DOS CAMINHOS SENSORIAIS DA EMOÇÃO

“O SENTIR

Tudo que provém da emoção pode suscitar Poesia. O poema é ágil órgão da enigmática vertente do mistério.”, publicado no Facebook, em 05/08/2020.

Joaquim Moncks.

“Sempre foi assim que entendi o poema e sempre foi sob muita emoção que brotou o pouco que produzi.”, via interlocução pelo Facebook, em 06/08/2020.

Ligia Lacerda.

Poetamiga Ligia Lacerda, mimosa flor antiga no meu coração dedicado à Poesia! Atento à tua sintética e complexa interlocução, deixo aqui uma proposta de entendimento do processo. Quanto aos caminhos sensoriais percorridos pela emoção, uma etapa ou situação é a emissão ou o efeito de suscitar POESIA. Outra (bem diversa) é a constatação de sua materialidade escritural – o organismo verbal que a corporifica e/ou a traduz, ao qual denominamos POEMA. O difícil é efetivar esse ato de “transpassar a Poesia” para um conjunto verbal rítmico e de alto requinte quanto ao imaginário plástico e estético, de modo a que este seja efetivamente capaz de comunicar o que foi sentido pelo poeta-autor e que obterá ou não, quando da circulação do poema, uma positiva e gozosa recepção da peça pelo poeta-leitor. Atentemos que é este último o agente que permite que o poema exista, enquanto sugestão ou proposta estética e a partir de (sua) singela e peculiar COMOÇÃO – e circule a obra poética em pauta, vivificada no universo da realidade. O poema adquiriu, nestes quase cinco mil anos de letramento, regras quanto à apresentação formal e técnicas advindas da experimentação deste humano ser diferenciado de seus congêneres, o agente cultural e político que mexe e se debruça sobre a emoção, tentando traduzir a vida através da expressão poética, ao qual identificamos como POETA. Participam da elaboração do poema como peça de arte escrita, portanto, a emoção e a razão. O emocional gera a fagulha ou a “centelha de inspiração”, pontual no cadinho ardente de criação para a colheita dos primeiros elementos verbais e, após ou concomitantemente, a fim de que, no segundo momento de criação/recriação, ao revisar a garatuja original, possa a intelecção assentada no racional, vir a dar a forma ou o formato definitivo ao poema, unindo, num todo único, a intitulação e o conteúdo do conjunto textual, exprimindo, poeticamente, as ideias e pensamentos que levaram o poeta-autor à elaboração do poema, tanto como poeta-possesso ou como poeta-artífice. A esse segundo momento procuro chamar de “transpiração”. É o sucesso dessa empreitada de "transposição para o plano do real" que identificará o bom e o mau poema, ao mesmo tempo que a obra feita diferenciará o poeta do poetastro. É desse itinerário complicado e longo quanto à duração, encadeando ideias, ritmo e imagens capazes de impressionar o espiritual de quem lê ou ouve, que poderá advir a IMORTALIDADE LITERÁRIA, em regra após ocorrer a morte do autor da peça. Em poética, é muito comum que se consiga postergar o talento através de poucos poemas, ou por vezes, numa única e fatal peça que passa a ser associada ao nome de seu autor, perpassando reiteradas gerações.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02. Obra inédita, 2015/20.

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