonio Pedro de Alcantara,carreiro de boi desde jovem,sendo que aos 12 anos de idade já era candeeiro,um aficcionado pelo trabalho rural(capina de roça,colheita,engenho de cana,tirador de leite e,por conseguinte,envolvido com a lida com o gado).

Ainda moço,enveredou pelos caminhos de boiadeiro.até se tornar um deles,comprando,formando boiadas e saindo vendendo mundo afora.Era um apaixonado pelo cavalo e adorava cavalgar uma mula ruana e sabia bem praticar essa arte de montaria.

Montou a sua equipe e se tornou um tocador de boiadas,onde vendia aqui ali e acolá.Saia com os seus animais-l.000,800,etc) e ficava meses fora de casa e só voltava quando terminava de vender o último animal.

A equipe era composta por ele o dono,tres ou quatro companheiros tocadores, dois ou três ponteiros que iam à frente da boiada e o cozinheiro.A tropa onde iam todos montados era equivalente,além dos animais sobressalentes para revesamento e evitar cansaços ou fadigas.

O cozinheiro tinha o seu cavalo mestre(e outro para revesamento) onde iam todos os equipamentos da cozinha(Panelas,colheres,garfos,facas,cuias e bacias,etc....) e os caixotes(dois)colocados na cangalha sobre o cavalo,um de cada lado,onde iam os mantimentos (charques,feijão,arroz,cebnola,termperos,etc...),.

Saindo em marcha,o cozinheiro era o primeiro a sair,Ele andava na frente de todos,com uma ou mais horas adiantado,pois,era ele que primeiro chegava nos pontos pre-estabelecidos para paradas,pois se encarregava de fazer o alomoço para quando a turma chagasse,a comida ja devia estar pronta.Terminada a refeição,enquanto a turma fazia o "quilo",ele lavava tudo ali no córrego ou rego dágua,arrrumava nas caixas,se ajeitava e saia em seguida,pois o ritual era sempre o mesmo.

Todos os componentes tinham os seus instrumentos.Capa para se protejer da chuva e também para se cobrir à noite ao dormir,chapeu,botas,garrucha,revólver ou espingarda,rei ou pinhola e o dono da boiada,no caso o meu pai,tinha,também, na cintura,a goiaca onde ele carregava o dinheiro.Ele sempre tinha no pescoço um lenço,que era para dar imponência e diferenciação.

No roteiro pre estabelecido.paravam para o almoço e para o jantar que era sempre no ponto de pernoite,sempre em alguma fazenda que cedia espaço para alojamento dos trabalhadores e pasto para o gado e a tropa.Eram fazendas certas,pois nem todos os fazendeiros gostavam de prestar esse tipo de serviço.Cedia espaço em barracões ou mesmo nas cocheiras para a cozinha e dormida.Jantavam,ficavam por ali papeando(proseando),pitando um cigarro sempre de palha,bebendo um café e se preparando para dormir.

No grupo não tinha mulher.Estas ficavam sempre em casa,por isso se dizia que mulher era peça de casa.Fazia parte do grupo,sempre,um violeiro que carregava a sua viola(ou violão) que tocava,cantava e fazia animação do ambiente. e ai pintava a vontade de dançar.Eis o problema.Homem com homem, nem pensar,dava choque, como se dizia,Era comum alguém sair dançando sozinho ali pelo meio da turma.E ai,alguém teve a ideia.Dançar todos juntos,em grupo,mas sem se tocarem.Era cada um por si.Um tocava e todos dançavam.

Como na maioria das vezes o instrumento de som era a viola,vinha as modas de viola,com o seu ritimo peculiar,batidas fortes e letras interessantes até picantes.dando uma grande animação ao grupo.

Esse grupo foi se organizando,comum em todos os grupos de boiadeiros, até que se organizou o grupo e formatou a dança do catira.Catira é uma típica dança de boiadeiros,com seus passos apropriados acompanhando a melodia da moda,passos mais lentos,sapateados apropriados em momentos certos da música e,por estarem de botas,em tablados de paiois,barracões ou varandas,todos dançavam,matavam a saudade lembrando das namoradas ou esposas,e o tempo passava,todos se divertiam e por volta das 8 horas da noite todos já estariam dormindo para,no outro dia,começarem cedo por volta das 4 horas da manhã,juntar o gado(a boiada),tomarem o café e sair em caminhada.

Então, a dança do catira,surgiu de uma necessidade física e cultural,respeitando a individualidade de cada um,a maculinidade e as tradições do respeito.Ninguém ousava em se manifestar uma diversidade de gênero.Boiadeiro era coisa de homem, cabra macho.Ai de quem se enveredasse por habitos não otodoxos,comuns e apropiados.

Os boiadeiros tinham as suas regras,os seus costumes,suas tradições e os seus valores.Catira é uma dança rural e faz parte de nossa história cultural,a goiaca perdeu o seu espaço,o berrante,instrumento importante nos objetos de viagem, era com ele, o berrante,que se juntava o gado que atendia o seu chamamento através dos seus ritmos apropriados.No grupo tinha o berrantista.

Ao longo do dia,uma ou duas vezes,contava-se o gado.Essa contagem era feita em uma passagem estreita,ou numa porteira.O contador era um especialista,pois,era coisa rápida,com o gado em movimento,tinha os seus métodos e segredos.Se contados e estivessem certo,seguia-se a viagem normalmente.e se houvesse faltas,procedia-se uma nova contagem e se confirmada a falta,havia,então ficado reses de "Arribada" e era preciso,então,algúem voltar para procurar até encontrar.Procurava-se em pontos de aguadas(onde o gado bebia água),meio à vegetação mais adensada ao lado das estradas,aqui,ali ou acolá,mas tinha que encontrar.Se demorasse,vinha mais ajudante para reforço.Era uma tarefa dificil,mas acontecia quase sempre.

O nosso famoso feijão tropeiro é oriundo dessa época.Não havia geladeira.A carne era a seca ou chargue.O toucinho era salgado para ficar em conserva.Picava-se o toucinho,fritava,tirava-se o terresmo e a gordura(a banha).Nela punha-se o alho,a cebola e demais tempeiros que houvessem.Refogava-se o feijão,misturava nele os torresmos e mais algum pedaço de linguiça,adicionava-se a farinha e sal.Estava ´pronto para servir e comer.Era gostoso,p´ratico,rico e nutritivo,ingredientes que o homem trabalhador daquela lida,precisava.

Observa-se que desse tempo,desse trabalho e dessa época,muitas coisas seguiram-se em prática e hoje são relíquias que nos encantam e nos satisfaz.

O catira é uma dança linda e quando hoje é mostrada,nos deixa encantados,como hoje,vendo no tv,no programa Terra da Padroeira,vi uma dupla cantando um modão de viola e um grupo de oito(8) pessoas dançando o catira,em passos marcandos,bem ritimados e em belos sapateados em um tablado que ressoava muita beleza.Quanta saudade do meu finado pai que deixou uma bela família,a quem devo belos ensinamentos,uma educação caipira mas cheia de valores e o ensinamento de uma boa prática religiosa na igreja católica que sempre pratiquei,pratico e hei de continuar praticando até à morte.

Também,almocei um bom feijão tropeiro,bem gorduroso,torresmos de linguiças,com um bom molho apimentado de caldo de feijão.Que delícia!!!!!

Estou "morrendo"de saudades do meu querido pai e dois foram os motivos que ilustraram minhas lembranças.

Quanta saudade!!!!!Que Deus o tenha,mas fica comigo a lembrança dos seus feitos e costumes.

Parabéns,meu pai!!!!!!

Onassis
Enviado por Onassis em 24/01/2021
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